sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A espreguiçadeira do Migué

Uma amiga da minha mãe resolveu gentilmente colaborar com a minha reinstalação no Brasil e me deu uma geladeira praticamente nova que ela não usava mais. Vamos chamá-la de Babusha (a amiga, não a geladeira). Pra carregar o treco, convoquei um amigo meu, dono de uma mini-camionete e de uma massa muscular consequente. Fomos lá.

- Daniel, a geladeira está ali, embalada em papel bolha desde a minha mudança para essa casa. Está em perfeitas condições. Aproveita e leva também aquela espreguiçadeira dobrável que está atrás da porta, ninguém aqui usa mesmo.

Cheguei perto do trambolho (a geladeira, não a amiga) e fiquei olhando pra ela desanimado, imaginando como transportar aquilo até o carro. Nisso, meu amigo pediu licença, abraçou-a como um urso e a levantou sozinho. Apavorada, Babusha chamou os filhos para ajudar.

- Saul! Migué! O Daniel tá aqui e veio buscar a geladeira. Desçam rápido pra dar um alô pra ele e ajudar a transportá-la.

Pra não pagar o mico de estar com as mãos abanando quando os filhos dela chegassem, enquanto meu amigo fazia o trabalho pesado, fui levar a espreguiçadeira para a caçamba do veículo. Saul desceu primeiro e me cumprimentou.

- Olá, como vai?
- Eu vou indo, e você?
- Tudo bem.

Logo em seguida veio o Migué. Ele me viu de longe e abriu um sorriso, que foi se transformando em cara de pânico à medida em que chegava mais perto. Não disse nem "oi". Virou pra mãe e protestou.

- Mas você tá dando a minha espreguiçadeira pro Daniel?
- Tô. Você não usa.
- Uso. É a minha cadeira preferida.

Com a espreguiçadeira na mão, senti-me um ladrão pego em flagrante. Sem graça, fiz menção de devolvê-la, no que fui repreendido por Babusha.

- Nada disso, Daniel. Ela é sua. Está encostada há um tempão, ocupando espaço. Você me faz um favor levando daqui.

Aliviado, acomodei-a na caçamba. Migué protestou.

- Nada disso. Eu gosto dela. Quero de volta.

Tirei novamente do carro. Saul, que até então assistia calado, interveio.

- Leva, Daniel. Isso só acumula poeira aqui em casa.

Devolvi-a outra vez à caminhonete. E o Migué continuou reclamando.

- É minha poltrona favorita pra ver futebol. Ela fica.
- Ela vai, disse Babusha.
- Não vai não.
- Ah, se vai, completou Saul.
- De jeito nenhum.
- Vai.

Os três decidiam o destino da cadeira de uma maneira tão italiana que paramos pra assistir, eu e o meu amigo, que continuava abraçado à geladeira. Se Fellini passasse por ali naquele momento, teria conteúdo para uma trilogia.

Por fim, depois de longos minutos e com a discussão longe de terminar, tomei uma decisão sobre a espreguiçadeira do Migué. Mas não vou contar antes de quarta-feira, na area de comentários desse texto. Antes disso, gostaria de saber: e vocês, o que fariam?

8 comentários:

Carol disse...

Hahahahaha!!!!! Não sei, mas sendo família "italiana", é melhor obedecer à mama, ou ela te deixa sem espaguete!

Adriana disse...

Leva!
Se o Migue quisesse mesmo, ele grudava na espreguicadeira e nao deixava levar. Ele so quer discutir, entao, levando, vc agrada os tres!
So nao sei se vc agrada a vc mesmo levando esse trambolho rsrsrsrsrs

Anônimo disse...

Acho que vc devolveu o "brinquedo" pra criança, digo, pro Migue...

Vinícius Pessoa disse...

Devolveu para o migué...

Yara disse...

E então, o que aconteceu??? Estou morta de curiosidade...

Anônimo disse...

Sei lá por via de duvidas devolvo e saio de fininho pra não ficar mais sem graça.

Chéri disse...

Recebi duas outras sugestões que merecem ser compartilhadas aqui.

O Marcelo disse: "Eu teria armado a espreguiçadeira na calçada para avaliar melhor a cena."

E a Eunice fez até um poeminha:

"Devolveria com a desculpa de que voltaria para buscar.
Alguns objetos são tão pessoais, que não era uma questão de usar, mas talvez amar.

Eu amo esta cadeira que me afaga
dia a dia no meu tormento
de fazer lições, trabalhar
É ali meu especial momento
Nem é cadeira mas amiga,
já há tanto tempo ali
que seu conforto é um abraço
seu regaço suave meu alento.
E me sento no seu colo todo dia
Minha amiga! Que fada!
Em seu vestido listado."


A verdade é menos poética. Eu peguei a cadeira e convidei o Migué a ver o próximo jogo do flamengo lá em casa. Só não sei ainda se vou deixá-lo sentar na espreguiçadeira ou se vou arrumar uma almofada pra ele. Veremos...

anareis disse...

Querida(o) amiga(o). Estou fazendo uma Campanha de doações pra ajudar os jovens rapazes que estão internados no Centro de Recuperação de Dependentes Químicos onde meu filho está interno também.Lá tem jovens que chegam só com a roupa do corpo,abandonados pela família. Eles precisam de tudo:roupas masculinas,calçados,sabonetes,toalhas,pasta de dentes,escovas de dentes,de um freezer, Roupas de cama,alimentos. O centro de recuperação sobrevive de doações,são mais de 300 homens internos.Eles merecem uma chance. Quem puder me ajudar pode doar qualquer quantia no Banco do Brasil agência 1257-2 Conta 32882-0