O que não falta em Paris é padaria. Muitas vezes existem várias excelentes bem pertinho uma da outra. Assim, a escolha de onde se comprar a baguete nossa de cada dia não tem a ver só com a qualidade da mesma, mas também com a maneira como ela nos será entregue. As diversas formas de se carregar uma delas pela rua podem dizer muito sobre nós. Segue uma breve análise antropológica sobre o tema.
. Debaixo do braço
Um clássico! Tradição que vem atravessando muitos séculos e sovacos. E se a baguete estiver in natura, sem papel nenhum, uma fermentação extra ainda é garantida. Técnica muito usada por aqueles que querem ter a certeza de chegar em casa com o pão sempre quentinho. Pelo menos ali na parte do meio.
Classificação: Uh la la! Você é um parisiense típico.
Bom para: sanduíche de repolho com roquefort.
Frase: "Fedendo? Mas eu tomei banho ontem. Ou anteontem. Tenho quase certeza."
. Na mão, mas sem papel
Ainda consagrado, embora tenha perdido um pouco de espaço nos últimos tempos. Está mais restrito à velha guarda, como os apreciadores do general De Gaulle e as dançarinas de can can. Hábito justificado pela crença mediterrânea de que o pão nunca se suja, e nem se deixa sujar. Mesmo depois de o cidadão ter caprichado na limpeza no salão nasal.
Classificação: Ça va. C'est pas mal!
Bom para: passar manteiga, usando o dedo no lugar da faca.
Frase: "Gosto da minha baguete assim, cheia dessas crocâncias"
. Na mão, com papel embrulhando a parte do meio
"Esses jovens rebeldes... É tudo culpa deles. Primeiro, vieram com essa história de maio de 68. Depois, liberação sexual feminina, com a pílula e muita safadeza. E agora, isso de embrulhar o pão. Daqui a pouco vão começar a inventar coisas absurdas, como escutar músicas feitas por máquinas. O quê, já fazem isso? Putain de merde!" (Monsieur Chatton, padeiro e ranzinza).
Classificação: O que está acontecendo com você, mon fils?
Bom pra: pique-niques no parque, com essa juventude perdida, cheiradora de mariluana. Ah, é marijuana?
Frase: "Não se fazem mais seguradores de baguete como antigamente"
. Dentro de um saco
Carregar uma baguete dentro de um saco pode ter dois significados: ou você é estrangeiro ou é um desses revolucionários de esquerda. Não importa. Em ambos os casos é uma "personna non grata" pelo atual governo francês.
Classificação: Pega ele! Pega ele!
Bom pra: colocar o saco na cabeça do sujeito, só pra dar um sustinho.
Frase: "Carla, Carla, vem ver essa manifestação na tevê. Traz pipoca." (Monsieur Sarkozy)
Há 2 dias
9 comentários:
Poxa vida, carreguei a baguete no saco, será que corro risco de vida? rs
Bjos
Eu ri muuuito ao ler este post. Estive pela primeira vez em Paris no começo do mês, e eu e meu marido sempre nos espantávamos ao ver a forma como os franceses carregam suas baguetes. Confesso, alguns balançavam tanto que pareciam que ela tocaria o chão, ou ainda, que viraria uma bengala, no lugar de pão...rs... muito bom mesmo!
Pour Tutatis!
Então isso não é mito ou coisa de filme francês??
Que coisa, não?
Como a Carol, sempre carreguei o pão francês no saco de papel!
Esclareça-me uma coisa Dani, o pão francês aí é conhecido apenas como pão, certo?
Besotes
Flower
E o que dizer, então, do brasileiro, que põe no saco de papel e depois bota o saco de papel num de plástico...
Ainda acho que vc botar a mão ou o seu suvaco no pão que vc vai comer é até aceitável...mas e o padeiro,o assistente de padeiro,o vendedor,o caixa que colocaram a sagrada mãozinha francesa antes é que complica.
Não sei como cheguei no seu blog, mas ainda bem que cheguei... ri muito com o post da baguete, do correio, da caixa cujo sorriso é uma cortesia, do biquinho, dos finais felizes dos romances franceses.... quando comecei, não parei mais!
Ai, que voz grossa! Assim vc vai angariar mais umas fãs. Gostei do programa. E toca Amadou e Mariam. Fui no show deles e achei sensacional! Abração! LM
Aaaaaaah, fiquei saudosista: lembrei de quando pães eram comprados em padarias... de quando os balconistas ajeitavam os pães (quando poucos) numa folha fina (o clássico 'papel-de-pão'!) e giravam as orelhinhas do papel para fechar. Achava o máximo!
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E vc, Daniel, como tem carregado pães em Paris?!
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Bj!
Puxa, nunca pensei q falar de pão pudesse ser algo tão cômico!
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