Hoje, um amigo se foi. Faz frio em Paris, mas o sol brilhava quando eu recebi a notícia que ele tinha ido embora para sempre. Não deu nem pra dizer adeus. Da última vez que nos vimos, apenas um "vê se melhora dessa merda logo, porra", no tom de brincadeira que costumávamos falar um com o outro.
Há pouco menos de dois anos, ele e a esposa, em lua-de-mel, vieram nos visitar. Foram os primeiros amigos a compartilharem a minha então nova vida na cidade-luz. Tudo aqui ainda era meio desconhecido pra mim, e foi nessa época que descobri as framboesas. Se não me engano, estava junto com eles quando as provei pela primeira vez. Ao partirem, desejamo-nos votos mútos de "felicidades nessa nova fase". Além de saudades, deixaram de presente uma pequena framboeseira.
No verão, ela cresceu e deu frutos. No outono, perdeu as folhas. No inverno, manteve apenas o mínimo necessário para sobreviver. Veio a primavera e ela cresceu novamente. Em junho, quando o verão recomeçava, voltei novamente ao meu país. Deixei na França a framboeseira, magnífica. E encontrei no Brasil o meu amigo. Se sua saúde já estava bem abalada, seu humor e sua ironia continuavam os mesmos.
No começo do inverno, a framboeseira secou. Julgávamo-la morta. Na mesma época, meu caro amigo, quase um irmão, piorou de vez, para não mais melhorar.
Hoje, recebo a notícia de que ele se foi. Saio à varanda, para tomar ar fresco, e olho para a planta que ele nos deixou. Surpreende-me ver que existem pequenos brotos verdes nascendo, retomando a vida. De certa forma, sinto que ele estará sempre por perto.
Há 2 dias
15 comentários:
Acredito que a vida seja um milagre. Independente da religiosidade, somente o mecanismo humano funcionando, permitindo ao homem ter sentimentos e conseguir analisa-los, pra mim, já é um milagre. A verdade é que esses milagres duram por um certo período, um mais outros menos. E este milagre, me deixou imensas saudades..
Oi Dani,
sinto muito pela sua perda.
queria só deixar um abraço forte.
Gi
Eu estou lendo um livro em francês e por isso fui procurar no google um dicionário, então por acaso achei esse blog aqui. Comecei a ler os posts e realmente amei! Esse foi um dos mais lindos que já vi em um blog até hoje. Sinto muito sua perda (2) e torço sinceramente para que sua framboeseira continue sempre viva, você pode se surpreender muito com os frutos que ela ainda pode dar. ;)
...sinto muito, Daniel...
(...lirismo, mesmo na tristeza...)
Muito lindo o que você (tem acento?) escreveu e também triste,dá vontade de chorar, principalmente para nós que o conhecemos e vimos a sua batalha pela vida. Acho que ele deve estar lá em cima nos vendo e quem sabe preparando uma dieta para os anjinhos (talvez um manjar dos deuses). Um beijo bem grande para você e Charlotte. Saudades de mami
Mami está com saudade.
Olá, estava a toa na internet e resolvi procurar blogs de Paris. um da lista foi o seu, com este post comovente e muito bem escrito. mesmo não sabendo nada sobre vocês, me comoveu muito a história, a framboesa, as idas e vindas da vida. tentarei acompanhar seu blog, parabéns pelo trabalho!
Caro Daniel, sou um grande leitor do Chéri à Paris há algum tempo. Quero dizer que sinto muito pela sua perda (3). Tudo de bom para você. Um grande Abraço.
Bernardo
Dani, o texto está lindo! Bela homenagem para alguém tão querido!!!
Beijos!
As framboesas! Também deliciosas por aqui.
Lá fora faz frio. Há muita neve. Li seu texto e chorei. Também tive perdas na semana passada, menos de um ano depois da morte de minha mãe. Não sei quem era seu amigo. Mas sei a dor de perder quem adoramos. Então por isso, e por outras tantas coisas mais, meu abraço terno. Daniel, querido.
Agora, uma mistura de sentimentos e um grande estranhamento perante a morte. Tratamo-nos, eu e a morte, com descortesia. Ainda censuramo-nos muito. Não sou comedida e sábia o suficiente para internalizá-la como algo natural. Menina tola. Mastigo a dor e a perda com uma intensidade tamanha, que me consome e me faz gritar em silêncio.
Uma pausa-framboesa.
Faço-te um carinho. Em você e em sua pequenina framboeseira.
Fiquem bem.
Soraya Salomao
Dani, que lindo! Sinto a perda do Léo. Saudade grande de você, Bia
Daniel, como amante de Paris, estou sempre bisbilhotando os blogs de brasileiros em Paris, e o seu está no meu "favoritos", estou sempre por aqui...Hoje me emocionei com suas palavras, que pena que isto aconteceu, bonito vc. ter a franboeseira pertinho, dando frutos, lembrança viva de seu querido amigo...
Dani,
O Léo iria rir das framboesas...iria achar muito viadinho...mas lendo o que vc escreveu e lógico chorando aos prantos,penso que ele tinha muito de framboesa mesmo.Gentil mas nada enjoativo e com alguns espinhos...Como falou o Cris ontem na missa:o Leléo era um homem de vanguarda.kkk!Vanguarda louca né?Pq precisava ser o primeiro a morrer?Quem vai falar aqueles absurdos agora?As coisas continuam.Prá sempre vcs vão fazer aniversário juntos.Como vamos tirara aquele neguinho da nossa vida?Espero que a gente tenha mais tempo de tentar frutificar as coisas.
É como disse uma amiga em comum: "ele ainda caminha pela estrada, só fez uma curva".
Abraços a todos.
Olá,
acabei de chegar aqui pelo "Conexão Paris", depois "Pedalando"...e estou em lágrimas.
Adorei seu texto e voltarei sempre.
Um abraço apertado.
Adriana - BH
CariellÔ, ainda não tinha lido esse post...caramba, me emocionei muito.
Um abraço tardio e geograficamente distante, mas ainda assim bem apertado.
Gallô.
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