sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Não estamos a seu serviço

O garçom parisiense, eu acho que ainda não falei suficientemente dele, o garçom parisiense acha que você teve a pior ideia do mundo quando escolheu ir ao restaurante no qual ele trabalha. Ora, se há tantos outros por perto, por que você tinha que aparecer logo ali? Agora ele vai ser obrigado a te atender, ou a fazer algo parecido com com isso.

Você chega ao restaurante, escolhe uma mesa, senta e espera que o sujeito venha te falar. E espera. Espera e olha para ele, na expectativa de ser notado, mas ele te ignora de uma maneira que nem o pai da sua ex-namorada conseguiu fazer depois de você ter enchido a cara e dado vexame na festa de aniversário da sobrinha de 2 anos, com toda a família reunida.

E quando você já começa a perder as esperanças, ele chega de supetão.

- Alors, o que deseja?

Nessa hora você, inocentemente, comete o erro fatal, a gafe imperdoável, o absurdo dos absurdos: pede o menu. O garçom te olha com cara de quem está morrendo de vontade de te jogar na frente do primeiro ônibus biarticulado e aponta para a parede com o queixo.

- O menu está ali, em letras gigantes.

Inexperiente, você cai no segundo equívoco, o de pedir explicação sobre a comida. Ora, quem nesse mundo não sabe o que tem em um prato chamado “Comme un céviche de daurade royale aux herbes, mesclun aux feuilles de moutarde et pignons de pin“? Se não sabe, por que foi inventar de ir àquele estabelecimento, hein? Contendo o impulso de te mandar catar azeitonas na Grécia com o pé esquerdo, ele dá uma bufada ao mesmo tempo que devolve a pergunta.

- Qual parte exatamente o senhor não compreendeu?

Em um ato de extrema e rara benevolência, o distinto decide te conceder mais 11 segundos do seu precioso tempo e narra um resumo explicativo dos pratos do dia, em uma velocidade de causar inveja em locutor de futebol no rádio. Consternado e já quase pedindo desculpas, você opta pelo único que entendeu, o “steak frites”, que deduz corretamente ser o glorioso bife com batatas fritas. O único que não dá margem a erros. Ou quase.

- Cozimento da carne, monsieur?

O cozimento da carne? Você ainda não pensou a respeito, merde! No desespero, faz uma cara de piedade, na esperança de que ele decida por você, mas o olhar do cidadão é tão congelante que você sente frio até na alma. Em pânico, diz a primeira coisa que vem à cabeça.

- Bem passada, por fa...

Mas não consegue terminar a frase.

- Carne bem passada fica dura e sem gosto. Não presta. Ou você pede outro cozimento ou escolhe outro prato. O peixe com pimentões e tomates é bom.

Apavorado, você aceita a sugestão, sem nem ter escutado direito, com o único pensamento de se ver logo livre do sujeito. Pouco depois, ele traz a sua comida e só aí você se lembra que detesta pimentão. Por um segundo, você chega a cogitar a possibilidade de dizer que não era bem isso o que gostaria de ter pedido, de saber se seria possível ele ser compreensível e trocar pimentões por batatas, mas o garçom parisiense lê o seu pensamento e te manda um olhar glacial e uma bufada do outro lado do restaurante. Nesse exato momento você se convence de que você e o pimentão nasceram um para o outro.

10 comentários:

Anônimo disse...

haushaushaus medo!

Yago Medeiros disse...

Seus textos são sempre muito bons, parabéns!

corujinha disse...

Parfait!!

Michelle disse...

Adorei seus textos!!! Parabéns. Estou planejando minha ida para Europa em dezembro. Paris é onde ficarei mais tempo, mas já conheço. Estou escrevendo um blog para planejar e organizar esta viagem. Hoje publiquei uma lista interessante de reataurantes. passe por meu blog para deixar suas dicas...espero sua visita. O blog é : http://estouindoparaeuropa.blogspot.com/ Te aguardo! Abraço Michelle

elizabeth guttler disse...

acho que nao e so na frança e na italia tb e talvez na europa toda esse jeito de trabalhar

Milena F. disse...

Achei o texto muito divertido!
Existe toda essa paródia do "garçon de paris", mas ainda nunca aconteceu nada parecido comigo... Primeiro nunca sento antes que o serveur venha me ver e me indicar uma mesa ou me dizer para escolher uma.
E quando a gente senta, a primeira coisa que colocam é um cardápio da nossa frente. Mas claro que se a gente "demora" para pedir, eles aparecem a cada 30 segundos para perguntar se já escolhemos!
As vezes claro não tem cardapio, é apenas o quadro negro, mas entao eles colocam o quadro bem diante dos nossos olhos...
Sempre faço alguma pergunta sobre os pratos e nunca tive problema com isso, eles sempre respondem sobre o acompanhamento, como é feito, ou se pode ou não trocar algum ingrediente.
Em resumo, acho que com um sorrisinho e bom humor podemos apreciar e muito essa experiência do restaurante francês!!!

Anônimo disse...

Segui a trilha da Maggie Mae.
Amei o texto seu que ela postou. Me diverti com estas agruras no restaurante, pretendo ler mais.

ótimos textos, ótimo blog!

Se desejar conhecer o meu será super bem vindo. Abçs!

Thadeu disse...

exatamente o que acontece em 99% dos restaurantes aqui!! muito bom conto!!

Maria Auxiliadora Servini disse...

Li com tanto prazer as suas crônicas, que vou guarda-las
para reler.
Obrigada por sua bela contribuição
às minhas leituras.
Não pode editar um livro com todas?
Seria o maior presente.
Nós e você merecemos.
Abraços e agradecimentos.
Auxiliadora

Chéri disse...

Obrigado, Auxiliadora. O livro deve sair, sim. Espero que ainda esse ano. Pode deixar que aviso por aqui.

Abraços!