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quinta-feira, 29 de março de 2007
Uh la la
- Ding dong, acusou a campainha, com seu carregado sotaque francês.
Achei estranho. Pensei que era um vizinho pedindo açúcar, sei lá. Abri. Parado em frente à porta um homem grande, loiro, que suava pelas ventas. Uma mistura de Gérard Depardieu com o brother do Jim Carrey em Show de Truman, mas um pouco mais bizarro.
- Bonjour, ele disse.
- Bonjour monsieur, respondi, caprichando no sotaque e achando que arrasava.
Daí ele desembestou a falar, rápido, papel na mão. Entendi nada.
- Pardon?
Ele repetiu tudo de novo, na mesmíssima velocidade. Agora pesquei uma palavra aqui e outra ali. Pelo que saquei, era alguma coisa a ver com as férias.
- Posso ler?, pedi, apontando para o papel na mão dele. E aí se enfezou.
- Mas é a mesma coisa que acabei de falar duas vezes!!! Isso eu entendi bem. E o suor passou a sair pelo nariz também, formando umas bolhas de água.
Aí começamos uma guerra de nervos. Ele suando cada vez mais e eu puxando o papel, tentando entender do que se tratava. Nossa relação não começava muito bem, pensei. Não deu pra ler tudo. A coisa degringolou de vez quando empaquei em uma palavra.
- Qu'est-ce que c'est pâques? Nunca tinha visto isso antes, pâques. Comecei a desconfiar que ele trabalhava no zoo, ia sair de férias e tava arrecadando dinheiro pra cuidar das pacas de lá.
Não respondeu. O nível de tensão era alto. Pelo tanto que suava, deduzi que o cara estava prestes a implodir. Era melhor encerrar aquele papo o mais rápido possível. Fiz cara de mau e fiquei olhando pra ele. E ele fez o mesmo. Mas ele era mais feio e já estava encharcado.
- Pardon monsieur, não entendi bulhufas.
- Eu também não, grunhiu. Senti meus cabelos voarem com o calor do bafo do sujeito.
O cara deu as costas e saiu pelo corredor, bufando. Antes que eu pudesse fechar a porta, deu tempo de ouvir um urro de 'putain', algo equivalente ao nosso 'puta merda'.
Dei duas voltas na chave, só pra garantir.
ps: pâques é páscoa. O sujeito devia querer uma ajuda para viajar no feriado. Ou não.
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