sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Cher père Noël

Cher père Noël,

Eu ia escrever essa cartinha em polonortês, mas pensei bem e decidi fazer em francês mesmo, porque assim você vai treinando a língua para não fazer mais bobagens como a do ano passado, lembra? Eu enviei uma carta caprichada contando o meu comportamento exemplar, as boas ações, as notas na escola e até o dia em que dividi meu sorvete de chocolate com a minha irmã mais nova, que aliás não merecia nem um pouco, aquela pirralha chata. E no fim, pra provar como sou um bom garoto, pedi um único presente, pra me esquentar no inverno: um tecido de lã pra cobrir o cou. Acontece que você me trouxe um pano pra tapar o cul.

Putain, père Noël, t’es vraiment con! Cachecol não tem nada a ver com cueca. O cou fica em cima. O que fica em baixo é o cul.

Como você vem à França há tantos séculos, imaginei que já soubesse falar nossa língua, na qual foram escritos vários clássicos da literatura, do cinema, do teatro e da música ruim. Mas, não, você prefere se comunicar em inglês, né? Você não passa é de um subproduto da Coca-Cola, um emissário do Tio Sam, um assecla do Mickey Mouse.

E se você pensa que essa é a carta de um menino mimado de classe média que está esperneando porque não ganhou presente, devo dizer que você está totalmente certo, coroa. O que você não sabe é que eu, Jean-Pierre, 7 anos, não estou sozinho, e escrevo esta na condição de presidente da associação Vítimas Enganadas e Lesadas pelo Homem da Barba Branca, a VELHO Barbaca.

A VELHO Barbaca é composta por mim, pelo meu irmão mais velho que está fazendo musculação e pelo Jacques Dupont, nosso vizinho, para quem você tem dado uma caixa de frutas cristalizadas todos natais, todos os anos. O Jacques Dupont detesta frutas cristalizadas (aliás, quem é que gosta?). Ele já te enviou não sei quantas cartas, pedindo candidamente para ganhar outra coisa. E você, o que fez? Ignorou os apelos do pobre coitado. Ou então não entendeu o que ele escreveu, o que não me surpreenderia nem um pouco.

Fique sabendo, père Noël, que estamos organizando uma manifestação para a noite do dia 24 de dezembro. Mandamos pintar faixas com slogans contra você (e contra o presidente Sarkozy, para conseguirmos mais adesões) e já temos até uma palavra de ordem:

“Père Noël, bonzinho uma ova!
Se eu te encontrar acabo dando aquela sova”

Fica ligado! Ou o meu irmão vai dar um jeito de moldar um biquinho francês na sua boca.

Des bisous!

Jean-Pierre

6 comentários:

Papi disse...

Meu filho, lendo sua crônica ("post" é coisa de Tio Sam, Mickey Mouse e Obama) me ocorreu que já devia ter dito uma coisa importante para você: Papai Noel -- ou père Noël -- não existe! Não era ele que lhe dava presentes no Natal, e sim sua mãe e eu. Era pra ter falado isso quando você tinha sete anos, na mesma época em que contei que o Flamengo não joga sempre aquilo que jogou contra o Liverpool em Tokio, que Zico ia pro Lar dos Velhinhos, Júnior pra TV Globo etc. Que, enfim, era melhor ficar Fluminense (isso eu falei). Quanto ao Papai Noel, me distraí mesmo...

Mami disse...

Daniel, como sempre, espirituoso. Ri muito com a sua crônica. Espero muito que Loulou não fique ganhando presentes tipo frutas cristalizadas.....
Beijos,
Mami

Tania Ziert Baião disse...

Hilário! Perfeito!!!

Anônimo disse...

Muito bom Daniel, mas dessa vez ficarei do lado do papai noel.

certa vez me fantasiei de papai o noel (há muito tempo atrás) e os filhos do Georges me derrubaram no chão, arrancaram o travesseiro da barriga e puxaram a barba postiça, uma humilhação sem precedentes. Vida de papai noel não é nada fácil... é de ficar de saco dheio!

abs
Pedro

Adriana disse...

Daniel,
Aguardo ansiosamente todas as semanas para ler mais uma crônica sua!
Já li todas e confesso que fiquei até triste quando acabei o "estoque".
Parabéns! Parabéns!
E Feliz 2012!
Abraços,
Adriana

Anônimo disse...

haha..mto bons seus textos.