sábado, 21 de agosto de 2010

Teses musicais 3 - Hamilton de Holanda


A tese avança a passos galopantes, enquanto o verão caminha para o seu fim. Ainda tem um mês de calor, é verdade, mas a rentrée, a volta das férias, é daqui a duas semanas. Depois, vida normal. Enquanto isso, faço das minhas pausas escritos para compartilhar aqui, como esse.

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Las Abejas, de Hamilton de Holanda e Marco Pereira (clique no player abaixo para escutá-la)



O texto das teses musicais dessa semana deveria ter sido o que escrevi enquanto escutava a música acima, em frente ao rio mais frio em que já me banhei – ouvi dizerem que a água estava a 15ºC. Mas ontem à noite, quando já estava na cama, os vizinhos da casa ao lado, a única das redondezas além da que alugamos, onde nem celular pega, começaram a tocar e cantar música brasileira na varanda deles.

“C’est quand même curieux”, é realmente curioso que, enquanto faça um longo estudo sobre como os franceses, principalmente a imprensa, percebem a música brasileira, aconteça um episódio assim.

- Ôlha, ele diz “a lágrima clara sobre a pele escura”. C’est de la poésie. – Explica o cantor, francês mas falante de português com sotaque, a um francófono puro.

Tirando pela bandeira do Brasil que pendurou na janela, ele parece saber que a poesia da música brasileira não está apenas nas letras de Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso ou Noel Rosa. Ela está na sua origem, na mistura das culturas africana, indígena e portuguesa. No savoir-faire de reciclar as influências e transformá-las em algo com a nossa cara, como aconteceu com o choro, filho da polka.

Nos anos 20 e 30, Villa-Lobos mostrou um novo mundo sonoro aos conterrâneos de Napoleão. Mais tarde, nos anos 60 e 70, Baden Powell ajudou a consolidar de vez a música brasileira na terra de Debussy. E recentemente, no começo do milênio, Hamilton de Holanda catapultou sua carreira internacional a partir de uma temporada em Paris.

Os três fizeram de suas temporadas na França momentos cruciais em suas obras. Os três são os personagens da minha tese, que, escrita longe do meu país, me tem feito aprender tanto sobre como nós somos e como somos percebidos. O que, com um pouco de ufanismo confesso, me faz sentir um grande orgulho.

Um comentário:

Fred disse...

Tô adorando essas tesese musicais