Teses de mestrado e procrastinação brasileira são duas coisas que não combinam. Eu sou a prova (semi) viva disso. Quando a tese deve ser escrita em outra língua, o treco piora muito. E quando é pra daqui a 30 dias e só a introdução está pronta, o modo "pânico" é imediatamente ativado.
Tudo isso pra dizer que até a minha vida voltar ao normal, esse blog vai passar por uma fase diferente. As crônicas semanais de sexta-feira continuam pontuais, como essa publicada no sábado. Mas serão vapt-vupt, escritas enquanto escuto uma, e apenas uma, música de Villa-Lobos, Baden Powell ou Hamilton de Holanda, os compositores de quem falo na minha tese.
Voilà la première, escrita no trajeto Paris-Marseille em TGV.
---
Tributo ao amigo Pedro Santos, de Baden Powell (clique no player abaixo para escutá-la).
Solto a música, parte do ao vivo Baden Powell à Paris. Adoro viajar de TGV no verão, por volta das nove da noite. Ainda tem muita luz, e ela vai baixando devagar, pegando tons dourados. É a luz mais bonita do dia.
Pela janela, vejo as linhas elétricas que acompanham a linha do trem. De um poste a outro, os fios baixam e levantam, conforme a máquina avança. Desde criança gosto de observar esse movimento, me lembra as ondas do mar.
Passamos por um campo vazio, parece que a colheita foi feita há pouco tempo. Não há mais plantação, apenas o solo marcado, algumas árvores ao longe e um trator parado perto de uma casa.
Um pouco mais e atravessamos uma vila, parecida com tantas outras que existem na França. Pequena e toda arrumada, com casas, igreja, praça e poucas ruas. Sempre que passo por uma cidade dessas a imagino como cenário de um filme. A primeira sequência seria um sujeito de boina andando na rua com a baguete embaixo do braço. A última seria ele viajando a Paris para assistir a um jogo, no qual o Brasil derrotaria a França por 6 x 0, com dois gols contra do Henri.
Na pista paralela, outro TGV passa em direção contrária e dá pra sentir pelo balanço do nosso trem. Se somarmos a velocidade dos dois, dá mais de 600 quilômetros por hora. Fim do parágrafo "físico frustrado".
No iPod, Baden Powell começa seu solo infernal. Pra mim, trata-se do maior violonista de todos os tempos. Sabe aliar a técnica de um Paco de Lucia ou um Segóvia com um sentimento, feeling na linguagem de guitarrista, que só ele tem.
Rumo ao sul, a paisagem vai mudando rapidamente. Outros campos se sucedem, alguns têm rolos e rolos de feno empilhados, reserva de comida para os animais no inverno. A paisagem, só nesse instante, lembra os filmes de western.
Mais à frente, vejo as primeiras vacas do trajeto. Uma coisa bacana na França é a importância dada aos pequenos produtores rurais de queijos, salames, vinhos, frutas. Os franceses os apreciam e sabem valorizá-los.
O céu está azul e há poucas nuvens. Uma delas tem a forma de um zepelin e depois se transforma em baguete recheada. Passamos por um grande e verde vale, arborizado e muito bonito.
Nesse instante, Baden acaba sua grande prestação à música. No mesmo instante, o sujeito da poltrona ao lado retorna e tapa a minha visão da janela. Volto pra minha tese.
Pela janela, vejo as linhas elétricas que acompanham a linha do trem. De um poste a outro, os fios baixam e levantam, conforme a máquina avança. Desde criança gosto de observar esse movimento, me lembra as ondas do mar.
Passamos por um campo vazio, parece que a colheita foi feita há pouco tempo. Não há mais plantação, apenas o solo marcado, algumas árvores ao longe e um trator parado perto de uma casa.
Um pouco mais e atravessamos uma vila, parecida com tantas outras que existem na França. Pequena e toda arrumada, com casas, igreja, praça e poucas ruas. Sempre que passo por uma cidade dessas a imagino como cenário de um filme. A primeira sequência seria um sujeito de boina andando na rua com a baguete embaixo do braço. A última seria ele viajando a Paris para assistir a um jogo, no qual o Brasil derrotaria a França por 6 x 0, com dois gols contra do Henri.
Na pista paralela, outro TGV passa em direção contrária e dá pra sentir pelo balanço do nosso trem. Se somarmos a velocidade dos dois, dá mais de 600 quilômetros por hora. Fim do parágrafo "físico frustrado".
No iPod, Baden Powell começa seu solo infernal. Pra mim, trata-se do maior violonista de todos os tempos. Sabe aliar a técnica de um Paco de Lucia ou um Segóvia com um sentimento, feeling na linguagem de guitarrista, que só ele tem.
Rumo ao sul, a paisagem vai mudando rapidamente. Outros campos se sucedem, alguns têm rolos e rolos de feno empilhados, reserva de comida para os animais no inverno. A paisagem, só nesse instante, lembra os filmes de western.
Mais à frente, vejo as primeiras vacas do trajeto. Uma coisa bacana na França é a importância dada aos pequenos produtores rurais de queijos, salames, vinhos, frutas. Os franceses os apreciam e sabem valorizá-los.
O céu está azul e há poucas nuvens. Uma delas tem a forma de um zepelin e depois se transforma em baguete recheada. Passamos por um grande e verde vale, arborizado e muito bonito.
Nesse instante, Baden acaba sua grande prestação à música. No mesmo instante, o sujeito da poltrona ao lado retorna e tapa a minha visão da janela. Volto pra minha tese.
4 comentários:
Me deparei com seu blog e especificamente nesse post, num intervalo entre o branco e o nada da minha tese, que tbem não sai. Tbem tenho 30 dias pra entregar. Q dureza... A diferença é que não tenho Paris.Saiu em vantagem, hein?Força aí...
Uma tese que faz referência a Baden Powell e Hamilton de Holanda. Salve, Cariello! Fiquei curiosíssima. Que bom que entre filhas-flores-de-maio, seminários-UnB, autenticações em cartórios, brazucas, formigas francesas, viagens TGVs e tese Villa-Lobos o Chéri ainda tem pulso e as crônicas pontualíssimas de sexta-feira aqui acontecem, mesmo que aos sábados. Aprecio sua (des)concentração e disciplina. Estou sempre aqui e é esse o único Blog que acompanho. A internet à la facebook consome e me irrita profundamente pelo seu monólogo vazio e egocêntrico (um desabafo). Ainda prefiro os textos longos, os livros e as flores.
Hoje em Tallinn a temperatura pode chegar a 38°C. Imagina! Nunca antes essa temperatura foi registrada aqui. Nosso planetinha chora vermelho fogo por nossa estupidez. Uso vestido curto e pés descalços, coisa muito rara por aqui. E respiro o vento como uma índia Yanomami: pelada e pintada. Hoje plantarei crisântemos amarelos e banharei no Báltico. E também mergulharei num artigo sobre semiotically mediated mind.
Adoro o seu texto à la Train à Grande Vitesse. Campos, fenos, as noites claras do verão europeu, sua nuvem zepelim e o solo infernal de Baden Powell ecoaram todos aqui.
Força para seu trabalho! Também coragem e paixão para levá-lo sempre.
Soraya Salomão
Nunca comentei o seu blog, mas também estou numa fase escrever (por isso identifiquei-me mais do que de costume) e lembrei-me de uma frase do filme As Bonecas Russas "Écrire, c'est ranger le vrac de la vie"... C'est la vie. Bonne chance! =)
Adorei a crônica e me lembrei de Nick Hornby com seu livro sobre músicas que marcaram a vida dele(que tal fazer um desses?). Tenho certeza de que aprenderei muito sobre música com vc nesse seu momento. Ano que vem, exatamente nessa época, quem estará no dilema procrastinar e dissertar serei eu. Parto para Albion dia 25/09. Já estou ansiosa para encontrar Louise seja na Ilha, seja no país do galo. Beijos
Postar um comentário