sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Teses musicais 5 - Orfeu Negro


Antes de mais nada, aperte o play aí.



Agora vamos lá. Você sabia que o sucesso mundial da bossa nova nos anos 60 deve muito a um filme francês? Pois é, pois é. Lançado em 1959, Orfeu Negro, recriação para o cinema da peça Orfeu da Conceição de Vinícius de Morais, tinha na trilha sonora só músicas desse novo estilo musical (e bossa nova é um estilo?) estalando de novo. Composições do próprio Vinícius, de Tom Jobim e de Luís Bonfá. Merecidamente, a produção do cineasta Marcel Camus papou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Quatro anos depois do lançamento de Orfeu, Baden Powell chegou a Paris de mala, cuia e violão debaixo do braço. Foi apresentado aos músicos franceses e bares parisienses por seu parceiro de música e de copo, o mesmo Vinícius, então diplomata na embaixada brasileira.

Apesar de sua notória timidez, Baden chegou fazendo barulho e logo começou a aparecer. Foi então que conheceu um sujeito chamado Pierre Barouh, cantor, ator e garotão boa pinta, que tinha caído de amores pela música brasileira. Em 1965, Barouh deu um jeito de incluir uma versão francesa de Samba da benção, chamada Samba saravah, no novo filme de Claude Lelouch, Un homme, une femme. E aí a bossa nova explodiu de vez.

“Talvez mais amado na França do que no Brasil”, segundo a revista Mondomix, Baden Powell tornou-se para sempre a representação de um instante mágico vivido por um país mágico. O país da bossa nova, da praia de Copacabana, do futebol que encanta o mundo. Tudo isso eternizado pelas seis cordas de um violão.

De Brigitte Bardot a Françoise Hardy, de Charles Aznavour a Serge Gainsbourg, praticamente todos os grandes cantores franceses da época gravaram ao menos uma música composta no estilo, ou influenciada por ele. Essa que você está ouvindo agora (você apertou o play lá em cima, não apertou?) é uma das minhas preferidas, do meu compositor francês favorito. Trata-se de Ces petits riens, de Serge Gainsbourg, pequena pérola desse grande artista. A letra, poética como tudo o que ele escreveu, começa com “Mieux vaut n'penser à rien que n'pas penser du tout / Rien c'est déjà, rien c'est déjà beaucoup” (“Melhor do que não pensar é pensar em nada / Nada já é, nada já é muito”). Há muito pra pensar aí, ou talvez não haja nada.

Uma parte do sucesso da bossa nova se explica pelas imagens difundidas por Orfeu Negro, de um Brasil de sonhos e esplendoroso, que ainda contava com a trilha sonora ideal. Quando Orfeu toca seu violão para o sol se levantar, quem sobe junto com o astro rei é a música brasileira, que ali conquistou definitivamente o seu espaço no mundo.

Leia os outros textos das teses musicais:
. Baden Powell
. Villa-Lobos
. Hamilton de Holanda
. Rolling Stones

6 comentários:

Pápi disse...

Olá, Chéri, duas notas rápidas: Breno Melo, um jogador de futebol gaúcho, abriu mão da honrosa ponta-direita titular do Fluminense e do título do Campeonato Carioca de 1959, foi ser o Orfeu de Camus e ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Dez anos depois o Flu teve Cafuringa, que entrou para a história do Clube por, como ele mesmo dizia, "não fazer gols mas fazer muitos artilheiros" (o centroavante Flávio, o Minuano, segundo maior artilheiro do Brasil na época, com cerca de 700 gols, deve muito a ele). Tudo bem. Mas no cinema, na refilmagem de Orfeu, Breno foi sucedido por Toni Garrido. Aí ninguém merece...

Chéri disse...

Toni Garrido é dose...

Mirelle Matias disse...

Vi ha pouco no cinema, um filme francês chamado Copacabana (meia boca) onde a personagem principal (Isabelle Huppert) é apaixonada pela nossa MPB e sonha justamente com esse Brasil magico de Copa, do futebol, das praias dos anos dourados. Sem imagens do Brasil, mas com uma trilha bacana, vc chegou a ver?

aLiNe disse...

Muito bom o post! Muito boa a música. Algo profundo esse do "Rien c'est déjà, rien c'est déjà beaucoup"... Queria muito ter acesso a essas músicas. Quero muito ler seu texto final. Confesso que estou ficando apaixonada por tudo isso! =)

aLiNe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
aLiNe disse...

Salut, Chéri! Ça va?

Je vais bien, merci.
Pas de problème! Je sais lire en Français...
Merci beaucoup pour t'attention!

Bises!