Entrei no elevador. O japinha infernal, filho de um casal do 7º, já estava lá, junto com o odor azedo que tomava conta do ambiente. Achei que alguém acabara de descer com o lixo. E, como um francês, pensei em fazer uma reclamação ao síndico do prédio, ou à Edith, exigindo que os moradores tivessem o cuidado de embalar bem os sacos das lixeiras, para evitar o mau cheiro.
Acontece que não era isso.
O elevador parou no 4º. E a senhora esticada de tanta plástica, que nunca foi vista sem o cachorro ao lado, entrou. Acompanhada de seu animal, bien sûr. A porta fechou-se novamente, e o futum piorou. O japinha, no canto e calado, nem tentava disfarçar o sorriso amarelo, mesma cor que suas mãos deviam apresentar. Pois aquela fragrância, se é que podemos utilizar a palavra nesse caso, vinha dele. E agora sua obra estava ali, no cubículo, como passageiro adicional.
A senhora sentiu o impacto, levou a mão ao nariz e olhou para o cachorro. Mas logo percebeu que não se tratava dos gases habitualmente produzidos pelo seu companheiro. Então levantou o rosto em minha direção. Eu olhei pro japinha que, por sua vez, soltou um "c'est pas moi". Não tinha sido ele, dizia. Não tive nem tempo de desmenti-lo, pois o elevador parou novamente, no 2º.
A porta abriu. Em frente, um senhor de cabelos grisalhos, com uma certa dificuldade pra andar. Ele ainda hesitou, ao sentir o que o aguardava naquela verdadeira caixa de horrores que já tinha virado o ambiente. Entrou assim mesmo, provavelmente imaginando que uma viagem de dois andares passaria rápido. Enganou-se.
Mais uma vez a porta fechou. Mas, ao contrário do que se esperava, o elevador não saiu do lugar. Ficou bloqueado. O petardo do japinha, eu apostava, tinha danificado permanentemente a estrutura do elevador. E o mais certo é que morreríamos envenenados pela bomba de gás desse kamikaze do terceiro milênio.
Todos viraram na minha direção. Senti que o senhor do 2º queria me dar uma bengalada. E a plastificada tinha uma expressão estranha, de náusea, raiva ou medo. Não dava pra identificar bem, só sei que não era muito amigável. Tentei explicar, apontando pro garoto, dizendo que "o cheiro já estava aqui, junto com ele, quando entrei". Mas "acusar uma criança não é coisa que se faça", disseram.
Para a salvação de todos, principalmente a minha, o elevador logo voltou a funcionar, e chegamos ao térreo. Depois desse dia, tenho a impressão de que o senhor do 2º andar manca mais do que antes. E o cachorro da esticada late quando passa por mim. Só o japinha é que ri. Sempre amarelo.
Há 19 horas
10 comentários:
"petardo"? tem certeza?
pô, que texto foda!
muito divertido
Que situação !!!!
Não é fácil viver no "mundo civilizado".
Crionças são sempre perigosas.
Vida selvagem é o que elas são.
Muito bom.
Marie
É pra não ter de passar por situações asssim que prefiro as boas, velhas e ventiladas escadas!!hehehehehe
Excelente! Tanto que me fez lembrar de um fato curioso acontecido em Lyon este ano. Era muito pra um comentário aqui, então virou post no meu blog (www.julianavermelhomartins.blogspot.com).
Obrigada pela inspiração e espero que você não se ofenda com a citação do seu blog no meu...
Hm... Você sabe né? O japinha devia ter o 'pum de ninja'. Aquele tão sorrateiro que não faz barulho nem altera a expressão da pessoa que o soltou. Essa flatulência, no entanto, é a mais mortal - e fedida.
Acho que foi por isso que inventaram a escada de emergência...
Meu filho,
Acabo de receber o extrato do ex-Fundo 157 do Banco Alfa, onde se revela que -- acompanhando a crise financeira mundial -- minhas (nossas) ações caíram 12,36% só em setembro. Com isso, o valor dos meus (nossos) investimentos caiu de R$26,50 para R$23,37. Imagine outubro... Insisto em que você volte imediatamente para cuidar dos negócios da família, pois um dia isso tudo será seu mesmo. É melhor e mais útil que viver perigosamente, a engasgar com espinha de peixe ou cheirar peido de japa mirim na Cidade Luz (será que tem alguma coisa a ver com a outra?). Mas não seria chinês o moleque? Aí tem tudo a ver com a crise: a última Caros Amigos diz que o destino do capitalismo mundial está nas mãos do Partido "Comunista" Chinês (que loucura!), que tem o poder sobre 2 trilhões de dólares em reservas. Ao voltar, se possível traga uma economista francesa junto.
Juízo, abraços do seu
Pápi
Fala sério...
Que japa é esse?
Agora, eu queria saber por que eles acharam que o pum era seu??
Muito engraçado, cara!
Beijos
Flor
Quase dei um troço de tanto rir desse texto.
Minha mãe ficou me olhando com uma cara assustada e perguntando o que tava acontecendo e eu sem condições de explicar pq engasguei de tanto rir. kkk. Lembrou mto as histórias de minerin da minha família.
Mega bjo querido
http://maoamarela.blogspot.com
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