tag:blogger.com,1999:blog-46062982159049070232024-03-13T12:50:39.984-03:00Chéri à ParisDesventuras de um brasileiro na terra do fromage.Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.comBlogger267125tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-90175376279994471082013-12-04T22:54:00.000-02:002013-12-05T10:33:23.192-02:00Chéri virou livro!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMXO3OUGTGY8r6EqRtxG5DNXgsCc3ALewKnRk8kt-wOb9CM9CtRSQsfAGDifDvHFcpAqliiPBZImQeje3jRVCOCyPu7Y3f-Mbmx5IoUTp1WvqfRemUpUCer__E6ePPFXAP-p_5pxU-FAcz/s1600/Capa+Cheri.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMXO3OUGTGY8r6EqRtxG5DNXgsCc3ALewKnRk8kt-wOb9CM9CtRSQsfAGDifDvHFcpAqliiPBZImQeje3jRVCOCyPu7Y3f-Mbmx5IoUTp1WvqfRemUpUCer__E6ePPFXAP-p_5pxU-FAcz/s320/Capa+Cheri.png" width="208" /></a></div>
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">O site Chéri à Paris foi criado há quase 7 anos, assim que cheguei à França e senti que precisava registrar aquela experiência de alguma maneira. Durante 5 anos, escrevi crônicas semanais sobre as desventuras de um brasileiro na terra do fromage. Diversas foram republicadas por veículos como Le Monde Diplomatique online, Magazine Brazuca e UOL.</span><br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Depois desse tempo todo, ainda não aprendi a fazer direito o maldito biquinho, mas, finalmente, vou atingir meu segundo objetivo: lançar as crônicas em livro!</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
São 48 textos que procuram passar um pouco da experiência de viver em um país estrangeiro: da chegada à adaptação, do sentimento de sentir-se em casa ao momento do retorno à terra natal. Ou da surpresa de constatar que não há pão francês na França (foi mal aí pelo spoiler) à dificuldade em traduzir expressões como "toca Raul!".</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Então fica assim: você está sendo oficialmente convidado para a noite de lançamento de Chéri à Paris - Um brasileiro na terra do fromage, que acontecerá na cabalística noite de 11/12/13 (melhor não bobear e aparecer), no foyer do Cine Brasília (que, não por acaso, fica em Brasília), a partir das 19h.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Se um livro não é motivo suficiente para você vir à capital, saiba que na data estarão sendo lançados 4. Além do Chéri, há ainda Anti-heróis e Aspirinas (Yury Hermuche), Depois das monções (Gabriela Goulart Mora) e A rua de todo mundo (Carolina Nogueira). Como amigos de longa data que somos, criamos o selo Longe, que une as obras em torno do conceito de viagens, distâncias e estranhamentos, temas comuns a todos os livros.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Se quatro livros não bastam, saiba que no cinema haverá a exibição de filmes de cineastas de Brasília que possuem relação com os temas da noite.<br />
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Se nada disso te convencer, concentre-se na data: em 11/12/13, por via das dúvidas, não fique em casa. Esteja avisada, madame, esteja avisado, monsieur.</div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<b>Vai um resumão:</b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Lançamento dos livros Chéri à Paris, Anti-heróis e aspirinas, Depois das monções e A rua de todo mundo.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
No Cine Brasília, o mais bacana e tradicional cinema de Brasília</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
Em 11/12/13 (ó...), às 19h<br />
<a href="http://www.danielcariello.com.br/downloads/ReleaseLonge.zip" target="_blank">Baixe aqui o release</a> do evento e do selo Longe<br />
<br /></div>
<span style="color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><i><br /></i></span>
<span style="color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><i>Ps: Em breve divulgo por aqui o site para comprar o livro nas versões impressa e ebook.</i></span><br />
<span style="color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-78316869329903387532013-03-08T17:26:00.000-03:002013-03-11T16:51:29.173-03:00Retornar<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim5Eo5eCKw9ieLZMXt_eVe6kJGsLUUfSQii1jLsd52cmkVixZTRp8WSgOB6Z5Iu7uuQiQHiERFL1zVHI91P767Ql0ZJp89HOZEcWN3ki9w8TTVf9lvwmKetFcV_rOHPeohRHywiFj9B-66/s1600/paris.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="124" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim5Eo5eCKw9ieLZMXt_eVe6kJGsLUUfSQii1jLsd52cmkVixZTRp8WSgOB6Z5Iu7uuQiQHiERFL1zVHI91P767Ql0ZJp89HOZEcWN3ki9w8TTVf9lvwmKetFcV_rOHPeohRHywiFj9B-66/s200/paris.jpg" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="background-color: white; font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="color: #222222;">É redescobrir as cores do </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2008/04/calendrio-de-inverno.html" target="_blank"><span style="color: #444444;">inverno</span></a><span style="color: #222222;">. O ciano da luz do sol, cuja tonalidade muda de acordo com a época do ano. O cinza nas ruas e nas faces embebidas da estação. O vermelho nas bochechas e narizes queimados pelo frio e pela secura.</span></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É remexer no baú de olfatos e paladares quase adormecidos. Virar a esquina e tropeçar em um cheiro surpreendente de tão familiar. Virar um copo e tomar um grande gole de memória afetiva tinta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É reouvir a peculiar música das cidades, das ruas, dos restaurantes, dos cafés, das vozes. Uma melodia quase monocórdia, entoada sem síncope, porém bem ritmada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="color: #222222;">É ressentir o vento frio e cobrir-se para enfrentá-lo. E, ao sair de casa, levantar a cabeça e contemplar os </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2008/12/paris-para-crianas-ii.html" target="_blank"><span style="color: #444444;">flocos de neve</span></a><span style="color: #222222;"> caírem sobre os óculos para então liquefazerem-se.</span></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É requentar-se com amigos que ao longo dos anos dividiram um pouco de suas culturas, suas experiências, suas referências. E ficavam felizes quando compartilhava a minha brasilidade com eles, mesmo que nunca tenha sido capaz de ensinar a dançar “la samba”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">É relembrar rotas esquecidas, retomar ruas deslembradas, percorrer caminhos extraviados. E achar-se um pouco ao longo de cada um deles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Retornar à França, mesmo que apenas de passagem, é revisitar a pessoa que me tornei ao longo dos últimos anos. É reencontrar com uma parte de mim qui me manquait beaucoup.</span></div>
<div style="font-family: arial; font-size: small;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="color: #335577; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: xx-small; line-height: 16px;">Chers amis, esse é o último texto dessa temporada do Chéri à Paris, que voltou por cinco semanas, cinco textos, o tempo das minhas férias na França. Um abraço a todos et à bientôt! </span></blockquote>
</div>
</div>
Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-55043230984737170132013-03-01T12:26:00.000-03:002013-03-01T12:26:06.957-03:00Um dia qualquer<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQjo-LUEbN_QYqXYb2ziTloU3zk2pHLB984blFcvOhn-uveIVCzRvlfoTEcrXuv29kYBJex0OwRz0W_LhVEqiSRV9fRlqPwU7PTvHgAvZh_npvU0j7i-f96nUcgCNwqBprXROuSdmls78_/s1600/PontArtBancNuit.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQjo-LUEbN_QYqXYb2ziTloU3zk2pHLB984blFcvOhn-uveIVCzRvlfoTEcrXuv29kYBJex0OwRz0W_LhVEqiSRV9fRlqPwU7PTvHgAvZh_npvU0j7i-f96nUcgCNwqBprXROuSdmls78_/s200/PontArtBancNuit.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Era um dia como outro qualquer. Fazia frio, como qualquer outro dia dessa época do ano. Ele pegou o primeiro casaco e o primeiro sobretudo que encontrou no armário. Saiu de casa não por que não tinha escolha, mas porque já dera inúmeras voltas nos seus doze metros quadrados. Não por que fazia grande diferença pra ele, mas porque cansara do espelho, que refletia um rosto com resquícios de juventude, no entanto cansado, ainda belo, porém mal cuidado.</span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="color: #222222;">Pegou a </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.fr/2010/11/autour-de-paris-x-strasbourg-saint.html" target="_blank"><span style="color: #444444;">rue du Faubourg Saint-Denis</span></a><span style="color: #222222;"> e se disse, como se dizia todas as vezes, que aquele bairro estava perdendo sua alma. Que os restaurantes indianos apimentados e baratos e os comércios locais de quinquilharias estavam cedendo lugar a bares descolados e da moda e a franquias de marcas consagradas, os mesmos que podiam ser encontrados com pequenas variações em qualquer outra grande cidade do mundo. "Está perdendo a alma", repetiu mais uma vez, antes de passar sob o enorme arco que um dia fora uma das portas de Paris.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Continuou caminhando sem rumo preciso e decidiu parar para um café. Entrou no primeiro que viu, pois realmente não importava, sacou o telefone, desligado havia quatro ou cinco dias, e verificou que não havia recebido nenhuma ligação ou mensagem. Conferiu as horas, mais por reflexo que por necessidade, plugou os fones e colocou uma música pra tocar em modo aleatório. Deixou três moedas sobre a mesa e saiu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Entrou no Forum Les Halles e se dirigiu ao cinema. Hesitou entre as duas dezenas de filmes em cartaz e acabou decidindo por nenhum. Santou em um banco e passou trinta, quarenta minutos só vendo as pessoas passarem com suas compras e suas pressas. Levantou-se, pegou a escada rolante e voltou à superfície. Foi andando em direção à Beaubourg, mas antes de chegar virou à direita e encaminhou-se para o Sena.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Em Chatêlet, achou que tinha fome e parou para comer um crepe de queijo, em pé. Não bebeu nada. Olhou para o trânsito, para as crianças no parque, para a torre, para o céu cinza, p<span lang="PT-BR">ara os flocos de neve que caíam esporadicamente</span> e tornou a baixar a cabeça. Dirigiu-se lentamente para Pont des Arts. A música já havia parado, mas os fones continuavam no ouvido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Chegou até o meio da ponte, encostou no parapeito e inclinou a cabeça para baixo. Observou a passagem dos bateaux mouches e das pessoas que invariavelmente acenavam, mas não esboçou reação. Seus óculos escaparam do rosto e ele nem tentou segurá-los. Acabaram afundando para sempre no rio.</span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="font-size: 7pt; text-indent: -18pt;">= </span><span style="text-indent: -18pt;">Albert, Albert! Alguém gritou. Ele se chamava Albert, mas não virou o rosto. </span></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="text-indent: -18pt;">- </span><span style="text-indent: -18pt;">Albert, c’est moi! Tu ne me reconnais pas? Talvez até reconhecesse, mas nada disse. E sem nada dizer, virou-se e tomou exatamente o mesmo caminho de volta.</span></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Chegou à rue du Faubourg Saint-Denis e observou as lojas chiques, os restaurantes cheios e os novos transeuntes, que tomavam pouco a pouco o lugar dos velhos. "Perdeu a alma", pensou em voz alta.</span></div>
<div class="" style="color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="background-color: white; color: #335577; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; font-size: xx-small; line-height: 16px; text-align: left;">Chers amis, o Chéri à Paris voltou por cinco semanas, cinco textos, o tempo das minhas férias na França. Esse é o quarto deles. O próximo - e último dessa temporada - estará no ar na 6a feira que vem. </span></blockquote>
</div>
Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-28590302529102908332013-02-22T07:11:00.001-03:002013-02-22T07:11:14.838-03:00Um reino por um dedo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNILlIiQwIGO7lXcsM81Uy0APICKsTcoayeuYrR3NDp4TkjUvL2bE0JRiMDRIFCDIHstsZrYmmOqUpXXNl6qM78Nnp9KB1ofJtDwq8c1nm2gCks1s-uFXszkXSgSj8BNXp9qikuOYTGo-r/s1600/3842539722_e6c0b665c8_z.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNILlIiQwIGO7lXcsM81Uy0APICKsTcoayeuYrR3NDp4TkjUvL2bE0JRiMDRIFCDIHstsZrYmmOqUpXXNl6qM78Nnp9KB1ofJtDwq8c1nm2gCks1s-uFXszkXSgSj8BNXp9qikuOYTGo-r/s200/3842539722_e6c0b665c8_z.jpg" width="141" /></a></div>
<div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><span style="color: #444444;"> <a href="http://cheriaparis.blogspot.fr/2010/05/louise.html" target="_blank">A Louise</a></span> nunca teve chupeta. No entanto, compensou a
necessidade inata de sucção chupando o polegar esquerdo. Chupando, não,
castigando o pobre coitado, tamanha a fúria com a qual o sugava.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Tentamos fazê-la parar.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Loulou, tem que parar, não é bom.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- É bom, sim, pai. Aqui, ó.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">E lascava novamente o dedo na boca, como se fosse um doce.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Levamos ao dentista, que endossou nosso discurso.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Ei, Louise, você precisa parar de chupar o dedo. Tem que
cuidar dos dentinhos. <br />
- Mas eu já cuido com a escova. Né, pai?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Eu respondia que era, mas que não era, porque para ser mesmo
era preciso ser de verdade. Ela não entendeu nada. Tentei simplificar.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Do contrário, Louise, você vai precisar usar aparelho
quando for grande.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Eu quero usar aparelho, pai.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- E você sabe o que é aparelho?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Não.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Teve também o dia em que a levamos ao médico.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Como vai a saúde dela?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Tá ótima. <br />
- Dorme e come bem?<br />
- Até demais.<br />
- Ainda coloca fralda?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Só pra dormir.<br />
- E chupeta?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Nunca usou, mas chupa o dedo loucamente. Chegou até a
fazer um calo no polegar, olha aqui.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">E virou-se pra ela.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Louise, você machucou o seu dedinho de tanto chupá-lo.
Precisa parar, pra ele ficar bom.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Mas ele já está bom. Papai e mamãe deram um beijinho e ele
melhorou.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Não tinha mesmo jeito. Ou parecia não ter. Até o dia em que
a mãe veio me contar a novidade.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- A Louise vai parar de chupar o dedo.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- E eu vou aprender a voar rodando os braços.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Tô falando sério. </span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Eu também. Já comecei a treinar ontem, pulando do sofá.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Eu a convenci.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- ?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Falei que se ela parasse a gente daria uma boneca de
princesa da Branca de Neve.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- É impressão minha ou você está chantageando uma menina de
dois anos?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Não. Eu disse que seria uma recompensa pelo esforço dela.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Ah, então está negociando com ela, realmente muito melhor.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Vai funcionar, você vai ver.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Acontece que de maneira surpreendente a coisa começou mesmo a
dar certo.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Pai, tô parando de chupar. </span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Tô vendo. Parabéns, Louise.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Ela tá onde, minha boneca de princesa da Branca de Neve?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Só quando você parar de verdade. E não se esqueça: é uma
recompensa pelo seu esforço.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Pai, o que é esforço?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Esses dias percebi que já fazia quase uma semana que ela não colocava o dedo na boca. </span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Loulou, parabéns, você parou mesmo de chupar o dedo. Hoje
vamos comprar sua boneca da Branca de Neve.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Oba!</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Passamos em uma loja, não tinha : "<span style="color: #444444;"><a href="http://cheriaparis.blogspot.fr/2009/08/um-pateta-na-eurodisney.html" target="_blank">Na Disney</a></span> do
Champs-Elysées o senhor vai encontrar". Não encontrei : "Estamos
sem recebê-la há meses! Tenta em Les Halles". Tentei e nada. "Dá uma chegadinha na rua tal, é possível que tenha". Cheguei e não
tinha. A Louise já começava a perguntar.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Pai, cadê minha boneca de princesa da Branca de Neve? </span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- O moço disse que acabou. </span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Vamos em outra loja?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Já fomos em várias.</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">- Mas vamos em outra, vamos?</span></span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<br /></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
</span></span><div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Já tem dois dias que procuro esse diacho de boneca. Tem
Pocahontas, Pequena Sereia, Cinderella, Bela Adormecida e todas essas mocréias
da Disney, só não tem a Branca de Neve. Comecei a pensar em desistir e dar uma
desculpa qualquer, mas agora há pouco a Louise me perguntou mais uma vez pelo
presente, olhando com um certo interesse para o próprio polegar. Tive a nítida
impressão que ela estava avaliando se voltaria a chupá-lo ou se o abandonaria
de vez, como uma recompensa pelo meu esforço em encontrar a sua princesa<span style="font-size: small;">.</span></span></span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div class="">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #335577; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, sans-serif; line-height: 16px;"><span style="font-size: xx-small;">Chers
amis, o Chéri à Paris voltou por cinco semanas, cinco textos, o tempo
das minhas férias na França. Esse é o terceiro deles. O próximo estará no
ar na 6a feira que vem. </span></span> </span></span></div>
</blockquote>
</div>
Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-46451939211694878492013-02-15T13:43:00.004-02:002016-07-06T08:44:23.950-03:00Jemaa el-Fna<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsam2T9PCHCOB6aCWL9miE-sVUP6IzYehtnmd-NI8hPspFGL-OAGlJCaG1DuXorFPDHpYqeCt6Sq8-cMs-ljHG7t-Czkl1zdtJTcz3T9OcYHsGkLKO_Acyj_nLn9sPqtl1JWFUlT6hnHAp/s1600/marrakech-la-place-jemaa-el-fna-maroc-afrique_93274.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsam2T9PCHCOB6aCWL9miE-sVUP6IzYehtnmd-NI8hPspFGL-OAGlJCaG1DuXorFPDHpYqeCt6Sq8-cMs-ljHG7t-Czkl1zdtJTcz3T9OcYHsGkLKO_Acyj_nLn9sPqtl1JWFUlT6hnHAp/s200/marrakech-la-place-jemaa-el-fna-maroc-afrique_93274.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Dezenove dirhams, cerca de quatro reais, é quanto custa o meu café da manhã. Quatro pelo suco de laranja fresco, tomado em uma das dezenas de barracas que vendem a bebida a preço tabelado na praça Jemaa el-Fna, com direito a chorinho de quase meio copo, e quinze pelo chá de hortelã e pelo pain au chocolat, consumidos em um café. Muito barato, ainda mais levando em conta a vista privilegiada da maior praça de Marrakech, provavelmente o principal ponto turístico do Marrocos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Tem que pagar o chá e o croissant agora, mon ami.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Tá aqui.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><span style="color: #222222;">Do alto dos minaretes,</span><span style="color: #444444;"> <a href="http://cheriaparis.blogspot.fr/2011/09/pra-la-de-marrakech.html" target="_blank"><span style="color: #444444;">os almuadens chamam quase simultaneamente à prece</span></a></span><span style="color: #222222;"> pela segunda vez do dia. A primeira me acordou, às seis da manhã. O belo e incompreensível canto logo cessa, e as escalas árabes das flautas dos múltiplos encantadores de cobra voltam a</span><b style="color: #222222;"> </b><span style="color: #222222;">todo fôlego. De onde estou, conto doze deles, oito especializados em najas que permanecem indefinidamente em posição de bote, quase nunca o concluindo. O último acidente com uma serpente aconteceu já faz um tempo, mas parece que o turista nunca voltou pra reclamar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Vejo também um sujeito perambulando com um macaco no ombro, propondo fotografias com os passantes, dois tocando percussão local, oferecendo mini shows para os dispostos a pagar, e ainda um outro com um chapéu típico do país, de formato parecido com uma lata de goiabada mais alta, do centro do qual sai uma espécie de corda trançada de cinquenta centímetros com uma bola de tecido na ponta. Este cidadão abaixa o pescoço e descreve voltas rápidas com a cabeça, fazendo a corda girar como se fosse uma hélice. Não entendi se ele propõe algo aos transeuntes ou apenas tenta refrescar as ideias nesse inverno do quase Saara, onde as temperaturas variam até trinta graus durante o dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"> <span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há charretes decoradas que passam procurando passageiros e turistas que encontram uma realidade totalmente diferente das suas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há mulheres vestindo véu completo e moças que usam jeans e camisas e cobrem apenas as cabeças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há pedintes estendendo a mão em árabe e comerciantes que abordam em francês, oferecendo uma promoção relâmpago, exclusiva e imperdível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há milhares de pedestres desavisados e dezenas de scooters e bicicletas que costuram em um balé tão caótico que quase sincronizado e então se embrenham pelas ruelas e <i>souks</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Há todas as baixas construções <b>circundantes</b> da praça pintadas invariavelmente em vermelho terra e com detalhes em verde, as cores da bandeira do país, e ao fundo as altas montanhas do Atlas, no topo das quais ainda há neve.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A vida do lugar se impõe tão intensamente que decido ficar um pouco mais para vê-la desfilar diante dos meus olhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Mais um chá de hortelã, min fadlak.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Dez dirhams.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- <span style="color: black;">Aqui. Chokran.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="color: black;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">- Ma haalihch, mon ami.</span></span></div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="background-color: white; color: #335577; font-family: "trebuchet ms" , "verdana" , "arial" , sans-serif; line-height: 16px;"><span style="font-size: x-small;">Chers amis, o Chéri à Paris voltou por cinco semanas, cinco textos, o tempo das minhas férias na França. Esse é o segundo deles. O próximo estará no ar na 6a feira que vem. </span></span></blockquote>
</div>
</div>
Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-57875724445361742862013-02-08T14:21:00.000-02:002013-02-08T14:31:03.462-02:00Mistral<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitFue50xnx_TUOLeqx_LBrssZl1CwxNTTQ3UsLqaIarUGS5f9-ijr5D-Si9s2tSlu14_8TfRuH2T1VEf5qZLxg_lNd7uJuArb3DnMlmhfqhxFOZk3Si-y1FCCyQXVpML4YsakZX-JDrKED/s1600/46403870.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="149" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitFue50xnx_TUOLeqx_LBrssZl1CwxNTTQ3UsLqaIarUGS5f9-ijr5D-Si9s2tSlu14_8TfRuH2T1VEf5qZLxg_lNd7uJuArb3DnMlmhfqhxFOZk3Si-y1FCCyQXVpML4YsakZX-JDrKED/s200/46403870.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Assim que desceu do TGV na Gare St Charles, Raimundô Batistá levou um baita susto, pois não estava acostumado com aquele vento todo. Que vendaval dos infernos é esse, perguntou a si mesmo, enquanto fechava o sobretudo e colocava as luvas de couro, o cachecol de lã e um boné do Senhor do Bonfim pra proteger as ideias, como diz sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ele não podia reclamar que não havia sido advertido. Raimundô, attention au Mistral, repetia o tempo todo seu colega Sophianne, originário de Marseille, prevenindo do vento que de tão famoso até nome próprio tinha. Brisa também tem em Salvador, desdenhava, sem no entanto fazer ideia da potência daquela ventania capaz até de arrancar os chifres de um boi, segundo famoso ditado local.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Sem se dar por rogado, anunciou vou passear na praia. Vai não, tentaram dissimulá-lo, não bastasse o Mistral forte, ainda estamos em pleno inverno, você vai virar picolé em dois minutos. Eu vou, insistiu, e quando ele colocava alguma coisa na cabeça era muito difícil tirar, e ainda vou levar a sunga, porque baiano quando vê o mar quer mais é se jogar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Seus amigos ficaram apavorados, pois sabiam que ele era capaz de encarar a sensação térmica de quase zero grau só de birra. Um deles, ao imaginar a situação, começou a ter tonturas e saiu pedindo meus sais, meus sais. Precisou ser amparado pelos outros companheiros, que o sentaram no chão e deram água gasosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Baiano frouxo nasce morto, repetia Raimundô em seu francês carregado de um sotaque que podia ser percebido antes mesmo que ele abrisse a boca. Quem quiser que me siga, tô indo pra praia. Todo mundo seguiu, é claro, e um dos amigos achou melhor telefonar para os bombeiros, para preparar o salvamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quem precisa de ajuda, perguntaram do outro lado da linha. Ninguém, por enquanto, mas vai precisar em breve, disse. Vá brincar com outro porque temos muito serviço por aqui, respondeu desaforado o sujeito, desligando na cara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ao chegar na Praia do Profeta, compreensivelmente vazia, Raimundô foi ao banheiro e voltou sem as três camadas de roupa, vestindo só a sunga tricolor do Esporte Clube Bahia. Alongou o pescoço, deu uma corrida de cem metros, fez meia dúzia de flexões e disse tô pronto, vou lá. Vai não, repetiram todos em um coro que de tão sincronizado parecia jogral de igreja. Vou sim, tô indo, já fui. E o pior é que foi mesmo, abrindo caminho contra o vento que quase o derrubava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Acordou quatro dias depois, debaixo de dois cobertores e com uma bolsa de água quente sobre a testa. O que aconteceu, quis saber. Você é louco, entrou no mar em pleno inverno e com um Mistral daqueles, usando só um calção de banho surrado. Surrado coisa nenhuma, mais respeito com a sunga do glorioso Bahia, disse e virou pro lado pra tirar mais um cochilo, que aquela aventura tinha dado um sono da porra.</span><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-size: x-small;">Chers amis, o Chéri à Paris voltou por cinco semanas, cinco textos, o tempo das minhas férias na França. Esse é o primeiro deles. O próximo estará no ar na 6a feira que vem. </span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-size: x-small;"><span style="color: #222222;">Aproveitem para ler os outros dois textos sobre Raimundô Batistá, o baiano arretado que é motorista de táxi em Paris. Tem</span><span style="color: #444444;"> <a href="http://cheriaparis.blogspot.fr/2010/04/pimenta.html" target="_blank"><span style="color: #444444;">um aqui</span></a></span><span style="color: #222222;"> e </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.fr/2010/11/autour-de-paris-x-strasbourg-saint.html" target="_blank"><span style="color: #444444;">outro aqui</span></a><span style="color: #222222;">.</span></span></blockquote>
<div class="" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial; font-size: small; text-align: -webkit-auto;">
<br /></div>
</div>
Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-75638473832190921742012-03-30T16:09:00.001-03:002012-09-28T09:53:55.871-03:00Souvenirs<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<i>Caros amigos, esse é o último texto do Chéri à Paris, projeto que comecei assim que cheguei à França, 5 anos atrás. Não tem mais sentido escrever as desventuras de um brasileiro na terra do fromage agora que voltei ao país do queijo prato. </i><br />
<i><br /></i>
<i>Aproveito pra divulgar o endereço do meu novo projeto:</i><br />
<i><br /></i>
<i><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"><a href="http://www.historiasdequadrinhos.com.br/">www.historiasdequadrinhos.com.br</a></span></i><br />
<i><br /></i>
<i>Muito obrigado a todos que me acompanharam. À bientôt!</i><br />
<br />
---<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhakCiO-MPdYcDNwLGb4-1UnaCZL15VtrTsU5nBHG62v7hT9NT5EiyuGi_GtTEFBqrydz2dkow9phOUKD2aMMxbaJvt-92VMtY01umYaIMreOjelGugBR8oaJdWjMew8MdipWR9RZXXAF_I/s1600/AMACAARQ-P161735.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhakCiO-MPdYcDNwLGb4-1UnaCZL15VtrTsU5nBHG62v7hT9NT5EiyuGi_GtTEFBqrydz2dkow9phOUKD2aMMxbaJvt-92VMtY01umYaIMreOjelGugBR8oaJdWjMew8MdipWR9RZXXAF_I/s200/AMACAARQ-P161735.jpg" width="148" /></a></div>
- <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2007/03/uh-la-la.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">Din dão, berrou a campainha, com seu sotaque brasileiríssimo</span></a>.<br />
<br />
Fui abrir meio cabreiro, achando tratar-se do vizinho que, dias antes, saíra peladão no corredor para buscar seus jornais, bem na hora em que eu ia para o trabalho. Vai que era ele de novo, querendo, sei lá, um pouco de açúcar, metido em seus (não) trajes habituais.<br />
<br />
Espiei cautelosamente pelo olho mágico e não vi ninguém. Voltei pro sofá. A campainha gritou de novo. Olhei e outra vez não visualizei quem teria apertado o botão. Fiquei esperando atrás da porta e a abri de supetão assim que a sineta soou pela terceira vez. Do outro lado, uma mocinha tímida, com um lenço no pescoço e cara de anjo.<br />
<br />
- Bom dia, falei.<br />
- Bonjour, respondeu em francês.<br />
- Qui es-tu?<br />
- Sou as suas lembranças parisienses.<br />
- Minhas lembranças?<br />
- Oui.<br />
- E o que você está fazendo aqui?<br />
- Foi você quem me chamou.<br />
- Eu?<br />
- Sim, você. Aliás, chamou a mim e àquele ali.<br />
- Quem? Não estou vendo ninguém.<br />
- Olha de novo, com atenção.<br />
- Eita!, exclamei, surpreso com o súbito aparecimento de um velho ranzinza – E você, quem é?<br />
- Tu ne me reconnais pas? Sou também as suas lembranças, putain!<br />
<br />
Não estava entendendo mais nada. Convidei-os para entrar.<br />
<br />
- Querem água, café?<br />
- Não, obrigada, sorriu a menina.<br />
- A água tá gelada? Porque eu só gosto de água gelada. E esse café? É arábico? De onde vem? Qual a máquina que você usa? É conservado na geladeira? Porque senão ele perde o gosto.<br />
<br />
Depois de revirar a casa até encontrar mel para adoçar o café do velho, que não tomava nada com açúcar, exigi algumas explicações.<br />
<br />
- Alors, que faites-vous là?<br />
- Você não escutou a menina? Foi você quem chamou a gente!, gritou o idoso. Se quer que a gente vá embora, é só dizer.<br />
- Calma, só quero entender o que vocês estão fazendo aqui.<br />
- Você nunca notou, mas te acompanhamos desde que você deixou Paris, disse a mocinha num quase sussurro. Você nos trouxe para Brasília.<br />
- Eu?<br />
- É, assim são as lembranças, elas nos acompanham mesmo sem a gente querer. Eu, por exemplo, trago as recordações inocentes das suas primeiras experiências em Paris. A primeira <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2008/02/procura-se-po-francs.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">baguete</span></a>, o primeiro pedaço de comté, a primeira <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2008/06/uma-volta-pelo-march-daligre.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">volta no marché d’Aligre</span></a>, a primeira festa que <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2007/05/choses-du-brsil.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">você tocou como DJ</span></a>, o primeiro <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2007/04/tagarelice-francesa.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">encontro com a Edith</span></a>, a primeira <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2009/09/para-estufar-esse-filo.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">pelada com o Chico Buarque</span></a>, o primeiro jantar que você preparou no <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2008/11/espinha.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">restaurante associativo da rua</span></a>, a primeira vez que você esteve em casa <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2010/05/louise.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">com a Louise</span></a>...<br />
- Só bons momentos.<br />
<br />
Fiquei olhando para o nada por um longo instante, até ser interrompido.<br />
<br />
- Bons momentos coisa nenhuma, retrucou o velho. Você acha que foram bons porque o tempo apagou as más impressões. Mas estou aqui para te lembrar que a vida não é uma propaganda de margarina.<br />
- De manteiga, você quer dizer, estamos falando da França.<br />
- Isso, a vida não é uma propaganda de manteiga ou de sabão em pó. Você deve se lembrar bem de quando chegou a Paris e as pessoas conversavam ao seu redor. <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2007/08/como-falar-francs-sem-falar-francs_661.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">Você não pescava nada</span></a>.<br />
- Lembro sim. Era duro. Eu ficava perdido...<br />
- Não disse? Quer pior lembrança do que essa?<br />
- Mas também foi ótimo perceber que a língua francesa aos poucos ia fazendo mais sentido para mim. E quando tive minha primeira conversa em francês? Cara, foi sensacional!<br />
- Zut! E do <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2007/11/fria.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">primeiro inverno</span></a>, lembra? Aquele frio de rachar. Você detesta o frio. Seu dedão congela, seu nariz escorre, sua orelha dói. Isso foi horrível, não foi?<br />
- O frio é dose mesmo. Mas foi no primeiro inverno que eu<span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"> <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2008/12/paris-para-crianas-ii.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">descobri a neve</span></a></span>. Fiquei hipnotizado como uma criança diante de um novo brinquedo. Uma lembrança inesquecível.<br />
- Mais c’est pas possible. O <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2011/07/jaime-rien.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">mau humor francês</span></a>, desse você se recorda bem, né? Tem coisa pior do que o nosso mau humor? Quantas vezes você não teve vontade de estrangular alguém?<br />
- Estrangular nada, <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2009/10/guilhotina-de-lisboa.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">guilhotinar</span></a>! De vez em quando eu queria fatiar um, começando por essa protuberância que vocês carregam no meio do rosto e <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2009/01/breve-histria-nasal-da-frana.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">chamam de nariz</span></a>.<br />
- Viu só? Nem tudo era flores.<br />
- Mas depois de me irritar algumas vezes eu descobri que o mau humor de vocês não é pra ser levado tão a sério. Faz parte do folclore local, vocês adoram alimentá-lo. E ele ainda me rendeu <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2011/08/nao-estamos-seu-servico.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">várias crônicas</span></a>.<br />
- Mas que droga! Raios de brasileiro otimista! Viveu 5 anos na França e não aprendeu nada? Nem reclamar você reclama mais. Fica achando tudo lindo, fofo, colorido, doce, como se fosse sempre páscoa. Que coisa mais sem graça. Quer saber? Desisto. Fui. Je suis parti!<br />
<br />
O velho abriu a porta da casa e desapareceu antes de chegar ao elevador.<br />
<br />
- Eita, velho reclamão, disse a menina. Aposto que já foi perturbar outro com sua ranzinzice. Deixa eu ir lá cuidar dele<br />
<br />
Abracei-a e ela me deu um beijo no rosto, despedindo-se. Devolvi o beijo e fechei a porta atrás dela. Ao virar-me, vi seu lenço no chão. No mesmo instante, a campainha tocou novamente. Só podia ser ela. Abri.<br />
<br />
Era o vizinho, pelado, pedindo açúcar.</div>
Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com28tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-28773835307260160552012-03-23T14:51:00.002-03:002012-03-23T14:51:40.629-03:00O olhar dos outros<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg14k61mZs3PS_oGaq143sPCIojHT-bZlRCrLh-MijiQdmKXK_3l0_YvUNe_8oQO1c7iWaQm1bpQNDkAq7ZNwiV1FsecKJiLGuA_jdEmehusiQtbQ3IATMTE0Ravg18KJQ_snA1YMamU5j5/s1600/regard.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="142" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg14k61mZs3PS_oGaq143sPCIojHT-bZlRCrLh-MijiQdmKXK_3l0_YvUNe_8oQO1c7iWaQm1bpQNDkAq7ZNwiV1FsecKJiLGuA_jdEmehusiQtbQ3IATMTE0Ravg18KJQ_snA1YMamU5j5/s200/regard.jpeg" width="200" /></a></div>
O texto a seguir eu escrevi para um concurso francês de <span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"><a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2009/11/roteiro-para-um-filme-chato-frances.html?spref=fb" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">roteiros de curta-metragem</span></a> </span>do qual participei há cerca de 3 anos. O nome do concurso era <i>Le regard des autres</i>, o olhar dos outros, e o tema era homofobia. O vencedor teria o filme rodado e exibido em cinemas e na televisão locais.<br />
<br />
Na condição de estrangeiro, decidi tratar do assunto mostrando que a discriminação sofrida pelos homossexuais (ou bi, ou trans etc) é, no fundo, muito parecida com a que existe contra os imigrantes. E se baseia na intolerância que temos com o que não se parece conosco.<br />
<br />
Se eu ganhasse, iria insistir para ter o Paulo César Pereio no papel do estrangeiro. Canalha por canalha, sou muito mais ele do que o<span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"> <a href="http://cheriaparis.blogspot.com.br/2011/11/hoje-eu-vi-o-gerard-depardieu_03.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">Gérard Depardieu</span></a></span>.<br />
<br />
<br />
--<br />
<br />
Dois amigos estão sentados em um café. Um é francês (FR), e o outro, estrangeiro (ES), com sotaque. O garçom chega. Um amigo pergunta pro outro.<br />
<br />
FR - Quer o quê?<br />
ES - Um café.<br />
FR - Dois cafés. - Diz pro garçom, que sai.<br />
ES - E aí, tudo bem?<br />
FR - Tudo.<br />
ES - Tá lá ainda?<br />
FR - Lá onde?<br />
ES - Naquele buraco que você trabalha.<br />
FR - Porra, precisa lembrar disso agora?<br />
ES - Cara, tem séculos que te falo pra você largar aquela merda.<br />
FR - Eu sei, eu sei. Mas você acha que é fácil arrumar um emprego decente?<br />
ES - E aquilo lá é decente?<br />
FR - Pelo menos dá pra pagar a cerveja.<br />
ES - Considerando o tamanho de vossa pança de chope, então parece que o senhor pelo menos está ganhando bem. - Vira o pescoço e fixa o olho na barriga do amigo.<br />
FR - Filho da puta...<br />
<br />
Os dois riem.<br />
<br />
ES - Por que você não larga tudo e monta uma barraca de crepe?<br />
FR - Hã?<br />
ES - Uma barraca de crepe. Crepe de queijo, de champignon, crepe suzette. Essas porcarias. Turista adora.<br />
FR - Eu sou uma catástrofe na cozinha. Até ovo frito eu queimo.<br />
ES - Junta a grana dessas cervejas aí - aponta para a barriga do outro - e contrata alguém pra trabalhar pra você. Quando o diabo criou o capitalismo, as regras foram bem definidas.<br />
FR - De que merda você tá falando?<br />
ES - Não sou eu. Max falava isso.<br />
FR - Max?<br />
ES - É. O cara que inventou essas teorias de comunismo.<br />
FR - Marx. Karl Marx.<br />
ES - Ele mesmo. Ele dizia que quem sabe, trabalha. Mas quem tem, manda. - Faz o sinal de dinheiro, quando diz "quem tem".<br />
FR - Você é foda...<br />
<br />
Os dois riem. O garçom traz os cafés.<br />
<br />
ES - Viu o jogo domingo?<br />
FR - Vi.<br />
ES - E esse time, hein?<br />
FR - Porra. Os caras não sabem diferenciar uma bola de futebol de um taco de sinuca.<br />
ES - E você? Sabe qual é a diferença entre uma bola de futebol e um taco de sinuca?<br />
FR - Hã?<br />
ES - Senta em cima dos dois que você vai descobrir.<br />
<br />
O estrangeiro ri. O outro fica sem graça.<br />
<br />
FR - Sabe, tô pra te contar uma coisa.<br />
ES - Ganhou na loto e vai montar um harém em Ibiza?<br />
FR - Não, cacete. É sério.<br />
ES - Ih, que foi?<br />
FR - Não tô mais com a Marie.<br />
ES - Não?<br />
FR - Não. Tô com outra pessoa.<br />
ES - A Claire?<br />
FR - Não.<br />
ES - A Véronique? Vai dizer que pegou a Véronique?<br />
FR - Na verdade, não é uma mulher.<br />
<br />
O estrangeiro abre o olho grande e cola no fundo da cadeira.<br />
<br />
ES - O que você quer dizer?<br />
FR - Quero dizer isso mesmo que você está pensando.<br />
ES - Virou bichona? Tá enfornando o robalo? Sentando na cobra?<br />
FR - Porra, não dá pra falar sério com você.<br />
ES - Não dá pra falar sério é com você. Que história é essa de sair liberando o brioco agora?<br />
FR - Não é isso.<br />
ES - É o que, então? É amor? Vai dizer que tudo o que você sempre quis na vida foi enroscar seu bigode com outro?<br />
FR - Nem tenho bigode.<br />
ES - Você entendeu.<br />
FR - Eu tô namorando o Hugo, que te apresentei um tempo atrás.<br />
ES - O Hugo, aquele seu amigo?<br />
FR - Já é um pouco mais que amigo...<br />
ES - Ficou doido? Namorando um homem???<br />
FR - Fala baixo. Tá chamando a atenção.<br />
ES - Você dá o rabicó e eu é que quero chamar a atenção?<br />
FR - Você não entende nada mesmo.<br />
ES - Entendo sim. Entendo que você tá louco. Porra, se fosse o Jacques, que gosta de pintar cerâmica... Ou o Julien, que inventou de fazer aula de dança... Mas você? Você vai ao estádio e toma cerveja. Até boxe eu já te vi assistindo na TV. Boxe!<br />
FR - Isso não se escolhe. Você simplesmente vai percebendo que é assim. E um dia você resolve admitir pra si mesmo.<br />
ES - Quer dizer que um dia você acordou: "ah, o sol está maravilhoso. Vou tomar um bom café, uma ducha e depois virar gay".<br />
FR - Deixa pra lá. Achei que podia contar com você, meu melhor amigo.<br />
ES - E eu, que agora nem sei mais dizer se você é meu amigo ou minha amiga?<br />
<br />
Silêncio na mesa. O garçom chega e pergunta se querem mais alguma coisa. Ninguém responde.<br />
<br />
ES - Fala que você tá de sacanagem, fala. Diz que é brincadeira.<br />
FR - O que é que muda?<br />
ES - Muda tudo. A gente nunca mais vai poder sair de casal. Eu com a minha namorada e você com a sua. Ir pra um cinema, um restaurante.<br />
FR - A gente nunca fez isso. Você nunca tá namorando.<br />
ES - Nunca fez e nunca vai fazer. Pior ainda. E pra quem eu vou contar das mulheres que eu pego? Pra quem?<br />
FR - Porra, pra mim, claro.<br />
ES - Mas você é gay, cacete!<br />
FR - E você é um idiota. Sou eu ainda. A mesma pessoa, ó. - Diz isso e aperta o ante-braço do amigo, que faz um olhar de estranhamento.<br />
ES - Ô...<br />
FR - Quer saber? Vou nessa.<br />
<br />
Ele levanta, joga umas moedas na mesa e sai. O estrangeiro fica e chama o garçom.<br />
<br />
ES - Uma cerveja gelada, por favor.<br />
GR - O quê?<br />
ES - Uma cerveja gelada.<br />
GR - Desculpa, não entendo o que você quer.<br />
ES - Falei que quero uma cerveja.<br />
GR - O senhor poderia fazer a gentileza de falar francês?<br />
ES - Olha, vá à merda. - Ele sai também. O garçom mostra que entendia, e responde.<br />
GR - Sua mãe não te deu educação não?<br />
<br />
O estrangeiro sai à rua, olha para os lados, e vê seu amigo já meio longe. Ele corre para alcançá-lo.<br />
<br />
ES - Marc, Marc.<br />
FR - O que você quer agora? Vai perturbar outro, vai.<br />
ES - Tá a fim de ver o jogo no bar? A cerveja é por minha conta.<br />
FR - Hã?<br />
ES - Mas em outro. Naquele lá as pessoas são muito intolerantes.<br />
<br />
Marc sorri e coloca a mão no ombro do amigo, que olha meio atravessado, mas depois relaxa e coloca a mão no ombro do outro também. Eles vão andando de costas pra câmera.<br />
<br />
FR - A gente tem que ganhar esse jogo.<br />
ES - Basta eles jogarem como homens.<br />
FR - Ô...<br />
ES - Brincadeira, porra.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Caros amigos, semana que vem o Chéri à Paris publica seu último texto. No entanto, o site continuará no ar, para quem se interessar em ler as crônicas que fiz durante esse quase 5 anos de vida francesa.</span></blockquote>
</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-28158939840277340942012-03-16T18:47:00.002-03:002012-03-16T18:50:02.462-03:00Suco de goiaba<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpvhQHLAsumQxh72D5RINLLgLuQnQJ6lxde7zXcJlme6J-vuW8MdAzA8yHjpSItQrM8dEHQvHX1A0omt0jUK4d91HQ0UZx9RVS5CAlQ7mcO0S3XOiAz4lJ1k4Fhbcsb7BvHSX-Fu8ng2qD/s1600/goiaba.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpvhQHLAsumQxh72D5RINLLgLuQnQJ6lxde7zXcJlme6J-vuW8MdAzA8yHjpSItQrM8dEHQvHX1A0omt0jUK4d91HQ0UZx9RVS5CAlQ7mcO0S3XOiAz4lJ1k4Fhbcsb7BvHSX-Fu8ng2qD/s200/goiaba.jpg" width="182" /></a></div>
A <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2011/02/genuino-franco-critico-rangonomico.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">gastronomia francesa</span></a>, a culinária mexicana e o pão de mel croata (juro!) já estão lá. E agora eu começo a campanha para que o suco de goiaba com leite e o sanduíche de atum com ricota da Galeria dos Estados de Brasília também façam parte do patrimônio imaterial mundial tombado pela Unesco. Mas antes de seguir a minha defesa, queria só dizer que dar um título imaterial a algo tão densamente material quanto a comida mexicana é uma incoerência. Pronto, falei, agora vamos em frente.<br />
<br />
O suco de goiaba com leite e o sanduíche de atum com ricota da Galeria dos Estados são como Pelé e Garrincha, como Lennon e Yoko, como Ana Maria Braga e o Louro José. Existem sozinhos, mas funcionam melhor juntos (se bem que no caso de Lennon e Yoko isso é contestável, ao menos musicalmente).<br />
<br />
Não, a dupla alimentar não usa produtos do cerrado e muito menos faz parte dos pratos típicos da região. Se fossem esses os quesitos mais importantes, o arroz com pequi certamente chegaria na frente. Pensando bem, o arroz com pequi chegaria em segundo, atrás do próprio cheiro.<br />
<br />
Então por que elevá-la à categoria de contribuição brasiliense para o patrimônio imaterial da humanidade? Simples. Porque eu gosto. E se eu não posso sugerir aqui o que eu quero como patrimônio imaterial da humanidade então não vou poder sugerir em nenhum outro lugar.<br />
<br />
A primeira vez que provei o suco de goiaba com leite e o sanduíche de atum com ricota da Galeria dos Estados de Brasília eu tinha 15 anos. Fiquei tão impactado que decidi me tornar uma espécie de guardião do lanche, cargo que cumpri com certa regularidade e gula até ir embora da capital, em 2005.<br />
<br />
Gastei ali grande parte do meu salário de menor auxiliar do Banco do Brasil. E, principalmente, grande parte do tempo que deveria dedicar à construção de um país melhor, para desespero do meu chefe Domingos. Desespero que aumentava muito quando eu voltava sem lanche para ele.<br />
<br />
Depois de eras, ontem retornei ao lugar para conferir se a lanchonete continuava por lá e para me certificar que a qualidade não havia mudado. Aliviado, vi que tudo estava certo, exatamente como eu havia deixado, 7 anos atrás.<br />
<br />
O quê? Todo mundo tem uma missão na vida, não é mesmo?<br />
<br />
<blockquote>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>Caros amigos, como eu já havia dito, esse blog segue até fins de março, quando completa 5 anos. Depois ele para de ser atualizado. No entanto, não vou abandonar a vida de blogueiro. Começo um outro projeto, completamente diferente, assim que o Chéri disser seus últimos uh la las.</i></span></blockquote>
<br /></div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-18760194406597904342012-03-09T15:24:00.000-03:002012-03-09T15:26:07.281-03:00Lagostas psicodélicas<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit6hLt8VidJI__zn3nHwK4f55UxdqH5M59R5St_9VnomtHdhH9jzzcpU7kGQ1eD-0jJRVlZtv88XvPQvk38srylUY4q5IKF4qaOQ_q8g80XCG1hsfjEiKq7ea4x4kSirw8lNFrT_L0ra5_/s1600/lagosta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit6hLt8VidJI__zn3nHwK4f55UxdqH5M59R5St_9VnomtHdhH9jzzcpU7kGQ1eD-0jJRVlZtv88XvPQvk38srylUY4q5IKF4qaOQ_q8g80XCG1hsfjEiKq7ea4x4kSirw8lNFrT_L0ra5_/s200/lagosta.jpg" width="200" /></a></div>
Vistos de longe, os anos 60 foram a década em que metade do mundo parecia ter tomado um ácido. Músicas, filmes e livros psicodélicos brotavam por todos os cantos, como sementes (de papoula). A viagem era tão geral que nem as relações diplomáticas escaparam.<br />
<br />
Veja a <a href="http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/as-lagostas-da-discordia" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">Guerra das Lagostas</span></a>, incidente envolvendo o Brasil e a França, ocorrido entre 1961 e 1963.<br />
<br />
O imbróglio começou quando barcos franceses vieram pescar lagostas na costa de Pernambuco. O governo brasileiro chiou.<span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"> <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2011/07/jaime-rien.html" target="_blank">O francês bufou</a></span>. O brasileiro ameaçou. O francês disse “merde!” e mandou uma frota de guerra. O brasileiro mandou os franceses tirarem os navios <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2009/01/breve-histria-nasal-da-frana.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">e os narizes</span></a> da nossa costa.<br />
<br />
Então a coisa complicou de vez e uma guerra tornou-se iminente. Foi aí que os diplomatas de ambos os países, que andavam meio entediados desde o fim da década de 40, entraram na parada. <br />
<br />
Na mesa de negociações, os nossos disseram que as lagostas estavam em território brasileiro e dessa forma nos pertenciam. Os franceses concordaram e discordaram ao mesmo tempo, alegando que enquanto andavam e tocavam o fundo do mar, tais crustáceos realmente respondiam às leis de pindorama. No entanto, quando nadavam, estariam em águas internacionais e, portanto, não tinham passaporte e poderiam ser livremente pescadas.<br />
<br />
A história ficou tão malucrazy que nesse instante o General de Gaulle proferiu - ou não, porque ninguém sabe se é verdade mesmo - a sua frase mais famosa em terras tupiniquins: “Le Brésil, ce n’est pas un pays sérieux”, o Brasil não é um país sério. E ele queria o quê, oras, que a gente não entrasse na brincadeira?<br />
<br />
O quiproquó só foi resolvido quando um almirante brasileiro soltou o argumento mais brilhantemente psicodélico possível, afirmando que se as lagostas quando nadam podem ser consideradas peixes, então os cangurus quando saltam seriam nada menos do que aves.<br />
<br />
Brasileiros e franceses concordaram que o raciocínio fazia muito sentido. E acendeu-se então o cachimbo da paz.<br />
<br /></div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-72409668518633225962012-03-02T14:23:00.001-03:002012-03-02T14:23:21.551-03:00Andar de baú é uma parada<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyXVdlOgiS6bbcZOhC0ppjfgaF2ba-h7jPuKKT16cEFWc-0Ojx8mHDrZiXQVn57G4bVt8bQ6EeVZs6OlnQjcnUnZcYmHShEOACJ-2rJyo99NMAFI0xhwyekG1b0eanCtvW8h2EX4-cBY2N/s1600/2065852302_e5b6c69485.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyXVdlOgiS6bbcZOhC0ppjfgaF2ba-h7jPuKKT16cEFWc-0Ojx8mHDrZiXQVn57G4bVt8bQ6EeVZs6OlnQjcnUnZcYmHShEOACJ-2rJyo99NMAFI0xhwyekG1b0eanCtvW8h2EX4-cBY2N/s200/2065852302_e5b6c69485.jpg" width="200" /></a></div>
Cheguei ao ponto e meu <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2011/12/cronica-circular.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">ônibus</span></a> tinha acabado de passar, confirmando a primeira regra dos usuários de transporte público: o momento da sua chegada à parada é exatamente o mesmo da partida do ônibus que você quer pegar. A segunda regra diz que o seu tempo de espera a partir de então será proporcional à sua pressa.<br />
<br />
Depois de eras passou outro, dei sinal, não era o meu, dei outro sinal pra dizer que não era o meu, o motorista já havia começado a frear e acelerou novamente, fiz um “ok” pra agradecer a boa vontade, o motorista achou que eu havia mudado de ideia e reduziu outra vez a velocidade, sacudi as duas mãos pra deixar claro que não o havia chamado, o motorista parou ao meu lado e perguntou se eu já havia me resolvido.<br />
<br />
- E aí, já se resolveu?<br />
<br />
Eu já havia me resolvido e de qualquer maneira não ia subir naquele ônibus nem que fosse o meu e o último do dia, tamanha a cara feia dele, do seu parceiro cobrador e do passageiro bombado sentado na primeira fila.<br />
<br />
Passou mais um ônibus, que também não era meu e por isso não dei sinal, mas era de muitas outras pessoas que esperavam no mesmo ponto, deram sinal ao mesmo tempo e depois se acotovelaram para subir, parecendo um formigueiro humano. Quando percebi o meu vinha logo atrás mas só acenei depois que ele já havia passado à toda. O motorista não me viu, ao contrário da velhinha do último banco, que me mandou um tchau, não sei se por compaixão ou para corresponder à minha involuntária boa educação.<br />
<br />
Pra matar o tempo, resolvi contar os carros verdes da rua, mas parei no 35º porque a brincadeira não tinha a menor graça. Tirei o celular do bolso, olhei para o relógio, vi que estava atrasado, recoloquei o celular no bolso, tirei-o novamente, olhei mais uma vez para o relógio, certifiquei-me que estava atrasado, guardei-o e quando o peguei outra vez percebi que o meu ônibus havia parado e todo mundo subido, menos eu, que fiquei olhando para o telefone. Tirei-o mais uma vez do bolso e tive a absoluta certeza de que agora estava atrasado de verdade.<br />
<br />
Longos tempos depois, avistei um ônibus de longe e comecei a acenar trezentos metros antes de ele chegar ao ponto para ter certeza de que dessa vez o pegaria, só que o motorista decidiu não frear, ignorando totalmente meu apelo e meus saltos com as duas mãos abertas que davam a impressão de que eu fazia polichinelos, modalidade de exercício que deixou de existir “depois da eleição de Tancredo Neves”, segundo um amigo. Mas o destino parecia estar ao meu lado e o coletivo parou no sinal, então bati à porta, com um sorriso de vitória, e o sujeito não teve escolha a não ser abrir pra mim. Acomodei-me em um banco desconfortável e aproveitei para jogar Tetris no celular. Depois de uns 15 minutos levantei a cabeça e só aí fui perceber que havia pego a rota errada.<br />
</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-73648033741466576242012-02-24T15:29:00.002-02:002012-02-25T14:55:20.030-02:00Escada enrolante<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkYi0waZ1uYX6HCcIyBjN4D42E-j3ILg6J-glc8foZKJLeY7t_t7EJftztT3FSylnO7avGBAWbOOR_K_3oaOkRLe5_o9SmrPcmj6R_3rHKA87q_834brqTG_3mjej7-hm1Q4CqV1jbLs-H/s1600/escalateur.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkYi0waZ1uYX6HCcIyBjN4D42E-j3ILg6J-glc8foZKJLeY7t_t7EJftztT3FSylnO7avGBAWbOOR_K_3oaOkRLe5_o9SmrPcmj6R_3rHKA87q_834brqTG_3mjej7-hm1Q4CqV1jbLs-H/s200/escalateur.jpg" width="200" /></a></div>
Quando decidi voltar pra Brasília, vim preparado pra ter uma vida completamente diferente da que levava em Paris. Pra precisar de carro, pra não ver gente nas ruas, pra voltar a usar camiseta como vestimenta do dia a dia, pra encarar com indiferença as tempestades tropicais que na França seriam tomadas como a chegada do apocalipse. Só não me preparei para as escadas rolantes.<br />
<br />
- Dá uma licencinha?<br />
- Hã?<br />
- Chegadinha pro lado, pra eu passar.<br />
- Passar como?<br />
- Passar passando, ué.<br />
- Você não tá vendo que estou aqui parado?<br />
- Tô. E é por isso mesmo que eu quero passar.<br />
- Estamos em uma escada rolante.<br />
- Exatamente! É uma escada rolante, não uma fila rolante. As pessoas andam nas escadas.<br />
- Mas como essa aqui rola, a gente pode ficar parado, só curtindo a paisagem.<br />
- Que paisagem? Isso é um shopping center, só tem vitrine.<br />
- Rapaz, de que mundo você veio? Olha ali embaixo.<br />
- O quiosque de algodão doce? O que tem?<br />
- Ao lado.<br />
- A livraria?<br />
- Entre os dois.<br />
- Não tô vendo nada.<br />
- ABRE O OLHO, DIABO! Não tá vendo aquela gostosa de shortinho?<br />
- Ah. É mesmo!<br />
- E ali à esquerda. Saca aquele cara de terno verde. Ele tá sempre por aqui, cada dia com uma roupa mais estranha do que a outra. Um personagem.<br />
- Que figura!<br />
- Olha, vou te contar uma coisa: a escada rolante é o novo banquinho da praça. Daqui a gente vê a vida passar, as pessoas desfilarem, o mundo acontecer. Ao menos esse pequeno mundo que é o shopping center.<br />
- Ah é? Então me diz quem é aquela ali, no andar de cima.<br />
- É a moça que trabalha na farmácia. Primeira a chegar e última a sair. Trabalha até nos fins de semana. Explorada pelo patrão, coitada.<br />
- Qual o nome?<br />
- Não tenho ideia. Mas daquele ali eu sei. É o José, funcionário da lotérica. Ele se vangloria de já ter registrado uma aposta que deu a quina. Pouca gente sabe, mas no fundo ele torce contra os apostadores.<br />
- Que estranho.<br />
- É a vida, ela é estranha. E a gente enxerga isso melhor parado na escada rolante, subindo e descendo em ciclos.<br />
- Engraçado como nunca reparei nisso.<br />
- É porque você está sempre apressado, sobe atropelando todo mundo.<br />
- Como você sabe que eu...<br />
- E depois corre pra aquela agência de publicidade do 2º andar.<br />
- Mas quem te disse que...<br />
- Aliás, dessa vez é melhor você correr mesmo, senão vai chegar atrasado para a reunião com o cliente, que acabou de passar por aqui.<br />
- Ok, ok. Bom, de qualquer forma, muito prazer. Meu nome é...<br />
- Daniel. Eu sei.<br />
- Nossa, incrível! E o seu?<br />
- O meu? Ora, você nem me conhece. Era só o que faltava, a gente quer ser simpático e o outro já vem cheio de intimidades. Daqui a pouco quer saber da minha vida, meu trabalho, meus horários...</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-83074439037030370852012-02-17T17:53:00.000-02:002012-02-17T17:53:12.472-02:00Carnaval para franceses<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVgA9nKreUYFgWOJGtcSZauxuCSYfsylKp-oQ2yxzy1NZHUBzrlWmIZf4IlmLkVEp6so4BQ3n838EdBCKJen9Spv6hYEDukXNSjoc9uUzt0p8TlaeKRM2y44TIbuJ58CAopFpeCnRHBJPF/s1600/carnaval.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="149" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVgA9nKreUYFgWOJGtcSZauxuCSYfsylKp-oQ2yxzy1NZHUBzrlWmIZf4IlmLkVEp6so4BQ3n838EdBCKJen9Spv6hYEDukXNSjoc9uUzt0p8TlaeKRM2y44TIbuJ58CAopFpeCnRHBJPF/s200/carnaval.jpeg" width="200" /></a></div>
Meus 7 leitores franceses e lusófonos de vez em quando <strike>bufam</strike> reclamam que eu não venho dedicando muitos posts a eles. Pois eis que chegou a hora de corrigir isso, com uma seleção de frases e perguntas úteis para os patrícios de Gainsbourg que decidiram cruzar o Atlântico e encarar o <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2009/03/marchinhas-para-um-carnaval-frances.html" target="_blank">carnaval brasileiro</a>.<br />
<br />
<br />
. Adorrei sua fantasia de bandido. Essa arma parrece até real. O quê, minha carteira? D’accord, pega, vou entrrar na folia. Ei, volta aqui!<br />
<br />
. Desculpe perguntar assim, mas a senhorrita está guardando uma cenourra dentro da calcinha?<br />
<br />
. Não, eu não sou brranco, estou fantasiado de fantasma.<br />
<br />
. Por acaso não serria falsa essa nota de 40 reais que o senhor me deu de trroco?<br />
<br />
. O que é aquela bola amarrela ali no céu? Ah, isso é que é o sol?<br />
<br />
. Moço, me dá todas as havaianas da sua loja, por favor.<br />
<br />
. Que carne o senhor usou nesse churrasquinho? Filé mignau? C’est délicieux!<br />
<br />
. Acho que bebi muitas caipirrinhas. Acordei com aquele gosto de parapluie na boca.<br />
<br />
. Entupidanemte, estupivalente, estudipa... Ah, traz uma cerveja frria, por favor. <br />
<br />
. 200 reais a canga? E prra mim, que sou brrasileirro?<br />
<br />
. Ai, se eu te pegô, ai, ai, ai, se eu te pegô.<br />
</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-49068077890318038742012-02-10T23:11:00.001-02:002012-02-14T11:13:10.807-02:00A espreguiçadeira do Migué<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPDMrfPK-Lhv6C9KL3AuD44iV8IZCKjXrVQ1oXgOV6-vQieUupDUIxuzAIebPguKXzML6lDA5tG_AvlTm9cS3nnIvXPi-P0jFzFpa4-rXO8OSeRhDYpNXPGeNf_-fQwaSEGW3ysW7sZ7KF/s1600/espreguicadeira-de-madeira-10.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPDMrfPK-Lhv6C9KL3AuD44iV8IZCKjXrVQ1oXgOV6-vQieUupDUIxuzAIebPguKXzML6lDA5tG_AvlTm9cS3nnIvXPi-P0jFzFpa4-rXO8OSeRhDYpNXPGeNf_-fQwaSEGW3ysW7sZ7KF/s200/espreguicadeira-de-madeira-10.jpg" width="200" /></a></div>
Uma amiga da minha mãe resolveu gentilmente colaborar com a minha
reinstalação no Brasil e me deu uma geladeira praticamente nova que ela
não usava mais. Vamos chamá-la de Babusha (a amiga, não a geladeira).
Pra carregar o treco, convoquei um amigo meu, dono de uma mini-camionete
e de uma massa muscular consequente. Fomos lá.<br />
<br />
- Daniel, a
geladeira está ali, embalada em papel bolha desde a minha mudança para
essa casa. Está em perfeitas condições. Aproveita e leva também aquela
espreguiçadeira dobrável que está atrás da porta, ninguém aqui usa
mesmo. <br />
<br />
Cheguei perto do trambolho (a geladeira, não a amiga) e
fiquei olhando pra ela desanimado, imaginando como transportar aquilo
até o carro. Nisso, meu amigo pediu licença, abraçou-a como um urso e a
levantou sozinho. Apavorada, Babusha chamou os filhos para ajudar.<br />
<br />
- Saul! Migué! O Daniel tá aqui e veio buscar a geladeira. Desçam rápido pra dar um alô pra ele e ajudar a transportá-la.<br />
<br />
Pra
não pagar o mico de estar com as mãos abanando quando os filhos dela
chegassem, enquanto meu amigo fazia o trabalho pesado, fui levar a espreguiçadeira para a caçamba do veículo. Saul
desceu primeiro e me cumprimentou.<br />
<br />
- Olá, como vai?<br />
- Eu vou indo, e você?<br />
- Tudo bem.<br />
<br />
Logo
em seguida veio o Migué. Ele me viu de longe e abriu um sorriso, que
foi se transformando em cara de pânico à medida em que chegava mais
perto. Não disse nem "oi". Virou pra mãe e protestou.<br />
<br />
- Mas você tá dando a minha espreguiçadeira pro Daniel?<br />
- Tô. Você não usa.<br />
- Uso. É a minha cadeira preferida.<br />
<br />
Com
a espreguiçadeira na mão, senti-me um ladrão pego em flagrante. Sem graça, fiz
menção de devolvê-la, no que fui repreendido por Babusha.<br />
<br />
- Nada disso, Daniel. Ela é sua. Está encostada há um tempão, ocupando espaço. Você me faz um favor levando daqui.<br />
<br />
Aliviado, acomodei-a na caçamba. Migué protestou.<br />
<br />
- Nada disso. Eu gosto dela. Quero de volta. <br />
<br />
Tirei novamente do carro. Saul, que até então assistia calado, interveio.<br />
<br />
- Leva, Daniel. Isso só acumula poeira aqui em casa.<br />
<br />
Devolvi-a outra vez à caminhonete. E o Migué continuou reclamando.<br />
<br />
- É minha poltrona favorita pra ver futebol. Ela fica.<br />
- Ela vai, disse Babusha.<br />
- Não vai não.<br />
- Ah, se vai, completou Saul.<br />
- De jeito nenhum.<br />
- Vai.<br />
<br />
Os
três decidiam o destino da cadeira de uma maneira tão italiana que
paramos pra assistir, eu e o meu amigo, que continuava abraçado à
geladeira. Se Fellini passasse por ali naquele momento, teria conteúdo
para uma trilogia.<br />
<br />
Por fim, depois de longos minutos e com a discussão longe de terminar, tomei uma
decisão sobre a espreguiçadeira do Migué. Mas não vou contar antes de
quarta-feira, na area de comentários desse texto. Antes disso, gostaria
de saber: e vocês, o que fariam? </div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-68411192203625167792012-02-03T17:43:00.000-02:002012-02-04T09:05:10.419-02:00A pia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6daJ5frCOZ0U8eqdKw1x-DIbH99E1uCyUrGYfpp09FNcg-uLKK6iZnAVMpn1Yl3Ci3MRPUYSAmG3odSdHHIv0DuMkHv9_Wk7FRNKrQMj0_yvxT1WhSuO_cfm3P2YjrWOehcHEPKGry4f9/s1600/pia2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6daJ5frCOZ0U8eqdKw1x-DIbH99E1uCyUrGYfpp09FNcg-uLKK6iZnAVMpn1Yl3Ci3MRPUYSAmG3odSdHHIv0DuMkHv9_Wk7FRNKrQMj0_yvxT1WhSuO_cfm3P2YjrWOehcHEPKGry4f9/s200/pia2.jpg" width="200" /></a></div>
Na busca frenética por um apartamento pra alugar, virei rato de sites de imobiliárias, desses que colocam todos os dados sobre o imóvel, como metragem, número de quartos, vagas na garagem, valor do condomínio e demais informações que o futuro inquilino pode querer saber. Diversos publicam também fotos do apartamento em questão, para dar uma ideia do seu estado geral.<br />
<br />
Eu acho isso muito útil, muito mesmo, pois pelas imagens já dá pra descartar algumas possíveis roubadas. Mas, apesar de endossar a importância do serviço, há algo que não consegui compreender, um fato que me causou estranheza e espanto, um fenômeno repetido em grande parte das páginas dos imóveis que visitei virtualmente: muitas delas trazem fotografias da pia do banheiro. Da pia!<br />
<br />
Da primeira vez, achei que se tratasse de uma falta de habilidade da pessoa que registrou a imagem. Talvez quisesse ter dado um panorama do aposento e, sei lá, tremeu na hora do clique. Ou, quem sabe, sem querer colocou o zoom no máximo e nem percebeu. Mas depois notei que a foto da pia era recorrente em diversos anúncios. Cheguei até a procurar no Google se não havia um concurso de retratos de arte com esse tema. Mas não encontrei informações a respeito.<br />
<br />
Diacho, pensei, que fenômeno é esse? Na França, é comum não haver pias nos lavabos, o que também me intriga, pois o sujeito é obrigado a atravessar a casa com as mãos no ar para lavá-las na sala de banho (os dois ambientes geralmente são separados) ou mesmo na cozinha. Nesse caso, tais imagens se justificariam pelo fato de serem um diferencial. Valeria até uma legenda, tipo "aqui se faz, aqui se lava". Mas no Brasil isso é muito estranho…<br />
<br />
Conversando com um amigo sobre o inusitado da situação, perguntei se, enquanto estive fora, as pias haviam se tornado raras ao ponto de merecerem destaque em anúncios de apartamentos. Ele respirou fundo, deu uma bufada no melhor estilo francês e disse: "Parece que você se esqueceu de como as coisas acontecem por aqui. Essa pia é o símbolo do funcionamento dos serviços que contratamos no Brasil, principalmente no ramo imobiliário". Vendo minhas sobrancelhas franzidas e um big ponto de interrogação na minha testa, continuou: "É assim: você escolhe o apê, conversa com um corretor que é só sorrisos, tenta negociar o valor do aluguel, assina o contrato de locação, pega as chaves e se instala. Aí, um belo dia, dá um pepino qualquer, tipo um vazamento de água, e você precisa que o corretor venha te ajudar."<br />
<br />
E aí, perguntei, o que acontece?<br />
<br />
"Aí ele questiona se você não reparou na foto da pia quando decidiu alugar aquele imóvel"<br />
<br />
Eu repeti que ainda não havia entendido o que a pia tinha a ver com tudo isso. Ele me olhou com um olhar piedoso.<br />
<br />
"É muito simples: sabe o que ele vai te dizer?"<br />
<br />
Não sabia.<br />
<br />
"Que ele vai lavar as mãos pro seu problema, não pode fazer nada. Compreendeu agora?"<br />
<br />
Armado dessa informação, fui ver pessoalmente um corretor, que me mostrou imagens dos imóveis que tinha pra alugar. Assim que cheguei, avisei de antemão que não aceitava ofertas de apartamentos com fotografias de pias. Ele fingiu que não entendeu, mas percebi claramente que o havia desarmado.<br />
<div>
<br /></div>
</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-74930368595108353452012-01-27T11:29:00.000-02:002012-01-27T11:47:54.584-02:00Procura-se creche<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjITPS6ohZO98C0VN64maLjt2XhG9diO2KX6P4knfpY_0xzrC2dwlmDp_TJpQtFGNyfC149HLImzBpbsvEfzNgqjUMLmSxO9qj2fZva3yot0XQ9mkXUtGwoDyMNNTXqPJ4vobkffxcPMXDH/s1600/kid.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjITPS6ohZO98C0VN64maLjt2XhG9diO2KX6P4knfpY_0xzrC2dwlmDp_TJpQtFGNyfC149HLImzBpbsvEfzNgqjUMLmSxO9qj2fZva3yot0XQ9mkXUtGwoDyMNNTXqPJ4vobkffxcPMXDH/s200/kid.jpg" width="200" /></a></div>
- Bom dia.<br />
- Bom dia.<br />
- Sabioquié? Tô procurando uma creche para a<span class="Apple-style-span" style="color: #444444;"> <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2010/05/louise.html" target="_blank">minha filha</a></span> e me falaram muito bem de vocês.<br />
- Pois o senhor veio ao lugar certo. Sua filha vai adorar a gente. Qual a idade da pituba?<br />
- De quê?<br />
- Da tchutchuquinha, da guria, da piá, da...<br />
- Da criança?<br />
- Isso.<br />
- 1 ano e 9 meses.<br />
- Que coisa mais fofa, 21 meses de pura traquinagem, de noites mal dormidas, de cocô mole, de...<br />
- Escuta, será que a gente podia visitar o estabelecimento?<br />
- Mas só se for agora, campeão.<br />
- É agora mesmo, porque se você quiser me mostrar quando eu não estiver aqui não vai adiantar de muita coisa.<br />
- Pois bem. Esta é a maravilhosa sala de estímulos. Tem atividades pra desenvolver a criatividade, pra exercitar a lógica e pra aprender a calcular a raiz quadrada de cabeça e em menos de 5 segundos.<br />
- E ali?<br />
- Ali é o incrível laboratório de línguas. Sua filha já fala?<br />
- Um pouco. Diz umas coisas em português e em francês.<br />
- Francês?<br />
- Isso, ela é pariense.<br />
- Meu querido, francês já era, babau, ficou démodé, se é que você me entende. Paris está decadente, só interessava às pessoas nascidas no século XIX, que adoravam fazer bico, dizer “uh la la” e levantar o dedo mindinho enquanto bebiam uma taça de vinho. Hoje em dia, c'est fini. Aqui sua filha vai ter aula de inglês e espanhol de manhã, de chinês e árabe depois do almoço e noções de russo e de hindi à tarde.<br />
- Russo e hindi?<br />
- É claro. É papel dos educadores preparar a criança para o mundo globalizado. Nunca ouviu falar nos BRIC? Mas depois voltamos ao assunto, pois virando à esquerda chegamos à fabulosa horta orgânica.<br />
- Vocês plantam o que servem na cantina?<br />
- Quase isso, capitão. Quem plantam são as crianças. Elas capinam, preparam a terra, jogam as sementes, regam, espantam as pragas, colhem e lavam tudo. E depois ainda picam as cebolas pro almoço, pois eu sempre choro quando tento fazer isso.<br />
- Elas não choram?<br />
- Claro que sim, mas elas já choram o tempo inteiro, então ao menos agora têm um motivo real.<br />
- E aquela enorme caixa preta? Que treco é esse?<br />
- Mais respeito. Ali é o must. O top. The best thing in the whole damn world. Trata-se da Fantastic Black Box, única na América Latina. Há apenas 5 em todo o mundo e é claro que em Paris não tem uma dessas.<br />
- E do que se trata? <br />
- Trata-se de uma caixa sensorial. Cinco minutos ali dentro e sua filha nunca mais será a mesma. A gente liga 435 eletrodos no corpo da criança e ela vai entender na hora de onde veio e qual o seu papel na terra. Vai, inclusive, saber se passará ou não no concurso para o Senado em 2032. Assim poderá dirigir seus esforços para coisas que darão realmente certo em sua vida, sem perder tempo com bobagens que não a levarão a lugar algum.<br />
- !?<br />
- Impressionante, não?<br />
- E depois de todas essas atividades ela vai pro parquinho brincar?<br />
- Brincar?<br />
- Isso. Escorrega, trepa-trepa, gangorra.<br />
- Olha, esse tipo de coisa a gente não estimula aqui não. Imagina se ela cai e se machuca? Ou se fica presa em cima de uma árvore? A gente não saberia o que fazer. É muito arriscado, meu querido, muito arriscado.</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-75592383322315464752012-01-20T10:38:00.004-02:002012-01-21T11:59:13.533-02:00Tudo bem na rue d'Aligre<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-DV-i6tah3eTXNUGz8AJSd1exRcZNE9gKzWFvSRdgFm_yXsDJgIlnyRYXq9YNZikHcrsLtLBoMbWx-d95wiiw_p0nfKmIBV4nGDMg-4HsE5Ix-21oK7uFNIKlftpduhdep0JpZbfDlH2I/s1600/angle+rue+daligre+et+rue+crozatier+1a.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-DV-i6tah3eTXNUGz8AJSd1exRcZNE9gKzWFvSRdgFm_yXsDJgIlnyRYXq9YNZikHcrsLtLBoMbWx-d95wiiw_p0nfKmIBV4nGDMg-4HsE5Ix-21oK7uFNIKlftpduhdep0JpZbfDlH2I/s320/angle+rue+daligre+et+rue+crozatier+1a.jpg" width="320" /></a></div>Hoje de manhã, tudo ia bem na rue d’Aligre. <a href="http://www.cheriaparis.blogspot.com/2008/06/uma-volta-pelo-march-daligre.html" style="color: #444444;" target="_blank">Os feirantes disputavam os clientes matinais</a>, oferecendo a altos brados frutas e legumes locais, mexericas espanholas, mangas peruanas e limões tupiniquins. Como sempre, logo cedo tudo já estava a postos, menos a peixaria do sujeito com rabo de cavalo e cara de traficante de filme B, que é sempre o último a arrumar sua loja. Toda vez que passo em frente tenho a impressão que a polícia não vai tardar desembarcar ali após ter descoberto que o cidadão vendia atuns alucinógenos e dourados psicodélicos. Vou pedir pros amigos franceses me manterem informado do assunto.<br />
<br />
O meu barbeiro careca conversa sobre futebol com um cliente e me faz um aceno quando passo: “Salut Kaká. Você viu o jogo de ontem?”. O carinha da barraca da frente também me cumprimenta: “Bom dia, le bandit”. Paro pra papear e tentar convencê-lo pela 20a vez que o Hulk não é atacante para a seleção canarinho, que o Brandão – ídolo do Olympique de Marseille - é um tremendo perna de pau completamente desconhecido no Brasil e, mais importante de tudo, que o Maradona não chega aos pés do Pelé. As discussões futebolísticas da calçada da rue d’Aligre perderão o meu sotaque brasileiro e a minha eterna crença de que um dia bateremos a França por 6 x 0, pra descontar as últimas derrotas.<br />
<br />
Falando em sotaque, a portuguesa me dá um bom dia lisboeta, enquanto organiza na sua épicerie os salames e presuntos que vêm de sua terra natal, assim como os irresistíveis pastéis de nata, estes produzidos localmente, “para estarem sempre frescos,<span style="color: #444444;"> </span><a href="http://www.cheriaparis.blogspot.com/2009/10/guilhotina-de-lisboa.html" style="color: #444444;" target="_blank">ô pá</a>”. A tunisiana da padaria pergunta se eu quero a <i>tradition avec céreales</i>. Respondo sim com a cabeça. Ela entra por uma porta e volta com uma baguete quentinha: “Acabou de sair.<span style="color: #444444;"> </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2010/05/louise.html" style="color: #444444;" target="_blank">Louise</a> vai adorar”. Agradeço, pago e tiro um naco. Louise reclama e dou pra ela. “Tá quente, Loulou, sopra antes de comer”. “Chaud, papa, chaud”. Tiro outro pedaço, dessa vez pra mim.<br />
<br />
Peço ao dono da minha cave à vins preferida para embalar duas boas garrafas pra viagem. “É hoje que você vai?”. “Não, domingo”. “Boa sorte, vai dar tudo certo”. “Merci, mec, mando um postal de lá”. Ao fromager solicito um pedaço de velho comté e um do troll, “un fromage formidable, feito exclusivamente por um pequeno produtor, aposto que não tem nada parecido no Brasil”.<br />
<br />
Esbarro por acaso na<span style="color: #444444;"> </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2007/04/tagarelice-francesa.html" style="color: #444444;" target="_blank">Edith, que começa instantaneamente a falar</a>. “Tá feliz de partir, Daniel? É pra Brasília que você vai? Manda um abraço pros seus pais. Manda também pros seus irmãos. Manda logo pra toda a família de uma vez. É verão por lá? Que sorte a sua. A gente congela nesse inverno europeu. Não sei como você aguentou tanto tempo. Eu adoraria ir ao Brasil. Minha avó nasceu em São Paulo. Uma vez eu tomei guaraná Antártica. Copacabana é linda pela televisão. Etc e tal. Foi ótimo conversar com você. Não deixe de dar notícias. Beijos grandes”.<br />
<br />
Continuo meu périplo até o estande onde compro meus legumes. “Salut le brésilien. Tudo bom?”, grita um dos vendedores. “Salut les marrocains. Tudo, e vocês?”. O diálogo em português termina aí. Escolho uma fatia de abóbora e dois alhos porós e ganho um ramo de salsa de presente. “Choukran", agradeço, gastando todo o árabe que sei. "Não se esqueça de voltar pra nos visitar". "Pode deixar, em breve tô por aqui". "Incha’Allah!".<br />
<br />
Hoje de manhã, tudo ia bem na rue d’Aligre, como tem sido desde sempre, com seus personagens mudando constantemente, chegando cheios de histórias pra contar e indo embora com tantas outras mais.<br />
<br />
<br />
--<br />
<i>Caros amigos.<br />
<br />
O blog segue até fins de março, quando completa 5 anos, já trazendo minhas primeiras impressões do retorno ao Brasil. Depois ele pára de ser atualizado. Em abril retomo a vida de blogueiro, com um projeto completamente diferente. Até lá, nos vemos por aqui. Abraços!</i></div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-10412606068645021592012-01-13T17:22:00.003-02:002012-01-13T17:24:12.130-02:005 anos, 7 haicais<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4Pox0i4xpwNmgHnnDoMxGUvP-o6aKj8w3WKPJRJPQM5_-jYpGeqGQbhV-uoUiz6ZMytH3RW-mzZGTl4LltmgEB0vgSVzj688wzdlxnI0h4yHbOL8bLJMDGO23mva8Mf5X11HcqF6r2WqT/s1600/haiku.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4Pox0i4xpwNmgHnnDoMxGUvP-o6aKj8w3WKPJRJPQM5_-jYpGeqGQbhV-uoUiz6ZMytH3RW-mzZGTl4LltmgEB0vgSVzj688wzdlxnI0h4yHbOL8bLJMDGO23mva8Mf5X11HcqF6r2WqT/s200/haiku.jpg" width="200" /></a></div><b>Bonjour</b><br />
Falar certinho<br />
Essa língua francesa:<br />
Só com <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2007/11/bico-chato.html" style="color: #444444;" target="_blank">biquinho</a>?<br />
<br />
<b>Potin</b><br />
A tagarela<br />
<a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2007/04/tagarelice-francesa.html" style="color: #444444;" target="_blank">Da Edith</a> se ouve da<br />
Minha janela<br />
<br />
<b>Froid</b><br />
Hoje tava <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2009/01/praa-da-bastilha-5c.html" style="color: #444444;" target="_blank">frio</a><br />
No domingo congela<br />
Brasil? Avalio<br />
<br />
<b>Des faux adieux</b><br />
Je quitte Paris<br />
Já que tu não quiseste<br />
Também não te quis<br />
<br />
<b>Naissances</b><br />
<a href="http://www.danielcariello.com.br/blog/2011/07/tese-de-mestrado-trois-petites-notes-de-musique/" style="color: #444444;" target="_blank">A tese</a> em francês<br />
É mais complicada que<br />
Cuidar de <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2010/05/louise.html" style="color: #444444;" target="_blank">bebês</a><br />
<br />
<b>Grossir</b><br />
<a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2011/02/genuino-franco-critico-rangonomico.html" style="color: #444444;" target="_blank">Comer</a> não cansa<br />
Problema é depois, quando<br />
Surge uma pança<br />
<b><br />
Adieu, Paris.</b><br />
À bientôt? Pra valer?<br />
Será que da próxima vez<br />
Vamos nos reconhecer?<br />
<br />
<br />
--<br />
<i>Caros amigos.<br />
<br />
Volto ao Brasil em breve. O blog segue até fins de março, quando completa exatamente 5 anos, já trazendo minhas primeiras impressões do retorno ao país. Depois ele pára de ser atualizado, mas continua no ar.<br />
<br />
E já em abril retomo a vida de blogueiro, com um projeto completamente diferente. Enquanto isso, continuamos a nos ver por aqui. Abraços!</i><br />
<br />
</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-76580482463225169182012-01-06T14:29:00.028-02:002012-01-07T07:30:57.882-02:00Carta a Vinícius<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU60oPyYHgVSfbYrGAW_iA-HdEQVJMB-fY-Dpc1a8jcyrTCu5AzhqeG1wy5SnWxIjEgjVskG0oYUO8W26IL1AoKrK002G0FYGTrOgTdTQ_XCbisOxLC4Czvp4qlp_mlKBecuFAtdoXO8R3/s1600/PC094875.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU60oPyYHgVSfbYrGAW_iA-HdEQVJMB-fY-Dpc1a8jcyrTCu5AzhqeG1wy5SnWxIjEgjVskG0oYUO8W26IL1AoKrK002G0FYGTrOgTdTQ_XCbisOxLC4Czvp4qlp_mlKBecuFAtdoXO8R3/s400/PC094875.jpg" width="400" /></a></div>--------<br />
Enquanto lê o texto, escute <a href="http://www.viniciusdemoraes.com.br/discografia/sec_discogra_view.php?id=583" style="color: #444444;" target="_blank">Carta ao Tom</a>, do álbum Vinicius & Caymmi no Zum Zum<br />
<br />
<left><embed allowfullscreen="false" flashvars="&file=http://www.danielcariello.com.br/wp-content/uploads/2012/01/carta.mp3&height=18&width=305&showeq=false&autostart=false&repeat=false&shuffle=false&volume=100" height="18" src="http://s391.photobucket.com/albums/oo352/tarunsureja/fun4all/mediaplayer.swf" width="304"></embed></left><br />
--------<br />
<br />
Paris, 6 de janeiro de 2012.<br />
<br />
Vinícius querido,<br />
<br />
Estou aqui no meu escritório, que é a sala da minha casa, que dá para o jardim do pátio interno que nunca é frequentado por viv’alma.<br />
<br />
É meio dia em ponto, e o banzo lentamente se instala em mim, prenúncio das mudanças iminentes. Passo longos minutos olhando para o nada que entra pela janela e é impossível alguém estar mais reflexivo do que eu. Nesta hora, decido escrever essa carta e mesmo que nunca a envie tenho certeza de que você irá recebê-la onde estiver e entenderá o que estou sentindo.<br />
<br />
Estamos deixando Paris pra trás, depois de quase cinco anos de uma relação tortuosa com a cidade. Paris é exigente, só aceita amor incondicional. E eu não fui capaz de dá-lo no início da minha jornada, por não enxergar meu reflexo nas águas do Sena como o via na praia de Ipanema ou no lago Paranoá. Por isso muitas vezes me tranquei em mim mesmo e não foram poucos os dias em que não pus os pés fora de casa, principalmente quando o inverno me obrigava a vestir múltiplas camadas de roupa e de isolamento. Você já passou um inverno inteirinho sonhando com o sol do nosso país? É dose, Poetinha.<br />
<br />
Quando levantei a cabeça, descobri finalmente os encantos dessa linda moça: os parques e canais e construções e monumentos, as padarias cheias de baguetes e de croissants irresistíveis, o confit de canard que dissolve na boca seguido de um gole de um bom cahors, o metrô que costura a cidade por baixo e os ônibus e bicicletas que a revelam em sua superfície, o cremoso do vacherin fresco e o perfume do comté velho, as flores da primavera e as cores do outono, o calor do verão e a neve do inverno. Acabei aprendendo que até o inverno tem seu charme, veja só.<br />
<br />
E aí, meu caro Vinícius, quando percebi j’étais tombé amoureux de cette dame. Paris te conquista de mansinho, sem que você perceba. Ela não tem pressa, como não têm pressa as mulheres cientes de sua própria beleza, que desfilam lentamente diante de nossas retinas. E nós não temos outra escolha a não ser contemplá-las.<br />
<br />
É verdade que estou doido para encontrar a família e os amigos do lado de lá do Atlântico, mas sentirei saudades dos que ficam por cá e dos encontros inimagináveis que só Paris é capaz de proporcionar. Veja você que tive a sorte de conversar sobre literatura com o Verissimo, sobre cidades com o Henry-Pierre Jeudy, sobre filosofia com o Lipovetsky e voltei a calçar chuteiras para bater umas boas<span style="color: #444444;"> </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2009/09/para-estufar-esse-filo.html" style="color: #444444;" target="_blank">peladas com o Chico</a>. Fiquei até amigo do Philippe, filho mais velho do seu companheiro e <a href="http://www.danielcariello.com.br/2011/07/edicao-especial-musica%C2%A0%C2%A0%C2%A0brazuca/" style="color: #444444;" target="_blank">parceiro Baden</a>, o que me fez sentir que conheci um pouco você, por tabela.<br />
<br />
Poetinha, quando eu chegar a Brasília, vou correr no Xique-Xique e pedir uma carne de sol completa com mandioca bem molinha, feijão de corda, paçoca e muita manteiga, acompanhada de uma cerveja estupidamente gelada. Vou me dar uma boa dose de brasilidade, que afinal é o motivo principal da nossa volta para minha terra natal.<br />
<br />
E mais tarde, em casa, irei desembrulhar cuidadosamente o pedaço de comté que certamente levarei e hei de degustá-lo morosamente, em trevas totais, pensando apenas na amada Paris.<br />
<br />
Daniel</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-79261400123618873752011-12-30T18:06:00.000-02:002011-12-30T18:06:44.179-02:00Que tudo se realize<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-KutzJh5TkpA/Tv4ZE8fSK8I/AAAAAAAABOE/Qlqv0zRcDSU/s1600/bucket-list.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="133" src="http://3.bp.blogspot.com/-KutzJh5TkpA/Tv4ZE8fSK8I/AAAAAAAABOE/Qlqv0zRcDSU/s200/bucket-list.jpg" width="200" /></a></div>Cada um sabe das suas resoluções de ano novo.<br />
<br />
Paciência<br />
- “Em 2012, prometo ser mais paciente com os outros. Prometo também...”<br />
- Querido, será que você poderia me vir aqui pra...<br />
- NÃO! Agora não posso ir aí. Não posso ir ali. Não posso ir a lugar nenhum. Mas você podia aproveitar e ir pro diabo que a carregue.<br />
- ...<br />
- Onde eu estava mesmo? Ah, era “prometo ser mais paciente com os outros”. <br />
<br />
Inveja<br />
- “Em 2012, prometo ser menos invejosa. Vou deixar pra trás, de uma vez por todas, esse sentimento tão mesquinho. E eu espero do fundo do meu coração que aquela perua que mora na cobertura com piscina no prédio ao lado tome a mesma resolução. Aquela oxigenada e siliconada é a inveja em pessoa. Toda vez que ela pára o seu Mercedes conversível novo em folha ao lado do meu Chevette 82, no sinal, consigo ver claramente nos seus olhos azuis (que, aposto, são lentes) o seu desejo de possuir tudo o que eu tenho e ela não pode ter. E aposto que o seu novo namorado, o sósia do Brad Pitt, pensa a mesma coisa dessa desclassificada.”<br />
<br />
Solidariedade<br />
- Vamos lá, escrever pra ficar registrado: “Em 2012, prometo ser mais solidária.”<br />
- Benzinhô.<br />
- Oi?<br />
- Minha mãe ligou pedindo ajuda pra preparar a ceia de amanhã. <br />
- Por que eu? Ela não pode se virar sozinha? E a sua irmã, não pode ir? E você?<br />
<br />
Saúde<br />
“Em 2012, prometo cuidar mais da minha saúde. É a melhor resolução que poderia ter. Realmente, nada como duas cervejinhas e uma pitada num cigarrinho pra clarear as ideias.”<br />
<br />
Preguiça<br />
“Em 2012, prometo ser menos preguiçoso e nunca mais deixar as coisas inacab</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-36195112580041076722011-12-23T17:06:00.006-02:002011-12-23T19:49:16.560-02:00Cher père Noël<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-jGRDRXBbLfU/TvTQERwOfRI/AAAAAAAABN4/a3IPDCnqeJA/s1600/crying-on-Santas-lap.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://1.bp.blogspot.com/-jGRDRXBbLfU/TvTQERwOfRI/AAAAAAAABN4/a3IPDCnqeJA/s200/crying-on-Santas-lap.jpg" width="168" /></a></div>Cher père Noël,<br />
<br />
Eu ia escrever essa cartinha em polonortês, mas pensei bem e decidi fazer em francês mesmo, porque assim você vai treinando a língua para não fazer mais bobagens como a do ano passado, lembra? Eu enviei uma carta caprichada contando o meu comportamento exemplar, as boas ações, as notas na escola e até o dia em que dividi meu sorvete de chocolate com a minha irmã mais nova, que aliás não merecia nem um pouco, aquela pirralha chata. E no fim, pra provar como sou um bom garoto, pedi um único presente, pra me esquentar no inverno: um tecido de lã pra cobrir o <i>cou</i>. Acontece que você me trouxe um pano pra tapar o <i>cul</i>.<br />
<br />
Putain, père Noël, t’es vraiment con! Cachecol não tem nada a ver com cueca. O <i>cou</i> fica em cima. O que fica em baixo é o <i>cul</i>. <br />
<br />
Como você vem à França há tantos séculos, imaginei que já soubesse falar nossa língua, na qual foram escritos vários clássicos da literatura, do cinema, do teatro e da música ruim. Mas, não, você prefere se comunicar em inglês, né? Você não passa é de um subproduto da Coca-Cola, um emissário do Tio Sam, um assecla do Mickey Mouse.<br />
<br />
E se você pensa que essa é a carta de um menino mimado de classe média que está esperneando porque não ganhou presente, devo dizer que você está totalmente certo, coroa. O que você não sabe é que eu, Jean-Pierre, 7 anos, não estou sozinho, e escrevo esta na condição de presidente da associação Vítimas Enganadas e Lesadas pelo Homem da Barba Branca, a VELHO Barbaca.<br />
<br />
A VELHO Barbaca é composta por mim, pelo meu irmão mais velho que está fazendo musculação e pelo Jacques Dupont, nosso vizinho, para quem você tem dado uma caixa de frutas cristalizadas todos natais, todos os anos. O Jacques Dupont detesta frutas cristalizadas (aliás, quem é que gosta?). Ele já te enviou não sei quantas cartas, pedindo candidamente para ganhar outra coisa. E você, o que fez? Ignorou os apelos do pobre coitado. Ou então não entendeu o que ele escreveu, o que não me surpreenderia nem um pouco.<br />
<br />
Fique sabendo, père Noël, que estamos organizando uma<span style="color: #444444;"> </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2008/04/protesto.html" style="color: #444444;" target="_blank">manifestação</a> para a noite do dia 24 de dezembro. Mandamos pintar faixas com slogans contra você (e contra o presidente Sarkozy, para conseguirmos mais adesões) e já temos até uma palavra de ordem:<br />
<br />
<i>“Père Noël, bonzinho uma ova!</i><br />
<i>Se eu te encontrar acabo dando aquela sova”</i><br />
<br />
Fica ligado! Ou o meu irmão vai dar um jeito de moldar um <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2007/11/bico-chato.html" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="color: #444444;">biquinho francês</span></a> na sua boca. <br />
<br />
Des bisous!<br />
<br />
Jean-Pierre</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-49616518410544460382011-12-16T16:16:00.003-02:002011-12-20T18:15:49.661-02:00Crônica circular<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-pSWngSA1XeD774bqZohfi4Tgkg1A2IEbk5k4zOr8BMjtsk1cVYIukKPk1hqZRBJUgtjijXS4a6rMA6dI3FblXF_ubjYxqwalfwGayGFWRH3-KH3BJ-bXPDAbXkMUTUysxhIpQgBmz4pO/s1600/bus80.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-pSWngSA1XeD774bqZohfi4Tgkg1A2IEbk5k4zOr8BMjtsk1cVYIukKPk1hqZRBJUgtjijXS4a6rMA6dI3FblXF_ubjYxqwalfwGayGFWRH3-KH3BJ-bXPDAbXkMUTUysxhIpQgBmz4pO/s200/bus80.jpg" width="200" /></a>Um plano que tinha desde que cheguei a Paris, e nunca havia realizado, era pegar um ônibus qualquer e ir até o final da linha. Sem o objetivo de chegar a lugar nenhum, apenas para observar as pessoas subindo e descendo, andando nas ruas, conduzindo seus carros. Hoje decidi fazê-lo, na esperança de no caminho encontrar um bom assunto para uma crônica.<br />
<br />
Saio de casa, subo no ônibus 29 e sento ao lado de uma mulher que lê o Le Monde. Saco meu moleskine para anotar o que me chama a atenção. Escrevo “Ópera Bastille, vovô” quando passamos pela ópera da Bastille, que <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2009/05/guynemer.html" target="_blank"><span style="color: #444444;">meu avô</span> </a>condenou para todo sempre, classificando-a como uma “ópera de 2a categoria, onde se apresentam artistas de 2o nível, para um público de 2o escalão”. Sendo ele um conhecedor no assunto, nunca ousei discordar.<br />
<br />
O 29 devia ir até as<span style="color: #444444;"> </span><a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2010/11/autour-de-paris-ix-les-galeries.html" style="color: #444444;" target="_blank">(infernais) Galeries Lafayette</a>, mas pára na altura da Ópera Garnier. A ópera original de Paris, construída no século XIX, que serviu de inspiração para o Theatro Municipal do Rio e, o mais importante de tudo, sempre recebeu a aprovação do meu avô: “Essa vale a pena visitar, ao contrário daquela coisa horrível da Bastilha”. <br />
<br />
Como não achei ainda um tema interessante para um texto, decido pegar o 80, que corta a cidade de norte a sul. Uma linha que passa por lugares a mim estranhos e me traz a sensação – que adoro - de estar perdido em uma cidade que já conheço bem. <br />
<br />
Só me situo quando já estamos perto do Champs-Élysées, que exibe garboso sua iluminação de Natal, como toda Paris nesse momento. Anoto "Champs-Élysées, luzes" e admiro o cartão postal por alguns instantes, mas minha atenção é logo desviada para o senhor da minha frente, que confere no jornal o resultado da loto. “Não ganhei, droga. Quem sabe da próxima vez?”. <br />
<br />
O 80 atravessa o Sena pela ponte d’Alma, de onde se tem uma visão fantástica da torre Eiffel, e continua o trajeto habitual, que o leva várias vezes por dia, todos os dias do ano, à porta de Versailles. Desço na École Militaire, ainda sem a minha história, e pego o 87. Sento na janela, perto de um casal oriental que conversa animadamente, de uma mãe que fala em inglês à filha e de uma senhora que abre e fecha sem parar um livro de Michel Houellebecq. <br />
<br />
O 87 passa por trás dos <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2010/11/autour-de-paris-vii-les-invalides.html" style="color: #444444;" target="_blank">Invalides e sua bela cúpula dourada</a>. Depois, faz uma curva e vai em direção à <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2010/12/autour-de-paris-xv-torre-montparnasse.html" style="color: #444444;" target="_blank">monstruosa torre Montparnasse</a>. Escrevo "Invalides x Montparnasse". Em seguida, vira novamente, sai costurando pequenas ruas e tangencia o Bon Marché, onde posso observar as decorações natalinas, os clientes entrando sem nada e saindo cheios de sacolas, as pessoas pedindo esmolas e doações e principalmente os transeuntes, que passam sem se importar nem um pouco com todo o burburinho.<br />
<br />
Desço na Gare de Lyon, com frio e frustrado por não ter encontrado fatos extraordinários pelo caminho, apesar de estar em uma das mais deslumbrantes cidades do mundo. Tudo o que pude ver foi a vida normal correr para pessoas tão normais quanto eu. Paro e penso sobre isso. E nesse instante, e pela primeira vez desde que cheguei aqui, há quase 5 anos, sinto-me um parisiense, apesar de sempre ter inconscientemente me recusado a ser um. <br />
<br />
Um pouco atordoado, entro em um bar e peço um café expresso. O garçom me serve e pergunta se quero açúcar. Olho pra ele e digo que “non, merci”, enquanto retiro o sobretudo e o cachecol. </div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-39938284804357922732011-12-09T17:20:00.000-02:002011-12-09T17:20:20.192-02:00Tudo na vida é passageiro<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAgC2FeYIfII4PRSA0NHAx-6KFqgej7mAkN88yBpe6z2mF1aFTPGytw9u7uWIVSgecLyFD3MbFqQohKJrCLKfcDkObNVNjuShBMtEDWnd4T6GqxqcCn5Nl7v4Nau0BNO-1BjVqWXhs_n_B/s1600/taxi.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAgC2FeYIfII4PRSA0NHAx-6KFqgej7mAkN88yBpe6z2mF1aFTPGytw9u7uWIVSgecLyFD3MbFqQohKJrCLKfcDkObNVNjuShBMtEDWnd4T6GqxqcCn5Nl7v4Nau0BNO-1BjVqWXhs_n_B/s200/taxi.jpg" width="200" /></a></div>Francês adora discutir, mas detesta perder a classe.<br />
<br />
- <a href="http://cheriaparis.blogspot.com/2007/08/txi-txi_7710.html" style="color: #444444;" target="_blank">Táxi!</a><br />
- Ei, ele é meu.<br />
- Não, é meu, eu vi primeiro.<br />
- Você viu primeiro, mas fui eu que chamei antes.<br />
- Você chamou antes, mas eu já pensava em chamá-lo há tempos, mesmo antes dele aparecer. Táxi em Paris é tão raro quanto um sorriso.<br />
- Agora é tarde, é meu.<br />
- Eu não vou sair da frente.<br />
- Ah, vai sim. Senão eu bufo.<br />
- Pois eu sei bufar também, ó: buffff.<br />
- Se é assim, eu digo: você é chato!<br />
- Oh!<br />
- E repito: chato, cha-tão!<br />
- Pois prepare-se que agora vou te ofender pra valer.<br />
- Estou preparado.<br />
- Você é um limitado.<br />
- E você é um tolo.<br />
- Tolo, eu? Melhor do que ser um inútil.<br />
- Prefiro ser inútil do que um bobalhão como o que vejo na minha frente.<br />
- E eu...<br />
- Ei, olha, aquela mulher acabou de entrar no nosso táxi e ele arrancou. Foi embora.<br />
- Zut.<br />
- Buffff.<br />
- Outro táxi a essa hora vai ser impossível.<br />
- Vai mesmo.<br />
- Não tenho mais escolha, vou voltar pra casa andando, sob a chuva.<br />
- Pra que lado você vai?<br />
- Bastille.<br />
- Vem aqui, vamos dividir meu guarda-chuva. Eu vou pro mesmo lado.<br />
- Merci. Você até que é um cara bacana.<br />
- Você também é gentil. Ao contrário daquela senhora sem classe que roubou o meu táxi.<br />
- Seu? Era meu.<br />
- Coisa nenhuma, eu vi primeiro.<br />
- Viu, mas fui eu que chamei.<br />
- Chamou de metido que é, pois eu pensei em chamá-lo antes.<br />
- Você é mesmo um bobo.<br />
- Pelo menos não sou besta.<br />
- Ei, estúpido, não mexe esse guarda-chuva, tô me molhando.<br />
- Quieto, reclamão.<br />
</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-55041554805351814362011-12-02T15:12:00.001-02:002011-12-02T15:19:32.370-02:00Está claro?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfBzznuvWd94oU_2tmmlsQNBZRTWRSc5iSRij-82HDWhLZEZiN22dGRpvDrPbRep2Xd-MXo65zPPInDs3hvIoKyS0hD-F5nkuKZuBwbEaGFC4_sNoDF890-J4q45xyS_VQ9QysN5EBCNPf/s1600/gardienne.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="118" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfBzznuvWd94oU_2tmmlsQNBZRTWRSc5iSRij-82HDWhLZEZiN22dGRpvDrPbRep2Xd-MXo65zPPInDs3hvIoKyS0hD-F5nkuKZuBwbEaGFC4_sNoDF890-J4q45xyS_VQ9QysN5EBCNPf/s200/gardienne.jpg" width="200" /></a></div>No meu prédio não tem síndico, mas uma empresa responsável pela limpeza e manutenção das áreas comuns do edifício, que, por sua vez, emprega dois guardiães, executores dessas tarefas.<br />
<br />
Há também um conselho sindical, incumbido de contratar essa empresa e de organizar as reuniões de condomínio. Estas, juntamente com a benzetacil, estão entre as coisas das quais mais tenho medo na vida. Felizmente, até hoje consegui evitar contato com ambas. <br />
<br />
Acontece que o conselho sindical decidiu demitir os guardiões do prédio (vejam só, sempre quis mostrar pra todo mundo que conhecia os dois plurais de guardião, e eis que a chance se apresenta. Aproveito para mandar um beijo para a Aliete, minha professora de português da 6a série, que aplicava provas infernais, cujas análises sintáticas e semânticas até hoje me dão pesadelos).<br />
<br />
Bom, mas como eu dizia, o conselho sindical resolveu que era hora de pirulitar o casal que cuida do imóvel e desempenha tarefas básicas e necessárias, como limpar as lixeiras, varrer o chão e tratar mal os desconhecidos. E para anunciar a novidade, colou um aviso na entrada do edifício. A acusação: o par não prestara um serviço a uma habitante em dificuldade.<br />
<br />
Furioso, o casal rebateu também com um papel, pregado ao lado do primeiro. Nele, dizia que não haviam não prestado o serviço, que seria o mesmo que dizer que haviam prestado, mas é completamente diferente.<br />
<br />
O conselho sindical não tardou a responder que sim, os dois haviam não prestado o serviço e por isso estavam sendo justamente despejados.<br />
<br />
Os guardiães/ões mais uma vez retrucaram, afirmando enfaticamente que não era verdade que sim, eles haviam não prestado o tal serviço. O real ocorrido, segundo eles, era sim, eles não haviam não prestado.<br />
<br />
O conselho sindical subiu nas tamancas e preparou mais um aviso, que foi posto ao lado dos outros e transformou a entrada do prédio em uma galeria de arte abstrata. Nele, atestava que tinha provas irrefutáveis de que não era a realidade que o casal não havia não prestado o serviço. E que a atitude dos dois, em um país como a França, era o mesmo que sim, prestar um desserviço.<br />
<br />
A questão ainda está longe de terminar e é provável que logo ela pare na justiça. Mas talvez antes deva parar em um gramático e um lógico. Pelo menos pra que fique claro o que aconteceu. Ou pra que não fique claro o que não aconteceu. Ou pra que fique escuro o que...</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4606298215904907023.post-89542099727012471212011-11-25T13:46:00.002-02:002011-11-25T16:11:47.214-02:00C’est pas normal<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeebCUEmSxhfd318bsCBkTIaVmcCVmqfQX33rRR4jvFdhWqh1vGHRaUSA-grqhrotnguVO6bcazMAa2dGqFbSczf_ZXvzjPku1TWK2E9MDwZSp_ZqLDBO6RKhxmMDd_Hw84KtekcQ9Tjw8/s1600/tarte.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeebCUEmSxhfd318bsCBkTIaVmcCVmqfQX33rRR4jvFdhWqh1vGHRaUSA-grqhrotnguVO6bcazMAa2dGqFbSczf_ZXvzjPku1TWK2E9MDwZSp_ZqLDBO6RKhxmMDd_Hw84KtekcQ9Tjw8/s200/tarte.jpg" width="146" /></a>“Ce n’est pas” e sua abreviação “c’est pas” significam “não é” em português. Ou deveriam significar. Só que nem sempre é assim. <br />
<br />
. “C’est pas mal” literalmente quer dizer “não é ruim” e na verdade significa que é bom.<br />
. “C’est pas si mal” literalmente quer dizer “não é tão ruim” e na verdade significa que é muito bom.<br />
. “C’est pas mal du tout” quer dizer “não é nada ruim” e é o maior elogio que você pode receber de um francês.<br />
. “C’est pas cher” literalmente quer dizer “não é caro” e na verdade significa que é bem barato.<br />
. “C’est pas terrible” literalmente quer dizer “não é terrível” e na verdade significa que é muito terrível.<br />
. “C’est pas un sauvage” quer dizer “não é um selvagem” e é comumente usado para falar de alguém, vejam só, muito bem educado.<br />
. “C’est pas grave” literalmente quer dizer “não é grave” e na verdade significa que você acabou de fazer algo bem grave.<br />
<br />
E aí outro dia eu fui conversar com um amigo sobre essas curiosidades.<br />
<br />
- Fernando.<br />
- Pois não?<br />
- Já parou pra pensar nessas expressões? E depois os franceses acham que os brasileiros complicam a língua, invertendo o sentido das palavras. <br />
- Os brasileiros é que invertem? Pois sim...</div>Chérihttp://www.blogger.com/profile/05589445333479894627noreply@blogger.com3