sexta-feira, 9 de março de 2012

Lagostas psicodélicas


Vistos de longe, os anos 60 foram a década em que metade do mundo parecia ter tomado um ácido. Músicas, filmes e livros psicodélicos brotavam por todos os cantos, como sementes (de papoula). A viagem era tão geral que nem as relações diplomáticas escaparam.

Veja a Guerra das Lagostas, incidente envolvendo o Brasil e a França, ocorrido entre 1961 e 1963.

O imbróglio começou quando barcos franceses vieram pescar lagostas na costa de Pernambuco. O governo brasileiro chiou. O francês bufou. O brasileiro ameaçou. O francês disse “merde!” e mandou uma frota de guerra. O brasileiro mandou os franceses tirarem os navios e os narizes da nossa costa.

Então a coisa complicou de vez e uma guerra tornou-se iminente. Foi aí que os diplomatas de ambos os países, que andavam meio entediados desde o fim da década de 40, entraram na parada.

Na mesa de negociações, os nossos disseram que as lagostas estavam em território brasileiro e dessa forma nos pertenciam. Os franceses concordaram e discordaram ao mesmo tempo, alegando que enquanto andavam e tocavam o fundo do mar, tais crustáceos realmente respondiam às leis de pindorama. No entanto, quando nadavam, estariam em águas internacionais e, portanto, não tinham passaporte e poderiam ser livremente pescadas.

A história ficou tão malucrazy que nesse instante o General de Gaulle proferiu - ou não, porque ninguém sabe se é verdade mesmo - a sua frase mais famosa em terras tupiniquins: “Le Brésil, ce n’est pas un pays sérieux”, o Brasil não é um país sério. E ele queria o quê, oras, que a gente não entrasse na brincadeira?

O quiproquó só foi resolvido quando um almirante brasileiro soltou o argumento mais brilhantemente psicodélico possível, afirmando que se as lagostas quando nadam podem ser consideradas peixes, então os cangurus quando saltam seriam nada menos do que aves.

Brasileiros e franceses concordaram que o raciocínio fazia muito sentido. E acendeu-se então o cachimbo da paz.

4 comentários:

Anônimo disse...

Adooooooooro quando suas crônicas tratam de política. Bjos!

Anônimo disse...

kkkkkkkk

muito bom Daniel!!!!

abraços do teu irmão

Papi Pai disse...

Monsieur,je suis désolé, mas há controvérsias a respeito. Consta que o que se decidiu naquele momento foi que nós ficaríamos com as lagostas, a goiabada, Sandy e a cachaça, os franceses com os scargots, o macaron, Édith Piaf e o vinho. As lagostas habitam a plataforma continental do oceano, os scargots não se sabe bem onde vivem (nem por que). Melhor assim, mas esse acordo deve ter alguma coisa a ver com o fato de nunca mais termos tido dinheiro para comprar lagostas e de termos virado fregueses dos caras no futebol, apanhando mais que os piratas apanham da turma de Asterix.

Não importa disse...

É excelente dar gargalhadas lendo este blog.