sexta-feira, 19 de junho de 2009

Da arte de se carregar uma baguete

O que não falta em Paris é padaria. Muitas vezes existem várias excelentes bem pertinho uma da outra. Assim, a escolha de onde se comprar a baguete nossa de cada dia não tem a ver só com a qualidade da mesma, mas também com a maneira como ela nos será entregue. As diversas formas de se carregar uma delas pela rua podem dizer muito sobre nós. Segue uma breve análise antropológica sobre o tema.

. Debaixo do braço
Um clássico! Tradição que vem atravessando muitos séculos e sovacos. E se a baguete estiver in natura, sem papel nenhum, uma fermentação extra ainda é garantida. Técnica muito usada por aqueles que querem ter a certeza de chegar em casa com o pão sempre quentinho. Pelo menos ali na parte do meio.

Classificação: Uh la la! Você é um parisiense típico.
Bom para: sanduíche de repolho com roquefort.
Frase: "Fedendo? Mas eu tomei banho ontem. Ou anteontem. Tenho quase certeza."

. Na mão, mas sem papel
Ainda consagrado, embora tenha perdido um pouco de espaço nos últimos tempos. Está mais restrito à velha guarda, como os apreciadores do general De Gaulle e as dançarinas de can can. Hábito justificado pela crença mediterrânea de que o pão nunca se suja, e nem se deixa sujar. Mesmo depois de o cidadão ter caprichado na limpeza no salão nasal.

Classificação: Ça va. C'est pas mal!
Bom para: passar manteiga, usando o dedo no lugar da faca.
Frase: "Gosto da minha baguete assim, cheia dessas crocâncias"

. Na mão, com papel embrulhando a parte do meio
"Esses jovens rebeldes... É tudo culpa deles. Primeiro, vieram com essa história de maio de 68. Depois, liberação sexual feminina, com a pílula e muita safadeza. E agora, isso de embrulhar o pão. Daqui a pouco vão começar a inventar coisas absurdas, como escutar músicas feitas por máquinas. O quê, já fazem isso? Putain de merde!" (Monsieur Chatton, padeiro e ranzinza).

Classificação: O que está acontecendo com você, mon fils?
Bom pra: pique-niques no parque, com essa juventude perdida, cheiradora de mariluana. Ah, é marijuana?
Frase: "Não se fazem mais seguradores de baguete como antigamente"

. Dentro de um saco
Carregar uma baguete dentro de um saco pode ter dois significados: ou você é estrangeiro ou é um desses revolucionários de esquerda. Não importa. Em ambos os casos é uma "personna non grata" pelo atual governo francês.

Classificação: Pega ele! Pega ele!
Bom pra: colocar o saco na cabeça do sujeito, só pra dar um sustinho.
Frase: "Carla, Carla, vem ver essa manifestação na tevê. Traz pipoca." (Monsieur Sarkozy)

9 comentários:

Carol disse...

Poxa vida, carreguei a baguete no saco, será que corro risco de vida? rs
Bjos

Sil e MP disse...

Eu ri muuuito ao ler este post. Estive pela primeira vez em Paris no começo do mês, e eu e meu marido sempre nos espantávamos ao ver a forma como os franceses carregam suas baguetes. Confesso, alguns balançavam tanto que pareciam que ela tocaria o chão, ou ainda, que viraria uma bengala, no lugar de pão...rs... muito bom mesmo!

Flor Falante disse...

Pour Tutatis!
Então isso não é mito ou coisa de filme francês??
Que coisa, não?
Como a Carol, sempre carreguei o pão francês no saco de papel!
Esclareça-me uma coisa Dani, o pão francês aí é conhecido apenas como pão, certo?
Besotes
Flower

RC disse...

E o que dizer, então, do brasileiro, que põe no saco de papel e depois bota o saco de papel num de plástico...

Juliana disse...

Ainda acho que vc botar a mão ou o seu suvaco no pão que vc vai comer é até aceitável...mas e o padeiro,o assistente de padeiro,o vendedor,o caixa que colocaram a sagrada mãozinha francesa antes é que complica.

Lica disse...

Não sei como cheguei no seu blog, mas ainda bem que cheguei... ri muito com o post da baguete, do correio, da caixa cujo sorriso é uma cortesia, do biquinho, dos finais felizes dos romances franceses.... quando comecei, não parei mais!

Luiz Marcelo disse...

Ai, que voz grossa! Assim vc vai angariar mais umas fãs. Gostei do programa. E toca Amadou e Mariam. Fui no show deles e achei sensacional! Abração! LM

Unknown disse...

Aaaaaaah, fiquei saudosista: lembrei de quando pães eram comprados em padarias... de quando os balconistas ajeitavam os pães (quando poucos) numa folha fina (o clássico 'papel-de-pão'!) e giravam as orelhinhas do papel para fechar. Achava o máximo!
.
E vc, Daniel, como tem carregado pães em Paris?!
.
Bj!

Não importa disse...

Puxa, nunca pensei q falar de pão pudesse ser algo tão cômico!