sexta-feira, 1 de julho de 2011

Macacos me mordam!

Vejam vocês que essa foi uma semana agitada na França. Anteontem, foram libertados os dois jornalistas da France Télévision que pagaram uma big etapa de 18 meses de cativeiro no Afeganistão. Ontem, Sarkozy levou uma semi bifa de um cidadão mutcho putcho da vida, na saída de uma reunião. Hoje, a justiça (ha ha!) americana decidiu liberar o Dominique Strauss-Khan, sob condição que ele “se comporte como um bom menino e, por favor, pare de se meter onde não é chamado”.

Todas essas notícias são bombásticas, mas não foi nenhuma delas a que mais me chamou a atenção no período. O posto de top of mind da semana vai para a seguinte manchete: “Digit, uma gorila que vive com um casal”. Não o senhor e a senhora não estão ficando malucos. É exatamente isso: dois franceses decidiram adotar um macaco. Peraí, que eu explico melhor.

Pierre e Elianne Thivillon são administradores de um zoológico na cidade de Saint-Martin-La-Plaine. Acontece que eles já não são mais jovens e por uma dessas razões da vida acabaram não tendo filhos. E aí, um belo dia desses, sem nada melhor pra fazer, decidiram levar o símio para casa. Pronto, simples assim.

Engana-se, porém, quem ache que Digit abandonou o trabalho. Não! Ela continua passando os dias no zoológico, entretendo os visitantes e fazendo as macaquices que esperam dela. E só à noite é que ruma para o novo lar doce lar, pra assistir a uma televisãozinha, bater um rango, dar um relax, que ninguém é de ferro. Mais tarde, quando chega a leseira, vai para os braços de Morfeu. Na cama do casal que a adotou, claro.

Essa história é tão surreal que a tomada dessa decisão só pode ter sido no mesmo tom:

- Benhê.
- Hã…
- Ô, benhê.
- Diga, mozinho.
- Tava aqui, conversando com os meus botões.
- Fala.
- Tive uma idéia, mas não sei se você vai achar boa.
- Pode falar, mozinho.
- Sabiuquié?
- Sei não.
- Fiquei pensando, já que a gente não tem filhos…
- Já sei, você está a fim de fazer uma grande viagem.
- Né isso não.
- Quer mais um cachorrinho?
- Quero não.
- E o que é, então?
- É que… Tava pensando em trazer a Digit pra morar com a gente.
- Aquele macaco?
- Fala assim não, ela pode ficar chateada. Digit é um gorila, e gorila também é gente.
- Peraí, Elianne. Você está querendo me dizer que quer trazer pra casa um macaco…
- É gorila!
- Que seja. Um gorila, que passa o dia inteiro no zoológico, macaqueando pra lá e pra cá, se esfregando em outros símios, comendo aquele lixo que os turistas jogam pra ele, um animal com tanta força que é capaz de esmagar nossas cabeças com apenas uma mão, que vai acabar fazendo caguito no meio da nossa sala e sujar tudo por aqui, sem contar que se um dia ela pira pode destruir a casa inteira em menos de um minuto. É esse bicho que você quer trazer pra morar com a gente?
- É.
- Bon, d’accord. Agora eu digo uma coisa: o controle remoto da TV continua comigo, e isso não se discute.

4 comentários:

Bartolomeu disse...

No Brasil, a prisão em regime aberto é aquela em que o condenado passa o dia fora trabalhando em algum serviço honrado (desvio dinheiro público, por exemplo) e dorme na cadeia. Na prisão especial, reservada aos portadores de diploma de curso superior,ele faz o desvio de dentro de uma cela exclusiva, com mordomias e tudo mais. Tem a prisão domiciliar: não pode sair de casa, mas pode desviar o dinheiro público dali mesmo, por e-mail, fax, telefone, twiter, sinal de fumaça etc. Como será denominado o regime de, digamos, "confinamento" da gorila doméstica adotada? O que é a prisão? O zoológico ou o lar dos pais adotivos? Ela tem curso superior? Preocupam-me também o aspecto psicológico da coisa e o efeito dominó, mas vou consultar as anotações de Freud e Chico Xavier, refletir mais um pouco antes de emitir uma opinião...

Camila Santos disse...

Que história bizarra. A crônica ficou mais uma vez excelente!

Flavinha disse...

Hahahaha. Muito legal trasnformar situacoes quotidianas em textos divertidos. Aaaammooo cronicas! Parabens.

Pedro Pedreiro disse...

Bacana, bacana. Vou voltar mais vezes.