sexta-feira, 11 de junho de 2010

O maracanaço dos Bleus


Nesse exato momento, uma hora antes do começo da copa do mundo, está passando na TV francesa um programa sobre os adversários dos Bleus na primeira fase da competição. Os únicos adversários, se depender da torcida brasileira.

Eles estão falando do Uruguai, que enfrentam essa noite. Robert Pires, um dos atacantes da equipe vencedora de 1998, diz que será um combate basicamente físico, pois nossos vizinhos estão um nível abaixo das seleções brasileira, argentina ou chilena. Alguém precisa enviar a lista do Dunga pro caboclo.

A preocupação dos franceses é com o jogo duro e o cai-cai do Uruguai. A “famosa catimba”, segundo o filósofo Galvão Bueno, que ontem ficou conhecido no mundo inteiro ao ser insultado no Twitter simultaneamente por milhões de brasileiros.

Os conterrâneos de Zidane lembram ainda que os uruguaios possuem um jogo rápido e perigoso, mesmo se não ganham uma copa há exatos 60 anos, quando nos impuseram o maracanaço, o maior trauma coletivo brasileiro. Percebo um sorriso no canto da boca dos comentaristas ao citarem o fato.

Pois bem, para a próxima discussão futebolística com um francês, antes de chutar a canela do sujeito, solte um despretensioso “e aquele França x Bulgária em 1993, no Stade de France, hein?”. Esse jogo, realizado em 17 de novembro de 1993, é o maracanaço francês. Eis a história.

Faltavam dois jogos para acabar as eliminatórias para a Copa de 1994. A França liderava sua chave e disputaria as partidas finais em casa. Um simples empate bastava para classificar os Bleus.

Contra Israel, lanterninha da chave, seria fácil. Afinal, desde a época de Cristo, quando os apóstolos bateram os hereges por 4 x 1, aquele povo não vencia uma partida. E dizem que só conseguiram tal proeza porque o próprio Cristo era o juiz (supremo). Acontece que deu uma ziquezira geral e a França levou dois gols e uma virada nos últimos minutos.

Não tinha problema, bastava não perder pra Bulgária para garantir o passaporte para os Estados Unidos e esquecer de vez o trauma de não ter participado do torneio anterior, em 1990, na Itália.

Nesse jogo decisivo, os franceses abrem o placar com um golaço de Cantona, mas sofrem o empate logo depois. No último minuto, isso mesmo, último minuto, os Bleus estão no ataque. Basta segurar a bola mais 30 segundos e o Tio Sam irá recebê-los pessoalmente no aeroporto, na companhia de Ronald McDonald.

Ainda segundo o pensador Galvão Bueno, “o jogo só termina quando acaba”. Nesse caso ainda não tinha acabado. Ou terminado, sei lá. E David Ginola, meio campista, inventa de cruzar uma bola em frente a área adversária. Os búlgaros recuperam a posse, armam um contra-ataque e viram o jogo. Assim que a partida recomeça, o juiz apita seu fim. E a França ficou sem ir à Disneylândia.

Uma teoria, francesa, diz que essa derrota possibilitou a renovação da equipe, que acabou sendo campeã na Copa de 1998, realizada na França. Uma outra teoria, brasileira, afirma que nesse dia os franceses inventaram o biquinho.

4 comentários:

Mirelle Matias disse...

Bico de francês inventado so em 93? Duvido.

Sobre o jogo de daqui a pouco, dificil decidir quem odiar mais. Dificil escolher o ano mais dolorido, 98 ou 50? Como eu ainda nao era nascida quando o Brasil recebeu a Copa e perdeu o titulo em casa, tenho tendência a torcer ligeiramente para o Uruguai. Por mais que eu adore morar na França, não da pra torcer pros Bleus, chorei pacas nos dois mundiais que fomos eliminados por ele. Ta engasgado, desgraça pouca pra eles é bobagem. Desejo o inferno, cheio de vulvuzelas de preferencia.

Pápi disse...

Dispenso-me de qualquer tipo de preferência para o jogo de daqui a pouco. Tenho, há exatos 42 dias, uma neta franco-brasileira, a maravilhosa Louise, e vou aguardar os argumentos dela sobre essas coisas de futebol e Copa do Mundo, quando ela achar conveniente expô-los. Mas ficou uma dúvida: será que o fato de os franceses não terem ido à Disneylandia em 94 foi o motivo de a Disneylandia ter ido para Paris? É a pergunta que não quer calar...

Luciana Nepomuceno disse...

Existe perfeição? Se existe parece com essa frase: Uma outra teoria, brasileira, afirma que nesse dia os franceses inventaram o biquinho. Diversão do mais alto nível (como espero que sejam os jogos da Copa...)

RC disse...

Antevejo de uma a duas "potências" dando adeus a Copa ainda na primeira fase. E isso só porque rola essa marmelada de incluir Nova Zelândia, Coréia do Norte...