sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A fábula da burocracia francesa


Era uma vez uma época onde o tempo passava tão lentamente que uma folha demorava dois dias e meio pra cair de uma árvore. Sem ter nada de mais útil pra fazer e porque a vida era deveras entediante, alguns habitantes de um país chamado Fromage, onde se comia muito francês, um produto branco e feito de leite, decidiram que doravante (era tão antigamente que ainda se usava "doravante") todos os assuntos deveriam ser tratados de forma escrita. Além disso, os documentos precisariam contar com a assinatura de um máximo de pessoas possível. Pra passar o tempo ou era isso ou jogar dominó, que ainda nem havia sido inventado.

Após duzentos e quinze anos de discussão sobre o tema, que precisou ser aprovado e reaprovado em dezoito instâncias, três velhos (e très velhos) sábios fromageiros tiveram a ideia de fazer um concurso mundial para unificar a nova filosofia e criar um nome para ela. Foram chamados pensadores de vários países: da Vodkaput, de Macarronni e até do Bacalhauau. Apesar do tempo recorde para criação e envio dos convites, apenas três gerações e meia, os bacalhauaueses não puderam participar, pois estavam ocupadíssimos aperfeiçoando a fórmula do pastel de nata e planejando descobrir o Sambrazyl dali a alguns milênios.

Mas eis que o concurso finalmente foi realizado. E o forte cheiro de francês fresco servido à volonté durante o evento atraiu um grupo de quibes que passava por perto. Três deles, Arkiv Odossier, Karim Baqui e Passam Anham, alegavam ampla experiência no assunto, queriam participar das discussões e, se bobear, faturar a premiação, ideia vetada pelo imperador Sharkozzy Osbourne.

- Trouxeram CPF?
- Não.
- E inscrição assinada em três vias?
- Também não.
- Passaram no cartório pra autenticar a assinatura?
- Passamo não.
- Fizeram uma procuração para delegar poderes a algum dos presentes?
- Fizemo não.
- E os trâmites, seguiram os trâmites legais?
- Seguimo não.
- Enviaram o dossier pelo correio junto com um cheque?
- Enviamo não.
- Carimbaram os documentos com o supervisor?
- Carimbamo não.
- Ah, assim não vai dar pra participar. Vocês não trouxeram nada.
- Trouxemo sim.
- O quê?

Dito isso, os quibes sacaram suas cimitarras e saíram barbarizando mutcho locamente. Fatiaram os fromages, desenrolharam os vodkaputos e picotaram os macarronnis. Só deixaram vivo o arquivador oficial do reino, o velho e surdo Craciia, encarregado de anotar o ocorrido.

- Craciia, registra aí na ata que esse sistema administrativo não nos apetece, tá bom?

Craciia anotou "o sistema é antigo, parece, mas é bom".

- E na sugestão de nome, escreve que é coisa de burro.
- Churro?
- De burro!!
- Murro?
- De burro, Craciia.

Ele anotou. E em seguida foi devidamente laminado pelos quibes, que disseminaram pelo mundo aquele documento, supostamente uma ode contra o sistema criado pelos fromages. O problema é que eles não entendiam tchungas do que estava escrito.

Moral: Era burro o Craciia. Mas não apenas ele.

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5 comentários:

Natalia Vaz disse...

Ô rapaz. E eu que pensei que lidar com francês fosse mais fácil. Tenho passado por cada perrengue. Meu nome errado em documento importante é o mínimo, até agora. ¬¬

Esperando que dê certo!

Muito me identifiquei com este post, Daniel.

Bisous.

Não importa disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAHHAAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAAHHAHAHAHAHAHAHHAAHA!!!
Cara, tu tem timing de stand-up! Ri muito!

Pápi disse...

Meu filho,
Essa coisa de burocracia serve pra esconder muita coisa dos intestinos do Estado. Aqui em Brasília abriram a Caixa de Pandora, mais uma. Tinha um governador e um vice dentro, além de outros (outros o quê?). E eles sempre contam com os publicitários: numa passagem do inquérito, o Arruda diz que tomou a decisão de contratar o Duda Mendonça -- aquele mesmo do Lula, do vinho não sei de quanto, das contas em paraísos fiscais, da briga de galos etc. -- para o ano que vem. Tome qualquer coisa contra náuseas e vá acompanhando...

Gabi Goulart Mora disse...

Quer provar a burocracia indiana? Seis visitas a policia lah no centrao para conseguir a permissao de residencia! Mas nao sei se no Brasil seria muito diferente. Beijo.

Unknown disse...

Pois não é que adotamos o pão-francês e a burocracia como coisa nossa?!
Bj!