sexta-feira, 20 de março de 2009

A quadra do Regão

Meus pais moram perto da escola na qual eu estudei durante toda a infância e parte da adolescência. Sempre que estou no Brasil eu passo em frente aos seus portões, pois ela fica no caminho para qualquer outro lugar que eu vá. E nesses momentos um inevitável turbilhão de memórias me vem à cabeça.

Quando se é moleque, a impressão é de que as coisas são bem maiores do que realmente são. Eu me lembro da primeira vez que eu vi a quadra recém-construída no Regão, o Centro de Ensino Rodolpho de Moraes Rego. Que depois virou Centro Educacional. E agora é apenas Colégio Moraes Rego.

Toda cimentada, “era poliesportiva”, diziam-nos. Aquilo me espantava duplamente. Pois além de ser enorme para os meus padõres de poucos palmos acima do chão, eu não fazia a menor idéia do significado de “poliesportiva”.

Depois da inauguração da quadra, a escola nunca mais foi a mesma. Ao bater o sinal do intervalo, hordas de pirralhos histéricos, eu incluso, saíam trombando uns com os outros na escada, para ver quem seria o primeiro a chegar e garantir a posse de tão precioso terreno. O vitorioso dava à sua turma o direito de ser a felizarda a comandar o certame do dia. A quem chegasse depois, só restava esperar a benevolência de uma possível convocação de última hora. Ou conformar-se a assistir ao jogo sentado em uma das arquibancadas de concreto.

Foi nessas arquibancadas que o Alessandro da 7a série quebrou o pé, ao chutar um dos degraus pra descontar a raiva de uma derrota. Ali eu passei vários momentos rindo das piadas do professor Márcio Ruiz, tão cobra que dava aula de inglês e redação. As mesmas arquibancadas ainda foram testemunhas, juntamente com mais 10 ou 11 felizardos, do meu mais genial lance no futebol. Um momento tão sublime que, se um olheiro passasse naquele momento, certamente me tomaria por sucessor do Pelé.

A bola veio pra mim na intermediária, quicando. Antes que batesse novamente na quadra, antecipei-me ao marcador e apliquei-lhe um chapéu. O segundo zagueiro, furioso pela humilhação imposta ao colega de time, veio para cima com tudo. Também ficou pra trás, vítima do mesmo drible. Naquele momento, ficamos só eu e o goleiro. E, como o maior dos artilheiros, fui implacável: coloquei a bola do canto direito. Indefensável. Lindo. Tal qual o Rei do futebol na Copa da Suécia. Naquele dia fui o comentário das aulas restantes. Acho que até as meninas olharam pra mim.

Mas nem só de glórias viveu aquele espaço. Eu me lembro muito bem do dia em que o Buff, quando ainda era conhecido por Luiz Guilherme, perdeu um gol sozinho, debaixo das traves vazias. Chutou tão forte e com tanta vontade que a bola passou por cima da cerca e caiu na rua do lado de fora da escola. Ficamos impedidos de retomar a disputa até que um bom samaritano parou o carro e nos jogou a pelota de volta. Como sempre acontecia.

A quadra era incansável. Palco de inesquecíveis peladas, virava nosso arraiá em uma noite fria de junho, quando as quadrilhas organizadas pelas séries tomavam (quase) de assalto o lugar. Ou em agosto, quando os pais atletas iam comemorar seu dia em uma manhã esportiva de sábado. Por diversos motivos, o fato é que passei grande parte do meu primeiro grau naquele espaço cercado. E feliz.

Saí do Regão em 1988, ao terminar a 8a série. Alguns anos depois, a quadra foi destruída. Virou um retorno de carros, afinal estava em área pública invadida. Eu até hoje evito virar ali. Sei lá, tenho medo de atropelar as minhas lembranças de infância.

17 comentários:

Anônimo disse...

"Nihil pas inocent au table-tenis au Balaiô Cafe", mon cher socien!!
(Pior do que essa tentativa aí bizarra de falar/escrever essa língua vc, meu mestre e sócio, domina com fluencia, inteligencia e elegancia, não existe mesmo, rapazola...)

Abração, compadre!

Natália Vaz disse...

Rapaz, e eu? Que trabalhei na escola na qual estudei? Era um tal de engolir seco o tempo todo que não resisti. A primeira proposta que apareceu pra eu sair de lá, peguei na hora!

Anônimo disse...

Daniel,
As lembranças da quadra são muitas, entre elas um pai vestido de Xuxa inibindo um pelezinho (o caso da época), ou do time de futebol formado por Pedro com amigos. Mas a foto está carente de uma Belina II branca, cheia de crianças que tia Zefa fazia questão de chamar um por um na saída...
Abraço do Pápi

Daniel Chuis disse...

Conheço muito essa quadra, morei na 706 sul bl. R em frente ao la salle, detran e casa thomas jeferson (saía de casa pra aula de inglês faltando 2 min..) e frequentava o campo de areia da 706/705, gigantesco, maior que as dunas de Genipabu... que eu me lembre... estive relembrando a quadra ano passado, quando tive que renovar minha carteira e fui ao Detran, na frente de casa. Grandes lembranças!!

Flor Falante disse...

Ai Dani, que bonito!

Lembranças tão delicadas assim jamais seriam atropeladas! Estarão lá, para sempre, naquele universo paralelo que chamamos coração...

Beijos, já muito saudosos, da sua amiga Flávia.
Beijos gigantes na Charlô!

Cristovao disse...

Ter medo de atropelar as lembranças foi uma das melhores frases que "eu criei" sabia?

Unknown disse...

Ah, se as quadras de escola falassem... e também os pátios! Nas eleições, voto na escola onde estudei até a 7ª série... entrar lá é voltar no tempo. Ai, ai...
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Ah! Tudo bem que as coisas já devem ter esfriado um pouco, mas de certo, ainda tem um ou outro narigudo que gosta de relembrar nosso(s) fiasco(s) na(s) copa(s) contra a seleção francesa. Quando isso acontecer, narre esse seu gol e diga que se vc estivesse lá, a história teria sido escrita de outra maneira!!! hehehehehe
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O livro sai quando, heim?!

Gabi Goulart Mora disse...

Serah que daqui a pouco vc vai estar nostalgico assim com suas primeiras descobertas em Paris? Seus textos trazem pra gente essa sensacao infantil deliciosa de desvendar cantinhos que parecem tao imensos... Beijos, estou adorando o blog!

Pri disse...

Também tenho muitas lembranças boas de lá... Dá até vontade de chorar =)

Unknown disse...

E aí, Dani?
Perdi sua despedida. Estava no Rio, num casamento.

Cara, lembrei de uns episódios da minha infância ligados ao Regão.

Todo dia minha combe escolar parava lá para deixar um menino gordinho, extremamente tímido e que comia melecas desesperadamente.

Lembro de xingar e ser xingado (não necessariamente na mesma ordem), da janela da combe, vários garotos. Se me lembro bem, eles ficavam na porta da escola, que era para a w4, e a quadra do seu golaço que causou furor nas meninas era lá pra w5.

Óbvio... a maioria dos xingamentos tinha a ver com o Rêgo do Rodolfo de Moraes.

Abraços!

Anônimo disse...

E aquele seu primeiro affair no jardim de infância???Era lá no Branca de Neve?Aquela história é fenomenal...mostra que as mulheres fazem péssimas escolhas desde pequenas quando estão apaixonadas...aquela menina até hoje chora por não ter namorado contigo!Ah sim:atropelar memórias é frase sua.

João vitor disse...

Eu estudo no Regão até hoje =D, to no 8º ano, que bom que algum dia a escoal teve uma qaudra bem decente :)

Blog F1-V8 disse...

Ainda hoje lembro os dias de ensaio de festa junina na quadra. Eu e minhas irmãs fomos muito felizes lá. E ainda evitamos fazer aquele retorno...

Ju_Prado disse...

cara, hj eu estudo no Moraes (é assim q chamam hj), não sabia dessa história da quadra, é sempre bom descobrir novas histórias!!!
haha adorei

Unknown disse...

Cariello, além de estudar lá, eu morava na mesma quadra - meus pais continuam por lá.
toda vez que passo em frente ao colégio também tenho esses rompantes nostálgicos.
não posso deixar de registrar que a citada derrota em que o alessandro quebrou o pé, fomos nós que ganhamos - os pirralhos da quinta série.
valeu pelas lembranças e um abraço!

Renato Barbosa disse...

Acabei de voltar de uma visita inebreada ao querido coleginho.
Estão em plena obra. Tudo o que se imaginar está sendo rebocado novamente.
A areia do parquinho agora é azul e, realmete, não há mais a quadra na qual propiciei alguns momentos de humilhação aos meninos da 4 série, quando apenas tinha minhas classes na turma da tia Márcia, uma 1 série do ano de 1983 bem serelepe, cheia de craques, como eu, Marcelo e Robson. Aaaah se o Mano Menezes tivesse um olhiero por lá naqueles tempos... rs
Daniel, obrigado por esse espaço!
Saudações ao Rêgo de todos vocês!

Renato Barbosa disse...

Acabei de voltar de uma visita inebreada ao querido coleginho.
Estão em plena obra. Tudo o que se imaginar está sendo rebocado novamente.
A areia do parquinho agora é azul e, realmete, não há mais a quadra na qual propiciei alguns momentos de humilhação aos meninos da 4 série, quando apenas tinha minhas classes na turma da tia Márcia, uma 1 série bem serelepe, cheia de craques, como eu, Marcelo e Robson. Aaaah se o Mano Menezes tivesse um olhiero por lá naqueles tempos... rs
Daniel, obrigado por esse espaço!
Saudações ao Rêgo de todos vocês!