De férias em Paris, em pleno inverno, Leopoldo Rocha, gaúcho de Bento Gonçalves, passou mal subitamente e precisou consultar um médico.
- Alors, o que você tem?
- Tô tri doente, dotô.
- Très doente? Quais os sintomas?
- Bah, a temperatura sobe e todo o resto desce.
- Todo o resto?
- As carne amolece, entende?
- Entendo, entendo. Tá tomando alguma coisa pra melhorar?
- Chimarrão com arnica.
- Ximarao?
- Ão, chimarrão.
- C'est quoi?
- É uma erva que serve pra tudo. E cura de resfriado a dor de corno. Mas essa última propriedade só pôde ser comprovada fora do Rio Grande, porque lá não tem chifrudo e nem baitola.
- Tá se aquecendo bem?
- Tô tentando, mas não me deixam.
- Comment?
- Imagina que ôtro dia fui fazer um fogo de chão no hotel, pra me esquentar o côro e assar umas costela, e o gerente bateu na porta do quarto com dois ou três polícia. Só foram embora depois que apaguei a fogueira e dei pra eles um pedaço de carne mal passada.
- E na rua, usa o quê pra não sentir frio?
- Mas que pergunta. A camisa do Colorado.
- Do quê?
- Mas você não conhece nada, tchê. Do Colorado, o Internacional, o clube dos macho do Sul.
- Só usa isso?
- Uso também a Fátima, minha senhora.
- Ah, entendi, vocês andam juntinhos, abraçados.
- Não, mando ela me agarrar por trás e saio carregando pela cidade. Esquenta que é uma beleza. O inconveniente é que às vezes dói um pôco a lombar.
- Bom, vamos tirar sua temperatura. Vai ali na cama e baixa as calças.
- As calça? Tu tá tri maluco?
- É pra tomar a temperatura.
- E o que isso tem a ver com as calça?
- Tenho que colocar o termômetro no reto, oras.
- Pois em Bento Gonçalves a gente coloca o termômetro é debaixo do braço.
- Senhor, a temperatura retal é a única correta.
- No Brasil todo mundo mede a temperatura errada e até hoje não vi ninguém reclamando.
- Só que na França o método é outro.
- O que você chama de método na minha terra é baitolice. Ali ninguém toca, nem a Fátima. Minha santa mãe contava que quando eu nasci um médico foi me dar uma palmada no traseiro mas eu desci a mão na cara do sujeito antes.
- Aqui a gente trabalha assim. É pegar ou largar.
- Levar ou largar, você quer dizer. Olha, faz aí o que tem que fazer, mas não conta pra ninguém não, viu?
- Não se preocupe, sou um profissional.
- Mas que diabo...
- Pronto, acabou!
- Já?
- Viu? Nem sentiu. Tá com um pouco de febre, um resfriado leve. Toma esses comprimidos e logo você melhora.
- Merci, doutor.
Dois dias depois, Leopoldo bate novamente à porta do mesmo médico.
- Você de novo?
- Pois é.
- Ainda doente?
- Não, não, já melhorei.
- Viu como a medicina francesa resolve?
- Resolve, resolve. Só essa história do termômetro na porta de saída que ainda não me convenceu.
- Como não? Você viu como é eficaz!
- Vim tirar a prova, tchê. Vô colocar agora esse termômetro aqui embaixo do braço. E o senhor vai ver como nosso método é mais exato.
- Senhor, sem comparar não dá pra saber se ele realmente funciona.
- Tá bom, doutor. Mas é a última vez, viu? Tudo pela ciência. - Disse o Leopoldo, já baixando as calças.
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7 comentários:
Bah, Tchê! Visito este blog pela primeira vez e tu me vem logo com uma charla dessa. Eu conhecia o Analista de Bagé, ouvi falar do Sociólogo de Uruguaiana e do Arquiteto do Alegrete, que um dia se mandaram pra Brasília, mas num conhecia o "Espetinho" de Bento Gonçalves. Parece coisa de frango ou coisa inventada. É fato mesmo? Que que é isso?...
Cada dia melhor... impressionante!
adooooro!
Trilegal como crônica, tem que botar nos anais. Pena que o Chéri seja tão desinformado. Um gaúcho não precisa ir a Paris pra conhecer a tomada anal de temperatura. Aqui em Pelotas só funciona assim, tchê, sempre foi assim.
Dani, a discussão aberta com "os anais da medicina francesa" estão esquentando. Mas Seu Gaudério precisa explicar em que anais afinal ele acha que tem que botar sua crônica... Parabéns a você pelo campeonato do Flamengo (aprendi pela experiência que num casamento de um Tricolor com uma Flamenguista três em cada quatro filhos podem ser ovelhas rubro-negras). E parabéns pela sensacional atuação na pelada com o Paristeama (notícias chegam rápido).
Os jornais daqui tão noticiando a falta de remédios, termômetros e outras coisas em toda a rede hospitalar pública do Rio Grande. Mas todo dia, depois da caminhada, meu marido tem conseguido tomar a pressão e a temperatura com um amigo no posto de saúde da Borges de Medeiros, mesmo sem o aparelho. Não é um privilégio?
hehehehehehehe... tenho alguns amigos que vão a-do-rar esse texto!!!
Bjs!
(ps: vou colocar a leitura em dia!)
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