sexta-feira, 4 de junho de 2010

A topologia dos parques de criança


Diz aí se tem coisa que deixa o cidadão mais trololó do que um bebê chorando no ouvido sem parar. Ainda mais quando é o seu bebê. Não sei de você, mas te digo que pra mim é impossível me concentrar em qualquer coisa. Nesses casos, a solução é colocar a criança dentro de um carrinho e partir pra um parque por perto. Com a Louise funciona que é uma beleza.

Já teve a oportunidade de entrar em um lugar desses carregando um exemplar infantil a tiracolo? É qualquer coisa. Um universo até então completamente desconhecido se abre de uma só vez diante de você. Um parque de crianças não é nunca o que se mostra à primeira vista. Tem muito mais coisas entre o escorregador e a gangorra do que sonha nossa vã filosofia parental.

No meio do aparente caos do ambiente, tudo é organizado de maneira bem lógica. E você, confessa, nem desconfiava disso. Vou pegar como exemplo o Square Trousseau, que fica do ladinho da minha casa.

Perto da porta da entrada estão as crianças mais velhas, aquelas que já podem ficar um pouco afastadas do controle das mães. Ali é uma chuva de bolas de todos os lados. É necessário apressar o passo para que um dos sujeitos-mirins não confunda o carrinho do bebê com um alvo móvel. E mesmo assim não é certo que você terá êxito na empreitada. Dependendo das suas habilidades, aproveite para cabecear uma ou duas pelotas pelo caminho e mostrar pra esses francesinhos que futebol é coisa de brasileiro, oras.

Em seguida vem a ala das jovens mães, aquelas que desfilam com seus bebês em carrinhos. Normalmente estão acompanhadas de jovens amigas aparentemente solteiras. Você nota ser o único macho adulto do ambiente quando essas amigas olham pra você, pro bebê e pra você de novo, abrindo um pequeno sorriso, como se pensassem "esse aí fez uma bela criança, tem bom potencial. E se... Não, deixa pra lá. Mas e se...". Mas e se você soubesse disso nos meus tempos de solteiro? Talvez tivesse se tornado baby sitter oficial dos filhos dos amigos, né?

Passando essa zona de guerra, chega o domínio das avós, estrategicamente posicionadas mais longe da gritaria. Os anos de experiência com crianças as permitem observar tranquilamente tudo o que se passa, sem nunca perder o controle da situação e os coques no cabelo. Afinal, elas sabem que não adianta se estressar, porque daqui a alguns anos aqueles anjinhos provavelmente continuarão a frequentar o ambiente, mas um pouco mais adiante, perto do coreto, onde se reúnem os pré-adolescentes de 12, 13 anos. Mesmo assim, serão sempre os fifofonhos da vovó.

Estes sentam-se em cima das mesas de pingue-pongue, compartilham um cigarro surrado e escutam música. Cada um a sua, com seus fones individuais em volumes ignóbeis. Isso os obriga a falar alto, muito alto, todos ao mesmo tempo. Não sei como se entendem, e nem sei se a idéia é que se entendam. Mas a adolescência, pelo que me lembre, é isso aí mesmo. Além do mais, um pouco de lesão auditiva não mata ninguém, desde que a música valha a pena.

Chegando ao final do parque, sempre tem na penumbra um banco com um caboclo solitário. Não demora chega um segundo, empurrando um carrinho totalmente coberto que você se pergunta se está vazio. Com cara desolada, ele entrega-o ao companheiro e diz "tem uma gatinha de bobeira em frente à segunda gangorra, parece que não tem filho não". E você segue em frente com o seu bebê, assoviando aquela dos Beatles.

2 comentários:

Pápi disse...

Chéri, sua crônica me despertou a idéia de um dia contar a proeza de um pai, na flor dos seus trinta e poucos anos, passar férias com cinco filhos em Copacabana -- na praia cheia do verão -- sem mami, sem babá, sem avó, sem Febem nem nada. O mais velho (Daniel) com 10 anos, a mais nova (Andréa) com cinco. Contando o tempo todo: um, dois, três, quatro; um, dois, três... sumiu um. Aleluia, estava secando na areia quente (Pedro). Outra (Mariana) concentrada na contagem... dos cachorros vistos na viagem. Você chega lá, ah se chega!

Natacha disse...

Daniel, que bom saber de você!
Natacha, do Overmundo Piauí!
Beijo pra vc e a familinha