A casa da Carol e do Alberto é a segunda embaixada brasileira em Paris. E eu não digo isso só porque sou amigo da Carol há quase 20 anos.
Em que outro lugar da cidade a gente chega pra almoçar e tem picanha fatiada e feijão preto na mesa? Ainda não inventaram remédio melhor do que uma boa comida brasileira pros momentos em que bate aquela melancolia que deixa a gente pensando demais no nosso país e nas pessoas que estão lá.
E tem as festas dos gêmeos João e Pedro, com brigadeiro e bolo bem doce e coberto de montes de chocolate, que eu adoro. Coisas que os franceses desconhecem, mas todos os que petiscam acabam gostando. Assim como aprovam a coxinha de galinha, o pastel e o mini-quibe, que dividem numa boa a mesa com as quiches de todos os tipos, tudo maravilhosamente preparado pela Dinha.
O João e o Pedro matam todos os adultos de inveja por falarem duas línguas sem sotaque, aos quatro anos de idade. Sem dar bola pra isso, adoram brincar de aviãozinho comigo, seguido de uma seção de cosquinhas e de um pique-pega que eles acabam ganhando, pois não se cansam nunca. E de uns tempos pra cá os dois resolveram ser músicos. O João começa a martelar o piano enquanto o Pedro já tira as primeiras notas no violino. Teve uma vez que cantamos o hino brasileiro juntos. Em seguida, puxei a Marseillaise. Eu abandonei depois de “marchons, marchons”, mas eles continuaram até o fim, fazendo biquinho e tudo.
Como em toda embaixada que se preze, na casa da Carol e do Alberto tem gente de todo canto. Uma noite dessas a tagarelice era em três idiomas, com o inglês juntando-se aos já habituais francês e português, muitas vezes misturados na mesma frase. E não é raro pintar alguém falando outra língua, como espanhol ou italiano.
Lá é o melhor lugar pra dizermos que sentimos falta de Brasília, mas não do transporte público e dos homens públicos de lá. Pra confessarmos que, pensando bem, adoramos a seca do mês de agosto que aterroriza os candangos. “É só colocar uma bacia de água ao lado da cama”, simplificamos. Pra, mais uma vez, reclamar do inverno e das múltiplas camadas de roupa que somos obrigados a usar. “Mas da neve eu gosto”, contemporizamos.
Pra comentar de vinhos como se fôssemos franceses de nascença - "esse é mais encorpado, com retrogosto de cereja" - e criticar o hábito local de tomar cerveja quase quente. Pra confessar que às vezes dá uma vontade danada de comer tapioca na manteiga e depois se perguntar como vamos fazer pra viver sem todos esses queijos franceses quando voltarmos para o Brasil.
E sempre tem a seção musical de fim de noite. A boa música rola por lá o tempo inteiro, mas é só quando estamos em petit comité que dá pra discutir as letras de Chico e Vinícius, as fases de Gil e Caetano, as guitarras de Sérgio Dias e Herbert Viana. Dá até pra nos emocionarmos ao som de Tempo Perdido, que parece fazer mais sentido a cada vez que a escutamos. Muito mais do que fazia em 1994, quando conheci a Carol. Afinal, somos jovens, mas já nem tanto assim.
Se a Carol e o Alberto colocarem uma bandeira brasileira pendurada na janela, é capaz de serem proclamados diplomatas honorários, com o João e o Pedro dividindo o cargo de embaixador.
Esse texto faz parte da série "Autour de Paris", de crônicas dedicadas a cada um dos bairros da cidade. Para ler os outros, clique aqui.
4 comentários:
A casa de Carolzinha e Alberto é acochegante por de-más! E os gêmeos são fofos de transbordar.
Beijos para todos dessa casa e para o CariellÔôÔô, Charlotte e Louise.
O inverno é duro não? Aí a saudade aperta....
Mesmo gostando da neve, coisa que não posso opinar, pois não conheço, o melhor mesmo é um belo sol e belas praias para curtir .
Estamos esperando vcs em breve.
Beijos nos três.
Mami
nossa, adorei o post, mesmo sendo bem sei lá triste, gostei mto, se tivesse uma bandeira do Brasil na porta eu iria visitar....ahhahahhahah
abraços...
Buáááááááááá, me dá vontade de chorar de uma saudade misturada, metade saudade daí, metade saudade daqui, metade alegria, metade tristeza. Seu post me pegou metade bêbada, metade curtindo a casa da Pedrita, metade pensando no meu amigo brasiliense-parisiense que eu tenho tanta sorte de ter comigo. Amo vocês, meu Daney. Findi que vem quero ter no Boulevard Exelmans uma farra igual a essa aqui, da 210 sul.
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