sexta-feira, 8 de agosto de 2008

E pro jantar?

(Renoir - Déjeuner des Canotiers)

A comida é uma grande obsessão na pátria de Paul Bocuse. Tão grande que, enquanto se come, fala-se do que se irá comer mais tarde. Ou do que já se comeu antes.

- E pro jantar?
- Coq au vin.
- Amo frango ao vinho.
- Eu também. Mas nada se compara à maravilha que comi semana passada na casa do Gérôme.
- E o que foi?
- Pato com laranjas. Não existe melhor que o dele.
- Você diz isso porque ainda não provou o peru com castanhas que a Julie prepara.
- Já me disseram que é divino.
- Divino, divino.
- A Julie uma vez me convidou para uma tarde de crepes.
- Que inveja...
- Tinha de queijo e presunto, de champignons, de ratatouille e, pra sobremesa, crepe Suzette.
- Crepe Suzette da Julie?
- O mitológico crepe Suzette da Julie.
- Inimitável.
- Incomparável.
- Semana passada sonhei com ele cinco dias seguidos.
- Me deu tanta vontade que vou até fazer crepe amanhã para a sobremesa, depois do steak tartare.
- Tem steak tartare pro almoço?
- Tem sim. E foie gras de entrada.
- Já estou com água na boca.
- Foie gras é o manjar dos deuses. No casamento da Heloïse eu comi frito. Já provou?
- Nunca. É bom?
- Ô.
- Não foi nesse mesmo casamento que serviram blanquette de veau?
- Não, não. A blanquette foi no casamento do Fabrice. Antes daquelas batatas gratinadas divinas.
- Divinas, divinas.
- Você estava lá?
- Claro. Não lembra? Fomos juntos, depois de tomarmos o aperô na casa do Patrick.
- Patrick Florian?
- Ele mesmo. Grande anfitrião. Serviu-nos um delicioso fondue bourguignonne.
- Agora lembro. Foi nesse dia que a Marguerite Ducrois queimou feio os dedos.
- Coitada. Deixou a carne cair no óleo quente e tentou pegá-la.
- Eu ainda gritei: "Marguerite, atenção!".
- E a pobre entendeu "com a mão!".
- Queimou tanto que precisou largar o emprego de digitadora.
- A vantagem é que passou a ter mais tempo para cozinhar para os amigos.
- Isso é mesmo uma grande vantagem. As quiches da Marguerite são realmente...
- Divinas.
- Divinas, divinas.
- Combinam perfeitamente com o crème brûlée do La Grille, o restaurante lá perto de casa.
- O deles tem aquela casquinha bem crocante?
- Bem crocante.
- Nem me diga. Crème brûlée é a minha perdição.
- Nossa, conversamos tanto que esquecemos do coq ao vin. Qual pedaço você quer?
- Nenhum.
- Nenhum?
- Depois de falar tanto de comida? Quer que eu engorde?

7 comentários:

Anônimo disse...

Nunca superei o aspecto visual de ratatouille ao ponto de dar uma provadinha. :(

:*

Anônimo disse...

Mas as batatas gratinadas são coisa linda de Deus!

Anônimo disse...

que fome!

Cidade Cognitiva disse...

pô, cara! tô de regime... hoje vou comer um paprika schnietzel... que a Cris (neta de alemón) vai fazer, com um vinho de Caxia do Sul, daqueles da colonia. hummm depois um Kibon mesmo, apesar do frio, em seguida um Café Expresso no shopping. Nada é como em Paris, mas... enfim, a fome é a mesma. abx

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

...uia, temos posts parentes!!
http://claraemneve.blogspot.com/2008/07/falar-de-comida-quase-to-bom-quanto-com.html

Anônimo disse...

Eis uma da diferenca entre os franceses e os ingleses. Os dois fanfarroes criaram muita coisa, provavelmente durante seus periodos aureos de monarquia, mas cada um foi criativo demais pra um genero de lazer. Os franceses, a comida. Os ingleses, os jogos. Os americanos nao negam a origem. Ou nao...