quinta-feira, 7 de junho de 2007

O filme que Fellini não fez


Recebi de uma amiga uma missão muito esquisita.

- Será que dá pra você comprar 10 miniaturas da Torre Eiffel pra mim? Daquela que acende e fica piscando. E não paga mais do que 3 euros em cada uma, viu?
- Pra que você quer 10 miniaturas da Torre Eiffel?


Não entendi bem o sentido da encomenda. Essas miniaturas são feias e sem graça. E, quando acende as luzes, fica ainda pior.

Mas já que topei fazer, aproveitei a vinda de uns amigos a Paris e fomos visitar a verdadeira Torre Eiffel. Lá, procurei um camelô ("camelô" não parece uma palavra francesa?) que vendesse o artefato. Encontrei um, que julguei ser paquistanês.

- Bonjour, monsieur.
- Bonjour.
- Quanto custa uma dessas?
- 7 euros.
- Tá caro.
- 6, só pra você.
- Não pago.
- 5, pra levar agora e virar freguês.


É incrível como papo de camelô é igual em todo lugar. Como é que eu vou virar freguês dele? Eu não costumo precisar de miniaturas como essas de forma muito freqüente.

- É o seguinte: eu pago 3 euros, mas quero 10 unidades.
- E pra que você quer 10 miniaturas da Torre Eiffel?


O cara olhou de lado, fez bico, coçou a cabeça e, por fim, chamou uns amigos que estavam por perto, tentando empurrar uns postais da Mona Lisa pra turistas endinheirados. Alguns desses postais eram meras reproduções do quadro. Outros, diferentes. O melhor era um dela com a língua de fora e olho arregalado, tipo Einstein.

Os ambulantes começaram a conversar. Enquanto o nosso novo brother explicava alguma coisa, os outros olhavam pra gente com uma cara muito estranha, provavelmente não acreditando que alguém podia pechinchar ali. Logo ali, um dos templos mundiais do turismo e do consumismo.

- D'accord. 10 torres por 30 euros.


Ele abriu a sacola. Só tinha 6 unidades. Chamou um outro, que tinha mais duas. E logo apareceu mais um com as que faltavam. Eu não tinha reparado, mas eles estavam juntos.

O sujeito me entregou todas, com uma cara não muito contente. Rapelamos o estoque de miniaturas da redondeza. Satisfeito, peguei o pacote e saímos andando. Um pouco atrás vieram dois amigos do nosso vendedor, no mesmo passo.

- Acho que eles estão seguindo a gente, alguém disse.

Paramos. Eles pararam. Fomos pro gramado. Eles foram.

- Será que querem as torres de volta?


Demos meia volta. Eles também voltaram e passaram mandando um beijinho. As caras deles, que já não eram as mais simpáticas, ficaram meio assustadoras.

O meu amigo sugeriu de montarmos rápido no primeiro táxi. Feito. Pedimos pro taxista se dirigir a Montparnasse e, só por segurança, subimos os vidros.

- Vocês são brasileiros, né?
- Como você sabe?
- Ninguém mais sobe os vidros aqui...


Aquilo tudo parecia muito surreal. A encomenda estranha, os paquistaneses, a negociação, a experiência genética Mona Lisa-Einstein, a perseguição, o beijinho. Já estava me perguntando se era real mesmo ou se eu imaginava tudo.

Minhas elocubrações foram interrompidas por outra questão do taxista.

- Sei que não é da minha conta. Mas pra que alguém precisa de 10 miniaturas da Torre Eiffel?
- Olha, eu também não sei. Mas depois de viver essa situação bizarra, eu acho que a minha amiga me deve pelo menos uma boa explicação. E bem real.

14 comentários:

Anônimo disse...

Dani, cuidado pra não ser preso comprando essas bugingangas por aí...pega muito mal!!! O pior é ser assaltado pelos próprios ambulantes querendo as torres de volta. Já disse pra você não confiar nesses franceses...hahahahah
Saudade!
Beijo grande,
Déia.

Anônimo disse...

Apesar de não nos conhecermos, temos amigas em comum em Brasilia (entre elas, a Constance Boutrolle). Um dia 'esbarrei' com o seu blog e desde então faço uma ronda por aqui... não se preocupe e nem se sinta vigiado. Não tenho nada a ver com a máfia do camelô nem taxistas... apenas me divirto com suas estórias!

Anônimo disse...

Grande Daniel!
Nem preciso dizer que já está devendo um post explicando o porquê desta encomenda...

Abraço!
Xandão
www.kilodrama.com.br

VALHA!!! disse...

Uma conhecida minha pagou 10 (DEZ) euros por uma dessas torres (de muito mau gosto, tenho que concordar) e, parece que a dela tinha a torre separada da base. A torre caiu, se espatifou toda, ela ficou morrendo de ódio do cameló (em francês =P), mas quando apareceu outro vendendo por 6 (uma pexinxa) ela comprou a mesma bugiganga e foi embora feliz e segurando a torre na base, como tinha que ser desde o início.

Anônimo disse...

Muito legal seu blog,parabéns - a idéia é ótima!
Sucesso!

Anônimo disse...

E por quê alguém precisa ler um blog como este, que só trata de questões irrelevantes como esta história rídicula de miniaturas?
Hirgh, e pensar que eu perdi meu tempo nessa história mais besta. Blog mais besta, sô...

Olímpio Cruz Neto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Olímpio Cruz Neto disse...

fala, daniel
seu site foi recomendado pelo noblat. tá chique, hein?
abraços,

olimpio

Barbarela disse...

Eu gostaria de entender porque as pessoas adoram souvenir esquisito? Miniaturas que piscam e chaveiros bizarros são exemplos de presentes de grego. Sinceramente, o que fazer com uma destas torres?

Quer presentear um amigo querido melhor mandar um postal. É romântico e sempre agrada!

Bjocas querido!
Bárbara

Unknown disse...

Fala jovem!!! Sempre com suas estórias inusitadas hehehe!! Agora eu quero ver vc voltar nesse camelô de novo, reclamando q só vieram 9 rsrs!

Abração!!!
Marcelo Cariello

Edilson Pantoja disse...

Gostei da história!

Bernardo Jurema disse...

grande daniel.
passando aqui só pra dar um alô e pra dizer que tenho acompanhado suas peripécias parisienses! aquele abraco- BJ

Anônimo disse...

Ah, não, Daney! Já que vc não contou o nome da santa, pelo menos conta por que ela pediu 10 miniaturas! Fiquei curiosa. Se eu tivesse lido este post antes, teria comprado 10 miniaturas da estátua da liberdade pra vc em NY heheheh BJIM

Satine Lefevre disse...

ra que alguem quer 10 miniaturas da Torre Eiffel?????
Genial Cherie...
A demain.
Bisou de Satine.