Todas essas notícias são bombásticas, mas não foi nenhuma delas a que mais me chamou a atenção no período. O posto de top of mind da semana vai para a seguinte manchete: “Digit, uma gorila que vive com um casal”. Não o senhor e a senhora não estão ficando malucos. É exatamente isso: dois franceses decidiram adotar um macaco. Peraí, que eu explico melhor.
Pierre e Elianne Thivillon são administradores de um zoológico na cidade de Saint-Martin-La-Plaine. Acontece que eles já não são mais jovens e por uma dessas razões da vida acabaram não tendo filhos. E aí, um belo dia desses, sem nada melhor pra fazer, decidiram levar o símio para casa. Pronto, simples assim.
Engana-se, porém, quem ache que Digit abandonou o trabalho. Não! Ela continua passando os dias no zoológico, entretendo os visitantes e fazendo as macaquices que esperam dela. E só à noite é que ruma para o novo lar doce lar, pra assistir a uma televisãozinha, bater um rango, dar um relax, que ninguém é de ferro. Mais tarde, quando chega a leseira, vai para os braços de Morfeu. Na cama do casal que a adotou, claro.
Essa história é tão surreal que a tomada dessa decisão só pode ter sido no mesmo tom:
- Benhê.
- Hã…
- Ô, benhê.
- Diga, mozinho.
- Tava aqui, conversando com os meus botões.
- Fala.
- Tive uma idéia, mas não sei se você vai achar boa.
- Pode falar, mozinho.
- Sabiuquié?
- Sei não.
- Fiquei pensando, já que a gente não tem filhos…
- Já sei, você está a fim de fazer uma grande viagem.
- Né isso não.
- Quer mais um cachorrinho?
- Quero não.
- E o que é, então?
- É que… Tava pensando em trazer a Digit pra morar com a gente.
- Aquele macaco?
- Fala assim não, ela pode ficar chateada. Digit é um gorila, e gorila também é gente.
- Peraí, Elianne. Você está querendo me dizer que quer trazer pra casa um macaco…
- É gorila!
- Que seja. Um gorila, que passa o dia inteiro no zoológico, macaqueando pra lá e pra cá, se esfregando em outros símios, comendo aquele lixo que os turistas jogam pra ele, um animal com tanta força que é capaz de esmagar nossas cabeças com apenas uma mão, que vai acabar fazendo caguito no meio da nossa sala e sujar tudo por aqui, sem contar que se um dia ela pira pode destruir a casa inteira em menos de um minuto. É esse bicho que você quer trazer pra morar com a gente?
- É.
- Bon, d’accord. Agora eu digo uma coisa: o controle remoto da TV continua comigo, e isso não se discute.
4 comentários:
No Brasil, a prisão em regime aberto é aquela em que o condenado passa o dia fora trabalhando em algum serviço honrado (desvio dinheiro público, por exemplo) e dorme na cadeia. Na prisão especial, reservada aos portadores de diploma de curso superior,ele faz o desvio de dentro de uma cela exclusiva, com mordomias e tudo mais. Tem a prisão domiciliar: não pode sair de casa, mas pode desviar o dinheiro público dali mesmo, por e-mail, fax, telefone, twiter, sinal de fumaça etc. Como será denominado o regime de, digamos, "confinamento" da gorila doméstica adotada? O que é a prisão? O zoológico ou o lar dos pais adotivos? Ela tem curso superior? Preocupam-me também o aspecto psicológico da coisa e o efeito dominó, mas vou consultar as anotações de Freud e Chico Xavier, refletir mais um pouco antes de emitir uma opinião...
Que história bizarra. A crônica ficou mais uma vez excelente!
Hahahaha. Muito legal trasnformar situacoes quotidianas em textos divertidos. Aaaammooo cronicas! Parabens.
Bacana, bacana. Vou voltar mais vezes.
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