- Alô.
- Quem é?
- Jacques Bodin.
- Jacques Bodin?
- Sim, eu mesmo.
- O crápula desgraçado?
- Eu também estava com saudades.
- Como você tem coragem de ligar?
- Calma, não precisa ficar assim.
- Não precisa? Você era meu sócio e meu melhor amigo até o dia em que precisei passar uma semana em Lyon e pedi pra você tomar conta da minha casa.
- E eu tomei, não?
- Tomou tão bem que fugiu com a minha esposa.
- É verdade que isso não estava previsto, mas a culpa não foi só minha.
- Você é mesmo um cara-de-pau.
- Eu sei. Estou arrependido.
- É fácil dizer isso três anos depois.
- Puxa, já faz três anos? O tempo voa, né?
- Chega de conversa fiada. Você me ligou pra quê?
- Pra te devolver a Marie.
- Devolver?
- Não a quero mais.
- Não estou entendendo.
- Ela me cansa.
- Agora é tarde. É toda sua.
- Acho que você podia fazer isso em nome da velha amizade.
- Que amizade? Ela se foi quando vocês fugiram para Toulouse.
- A Marie reclama de tudo.
- Novidade.
- Reclama quando eu não faço o jantar.
- Conheço bem essa cantilena.
- E reclama também quando eu faço, pois nunca está do gosto dela.
- Ela continua assim?
- Nem te conto.
- E faz cara feia se você chega atrasado?
- Você não imagina o bico.
- Imagino, vivi isso quinze anos. Mas não tenho que falar disso com você, seu mau caráter.
- Desculpa, desculpa. Minha vida virou um inferno com ela. Nem futebol eu posso assistir.
- Nem futebol?
- Nada, ela vira uma arara. No máximo uma novelinha.
- Novelinha é dose.
- E ela adora as mexicanas, aquelas cheias de chororô.
- A Marie não muda.
- Não mesmo. Então, quer de volta?
- De jeito nenhum.
- Eu pago. Você pega a mulher e ainda fatura um bom troco.
- Tá maluco?
- Ainda não, mas tô ficando. A minha vida virou...
- Já sei, já sei, virou um inferno.
- E se a gente se livrar dela?
- Hein?
- Dar um fim na mocréia, o que acha?
- Olha, Jacques, a idéia não é má. Ela bem que merece. E você também, seu pulha.
- Depois a gente se acerta. Vamos cuidar da bruxa primeiro.
- E como seria?
- Cortamos o cabo do freio do carro. Vai parecer acidente.
- Não funciona. Fica muito na cara. E se colocar veneno na bebida? Aposto que ela ainda bebe duas garrafas de vinho por dia.
- Parece uma esponja.
- A Marie bêbada era barra.
- Era nada, ainda é.
- Então, é fácil. Duas gotinhas de cianureto dão conta do recado.
- Não sei. Talvez a gente possa simular um almoço de reconciliação, nós três, e fazê-la comer uma meia dúzia de ostras estragadas. É tiro e queda.
- Jacques, você é um gênio.
- Você também não é de se desprezar.
- Como pudemos deixar essas pequenezas estragarem nossa amizade?
- Também senti sua falta.
- Bom, vamos tratar de negócios. Onde vai ser o almoço?
- No lugar de sempre, Chez Paul. Amanhã tá bom?
- Amanhã, Chez Paul. Não esquece de levar a Marie.
- Claro, claro. Até amanhã, sócio.
- Até amanhã, sócio.
(Mais ou menos baseado numa história mais ou menos real)
Há 2 dias
8 comentários:
Aff! Ostras estragadas... requintes de crueldade! Um mènage seria mais saudável, já que ficou mesmo tudo em família! huahauhua
Ótimo texto!
Beijocas
Flor
Dear,
Estou aqui tentando convencer minha noiva, que suas crônicas nem são tão engraçadas assim, mas ela está rindo demais pra me dar atenção.
Por falar em dar risada, vi ontem o filme Ä culpa é de Fidel", que se passa na França de 71. Engraçadão!
AH, outra, a cena que o Inpsetor Clouseau tenta apredner inglês. Tá no you tube no 'hamburger clouseau', algo assim, Hilário! E você, dê notícias. Nem que seja naqueles emails gerais, que você manda até pros inimigos.
Abração!
LM
Olá Chéri. Coloquei um link para seu blog no meu, caso não esteja de acordo por favor me avisa para retirar, ok? :)
(mais ou menos com medo...)
Meu filho,
Estou preocupado. Não seria melhor você voltar logo para o Brasil? E traga a Charlotte, tá? Tudo bem?
Beijo,
Pápi
Sou uma das milhares de pessoas apaixonadas por Paris. Ler seu blog é muito bom. Parabéns.
Ah, a propósito, coloquei um link do seu blog no meu.
Curti, jovem!
Vai entrar pros links!
Parabéns e abraço!!
Sinistro...
muito sinistro...
aquele abraço
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