sexta-feira, 15 de julho de 2011

J'aime rien

Há algo muito importante que você precisa aprender sobre os parisienses: eles te detestam. Eles não te conhecem e te odeiam. Nunca te viram e já não suportam a sua presença. Mas, acredite, esse ódio, apesar de real, não é pessoal (esse é um privilégio concedido a poucos, como ao atual casal presidencial e às pessoas que estão a menos de 200 quilômetros deles).

Vou tentar explicar alguns elementos dessa falta de apreço do parisiense por tudo o que se move e não é o seu cachorro.

Bufada
Categoria: manifestação não-verbal de ódio

A bufada é a mais clássica demonstração de irritação do parisiense. Mas é mais do que isso: é também o último refúgio da eterna insatisfação francesa, da vontade que eles têm de vez em quando – tipo umas 12 vezes por dia – de mandar tudo pros ares e fazer uma revolução. É o que sobrou depois que se tornou meio indelicado pendurar o sujeito em uma forca ou guilhotiná-lo em praça pública. Malditos tempos monótonos, onde não se pode nem mais descer tranquilamente a lâmina no pescoço alheio.

Putain!
Categoria: manifestação verbal de ódio

Putain significa puta merda. Em Paris você vai escutá-lo ao menos 337 vezes por dia. Se um parisiense está aborrecido, ele diz “putain”. Se um parisiense dá uma topada com o joelho, ele diz “putain”. Se um parisiense pisa num cocô de cachorro de um outro parisiense, ele diz “putain”. Se está frio, ele diz “putain”. Se faz calor, ele diz “putain”. Se você ousa abordar um parisiense, tirando-o de suas complicadas elocubrações mentais, para lhe perguntar alguma coisa que não esteja à altura de sua genialidade, ele pode até não dizer “putain”, mas certamente vai pensar. E depois vai bufar.

Vizinhos   
Categoria: objeto (relativo) de desprezo

O verdadeiro parisiense nunca se dirige aos seus vizinhos quando pegam o mesmo elevador. Mas se por acaso se encontram em um bar do outro lado da cidade, são capazes de conversar por horas a fio, falando mal dos outros vizinhos. No dia seguinte, no elevador, o amigo da véspera volta à condição de semi desconhecido. Condição que dura até o próximo encontro fortuito em um bar bem distante, porque esse da esquina é mal frequentado, tá cheio de vizinhos.

Turistas
Categoria: objeto de ódio extremo

Só tem uma coisa que o parisiense odeia mais do que você, o vizinho ou qualquer outro parisiense: o turista. Se você for um destes, a sua única opção é freqüentar lugares nos quais dificilmente os locais põem os pés, como a torre Eiffel ou o Louvre (evite os McDonald’s ou a Eurodisney, sempre entupidos de nativos).

Bom, pra não ser injusto, preciso admtir que o parisiense adora Paris, com seus restaurantes, sua vida cultural, seus cafés com mesas na varanda, seus parques e tudo mais o que há.

Não é exagero dizer que o parisiense ama sua cidade.

Ele só detesta todo mundo que mora nela.

11 comentários:

jana disse...

Hahaha!
Adorei!!
Moro em Nice, onde as pessoas são, em geral, mais tranquilas, mas devo dizer que bufam e dizem putain o tempo todo tb!!
Bom, eu animo um blog sobre essa vida niçoise e me faria muito prazer se pudesse fazer uma visita:
aprender francês
Voilà!
Abraços

Amanda disse...

hahaha!
Acho que nem de Paris eles gostam. Tem metrô lotado, trânsito...
Uma vez uma parisiense estava reclamando disso e eu achei que ela estava citando a música do Thomas Dutronc (que, segundo ela, nunca tinha ouvido).

Le ciel est gris
Les gens aigris
Je suis pressé
Je suis stressé

J'aime plus Paris
On court partout, ça m'ennuie...


Abraço,
Amanda

GallÔôÔôÔô disse...

Eu sempre disse isso. Paris só tem um defeito: os parisienses.
Te contei das patadas que levei da última vez aí, né? Uma que dói nas costelas só de lembrar:
Eu, perguntando pra um ser que estava do lado de um terminal de internet: Com licença, você sabe qual a duração da navegação se eu colocar 1 euro?
E ele responde, delicado como um hipopótamo no cio: Como eu vou saber? Eu estou fora da máquina, não dentro dela.

É ou não é totalmente excelente???

Mesmo assim, sou facinha pra ir praí ver vocês de novo! ;)

Besos nos três.

Anônimo disse...

Muito legal, kkkkkk.

Um amigo meu uma vez na estação de Lyon perguntou a uma senhora que estava passando uma informação para tomar ônibus e ela disse: mais monsieur c'est tout écrit partout!

Isa disse...

Hahahaha! Bom saber!
Faço francês e espero, em breve, conhecer Paris :) Já irei avisada agora! :)
Abraços!

Sue Ellen disse...

Excelente, como sempre! hahaha

Mari disse...

Dani, mesmo em passagem relâmpago por Paris há quase dois anos, senti na pele a falta de educação dos conterrâneos da Loulou. Lembro-me que, entrando no metrô com a Gabriela no colo, avistei o último assento disponível e que estava a menos de um metro de distância de nós, sem ninguém na nossa frente. Chegar lá, sentar e relaxar era uma questão poucos passos. Surpreendentemente, fomos atropeladas por uma mulher (possivelmente, uma parisiense) que, após passar por cima da gente, sentou naquele assento como se aquela atitude fosse normal. Fiquei chocada. Felizmente, para meu alívio, dias depois, em Roma, no metrô lotado, um senhor se levantou e cedeu o assento para a Mami que estava com a Gabriela no colo. Agradeci a Deus por estar na Itália.
Bom, Dani, cuide para que a Loulou não fique rabugenta! Essa é a sua mais importante missão em terras francesas.

Beijos!

Camila Santos disse...

Eu não acho os franceses rabugentos, muito pelo contrário, pois fiz ótimos amigos na França. O problema é que o parisiense, esse sim, não é muito simpático. Aí acaba que o resto do povo paga pela fama destes.

Mari disse...

Só para esclarecer o que já estava bem claro: eu falei dos parisienses e não de todos os franceses! E, até onde eu sei, o texto falava dos parisienses. É ou não é?

jamalak disse...

Putain de post de merde! Pffffffffffff. ;-)

Maria Lucia disse...

Eu amo Paris e nunca fui maltratada por um parisiense, mesmo pedindo informações! Ok, que sempre falei em francês, talvez isso ajude, acrescido sempre de um bonjour, si vous plait, merci etc, as regras socias de etiqueta são realmente essencias lá e eu também não gosto muito dessa proximidade com muita gente.... Já na Itália, talvez pela proximidade do sangue (calabrês ) e da lingua, já discuti, mas briga de italiano não dura muito....