- Je suis désolé, monsieur, mas isso não pode ser feito.
- Como assim, não dá?
- C’est pas possible.
- Não dá pra dar um jeitinho?
- Como assim, um jeitinho?
- Um jeitinho é uma maneira brasileira de resolver o que não pode ser resolvido. Mas não significa, no entanto, que a coisa será definitivamente resoluta.
- Você está me dizendo que você quer que eu invente uma solução para algo aparentemente insolúvel e no fim das contas ela não vai solucionar o problema?
- Vai resolver o meu problema, que é a questão nesse momento.
- Mais c’est incroyable!
- Eu também acho. Inacreditavelmente simples, né? Estamos acertados?
- C’est incroyable a sua cara de pau. Você quer que eu mude as regras para se adaptarem às suas necessidades!
- Eu não diria “mudar”. Vamos trocar por “humanizar”. É mais bonito e cai super bem na França, onde vocês adoram uma filosofiazinha.
- Então, pela sua lógica, se eu tirasse a sua multa eu seria mais humano?
- Duplamente. Fazendo esse favor, você se mostraria uma pessoa melhor e de quebra ainda ganharia um amigo.
- Quem?
- Euzinho.
- Mas eu não quero sua amizade.
- Como assim?
- Eu nem sei quem é você.
- Antônio, a seu serviço.
- Não quero ser seu amigo, Antoniô.
- Puxa, tá bom...
- Ei, também não precisa chorar.
- Vocês, franceses, são muito frios. Bem que minha mãe me disse pra não vir pra cá, que o Brasil era muito melhor, que a torre de Brasília era muito mais bonita que a Eiffel, que a poluição do Tietê era muito mais escura que a do Sena, que...
- Calma, Antoniô. Vamos fazer o seguinte: pra você parar de me perturbar, eu finjo que não vi o seu carro e você vai embora daqui, ok?
- Jura que você vai fazer isso por mim?
- Juro.
- Você não imagina como fico feliz! Pra agradecer, te convido a ir lá em casa hoje à noite. Vai ter feijoada com caipirinha.
- Hmmm, adoro caipirinha, mas não sei se devo.
- Deve, deve. Afinal, somos amigos ou não?
- Somos?
- Claro que somos!
- Bom, d’accord. Vou aceitar o convite.
- Feito. Passa lá às 20 horas. Não precisa levar nada. Beijomeliga!
Vrummm.
- Antoniô, você não me deu o endereço. Antoniô!!!
Há 14 horas
6 comentários:
Rapaz, essa história é demais. Mas acho que esse Antônio se chama Bruno! Abs!
Essa foi muito boa, Sambarichello! Hã!?!?!? Das melhores que você já escreveu. Fui eu que te dei a ideia, né?
O jeitinho brasileiro está em pauta nesta semana, estigma ou não, presente desde o colonialismo ou não, infelizmente representa nossa identidade nacional e internacional.
Mas o humor do texto trouxe uma atmosfera mais leve.
Ah, te acompanha lá no outraspalavras e há um tempo aqui, estudo francês para minha pesquisa de mestrado que será na área de antropologia, além de ser apaixonado por inúmeras coisas de origem francófonas.
Inté,
Keila
Ri muito e achei muito boa mesmo.
Saudades e bjs,
Mami
Adorei a dica da Carolina Valadares, que me indicou seu blog. Vc é muito criativo! O texto é ótimo demler! Parabéns!!! Ana Luiza Gomes
C’est incroyable! C'est si bon!Super! Bisou ;O)
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