Há um dia
sexta-feira, 13 de abril de 2007
Entre touros e toureiros em Madri
Existem coisas que devemos fazer pelo menos uma vez na vida. Uma delas já fiz. Eu fui às touradas de Madri (pa ra ra tim bum bum bum).
É violento, é dramático e, para eles, é emocionante. Tem uns que gritam, outros choram. O toureiro é uma espécie de herói nacional. E se apresentar em Madri é como jogar no Maracanã. Depois de assistir uma dessas, garanto que você vai entender muito melhor os espanhóis.
Lá, na bela arena de Las Ventas, ao ver um toureiro cravar impiedosamente sua espada num touro previamente surrado, lembrei-me de uma cena que presenciei na outra vez que visitei a capital espanhola, no ano passado.
Fiz o trajeto Lisboa-Madri de ônibus. E – isso é uma coisa que nunca pensei que fosse dizer – senti saudades da Itapemirim.
Todo mundo falava alto, o motorista colocou uma música horrorosa nas caixas de som e, o pior de tudo, três americanos jogavam cartas e gritavam ao meu lado, enquanto eu tentava dormir. Um bordel.
Sempre que estava quase pegando no sono, gritavam de novo. Horas depois, quando já tinha desistido de cochilar, eles roncavam profundamente.
Não demorou muito, o ônibus parou. O motorista, com seu tamanho descomunal para cima e para os lados, anunciou no microfone:
- Todos tienen que bajar.
Com meu portunhol, deu pra entender que todos tínhamos que sair. E as pessoas foram descendo, uma a uma. Ficamos só eu e os americanos. Eu organizava umas coisas na mochila. Eles dormiam, de forma despreocupada, sem imaginar o perigo que literalmente se aproximava.
- Todos tienen que bajar ahora. Repetiu, enfatizando o ‘ahora’.
Falei que tava descendo. Mas ele veio andando ameaçador em direção ao fundo do ônibus. Parou do meu lado, em frente aos três.
Eu não acreditei quando o cara levantou a mão. Fui imediatamente transportado para um filme do Almodóvar, e vi a cena em câmera lenta. Nas minhas lembranças, nessa hora tocava uma música flamenca.
O motorista começou a estapear os pobres coitados. Naquele momento, já tinham virado pobres coitados. Desceu a mão. Tomando por base o tamanho do sujeito, a mão devia ser muito pesada. Como numa tourada, ele escolhia o ponto de ataque e ia com tudo. E depois repetia, com um sorriso muito satisfeito:
- Hay que bajar, hay que bajar!!!
Com a habilidade de um toureiro, desviava de todas as investidas das vítimas. Quase gritei “olé”, mas achei melhor ficar calado, assistindo a tudo. Era como em Las Ventas. E os touros-gringos, lançados à arena, sabiam que não tinham chance alguma, enquanto tentavam escapar de mais um sopapo.
Fim do espetáculo, todos desceram. O motorista entrou trinfual pela lanchonete, peito estufado e tudo. Os outros três ficaram no frio do lado de fora, dividindo um pacote de Cheetos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Hahahahahaha
Muito boa, muito boa!
Abraços.
Marcelo
Por mais que seja tradição, é foda esse negócio das touradas aí. Muito melhor mesmo ver o motora dando pala. =)
Postar um comentário